Essa deve ser a explicação para ainda haver tanta gente [3] favorável a mais guerras, políticos e jornalistas, [4]que não se cansam de repetir que o país está(ria) cansado de saber que, sim, o Irã está(ria) construindo armas nucleares. E, por causa dessa martelação incansável, há pesquisas que mostram que muitos norte-americanos creem piamente que, sim, o Irã está(ria) construindo as tais armas.
Nada, contudo, mais longe da verdade. Apesar de matéria, semana passada, no New York Times [5] sobre a usina Fordo, no Irã, insistir ainda em criar o fantasma de um Irã nuclear, a verdade é que: (a) a Agência Internacional de Energia Atômica [6] e (b) todo o aparato de inteligência dos EUA já disseram que não há prova alguma, até agora, de que o Irã esteja construindo armas nucleares.
Mapa aerofotogramétrico de instalações nucleares do Irã
O próprio Times [7] informava, há alguns meses, sob a manchete “Agências da inteligência dos EUA não veem qualquer movimento na direção de o Irã construir armas nucleares”; e o jornal também informava que “avaliação feita pelas agências de espionagem dos EUA confirmam amplamente informes de 2007, segundo os quais o Irã abandonou, já, há anos, seu programa de armas nucleares”. Na sequência, o mesmo Times acrescentava que “essa avaliação foi amplamente reafirmada num [documento] 2010 National Intelligence Estimate; e permanece como avaliação consensual das 16 agências de inteligência dos EUA”.
Nos meses vindouros, à medida em que a ideia de guerra plena contra o Irã vai-se tornando mais real e mais central na política dos EUA, essas informações de inteligência provavelmente serão desmentidas. Simultaneamente, muitos começarão a perguntar-se por que os EUA estarão iniciando mais uma guerra “preventiva” no Oriente Médio, se os espiões norte-americanos são tão incompetentes e nossa inteligência tão trapalhona.
O debate, se chegar a esse ponto, conseguirá, provavelmente, corroer ainda mais o já menos que morno apoio que tem hoje a guerra com o Irã. O que nos levará de volta ao problema inicial dos políticos pró-guerra – como conseguirão continuar a defender a ideia de mais guerra?
Como já apareceu em recente entrevista com um dos principais congressistas da Comissão de Segurança Nacional, a resposta é: eles farão o diabo para convencer o país de que guerra não é guerra, recurso sempre útil quando não há argumento que ajude a promover guerra altamente impopular. É o que já se vê nesse vídeo da CNN, pouco divulgado, de entrevista com o presidente (Republicano) da Comissão de Inteligência da Câmara de Deputados Mike Rogers. [8]
Mike Rogers
Como ThinkProgress alerta [9], a única notícia, naquele vídeo, é que Rogers começa a introduzir na discussão geral um argumento vicioso, a saber: que bombardear o Irã nos levará “a um passo da guerra”.
Vê-se aí uma tendência perturbadora, porque esse linguajar orwelliano é assustadoramente semelhante ao usado pelo governo Obama, quando tentava convencer a nação de que a guerra da Líbia não seria guerra. Daquela vez, a palavra-golpe foi “ação militar cinética” [10]; agora, passaríamos a viver “a um passo da guerra”. Mas nos dois casos as palavras têm o significado que têm em discursos à moda 1984 de Orwell: guerra é paz ou, no mínimo, não é guerra-guerra-mesmo-prá valê.
O motivo superevidente desse golpe de mão é conseguir capar completamente qualquer participação democrática, nas decisões sobre segurança nacional – um dos ideais sempre presentes entre os princípios fundantes da democracia norte-americana. Afinal de contas, se a guerra já não está classificada como guerra... o presidente fica dispensado até de fingir que precisa de autorização do Congresso – que a Constituição exige – para envolver o país em conflitos militares.
A exigência de que o Congresso autorize ou não o presidente a envolver o país em guerras foi incluída na Constituição, desde o início, especificamente para assegurar que haja, pelo menos, algum debate público, nas decisões sobre guerra e paz. Mas... se já não se fala oficialmente de “guerra”, Washington pode fazer o que dê na telha de alguém lá, sem sequer ser obrigada a perguntar se o país quer o mesmo que Washington quer.
Redecastorphoto
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