Romney e Obama discordam em questões como assistência pública à saúde, emprego, orçamento militar e impostos, mas partilham o mesmo ponto de vista no que tenha a ver com prolongar a oposição ao Irã e ao programa nuclear iraniano para finalidades pacíficas. O próximo presidente dos EUA será anunciado dentro de algumas horas; pode-se dizer que qualquer dos candidatos que seja eleito será hostil ao Irã, como todos os presidentes dos EUA que estiveram no cargo desde a vitória da Revolução Islâmica em 1979A avaliação segue linhas previsíveis. Mas, de fato, o que importa no comentário iraniano deve ser lido nas entrelinhas. A principal entrelinha é que o comentário rebate a acusação de Mitt Romney, de que Obama seria “soft” [suave, frouxo] contra o Irã. Dito em outras palavras, o comentário não compromete as credenciais de Obama, nem suas chances eleitorais
Claro: uma vitória de Romney será golpe duro de assimilar para o Irã, e quase com certeza significará o fechamento do canal oculto de contato que parece estar em operação entre Washington e Teerã. Mês passado, o New York Times [2] revelou que há contatos secretos entre Washington e Teerã e que conversações diretas podem começar no instante em que se concluam as eleições presidenciais.
Por falar nisso, um jornal israelense de grande circulação popular, Yedioth Ahronoth publicou matéria na 2ª-feira, em que identifica uma advogada de Chicago, nascida na cidade iraniana de Shiraz e hoje conselheira de Obama, Valerie Jarrett, como peça chave do lado norte-americano nas comunicações com os líderes iranianos em reuniões secretas no Bahrain há vários meses.
Enriquecimento de urânio a 20% é essencial para uso civil
Al-Arabiya também noticiou no domingo [3] que o Irã suspendeu o enriquecimento de urânio a 20% como gesto “de boa vontade”, ante a aproximação do início de conversações, dentro do formato P5+1, previsto para o final de novembro. E, isso, logo depois de notícias persistentes de que Ali Akbar Velayati, alto conselheiro do Líder Supremo do Irã Aiatolá Ali Khamenei, tivera reuniões com funcionários da ONU sobre a questão nuclear.
Velayati é figura chave do establishment da política externa do Irã (foi Ministro de Relações Exteriores do Irã, por dez anos) e, se o noticiário é verdadeiro, o processo já envolve os líderes iranianos de mais alto nível. É muito possível um acordo que permita ao Irã enriquecer urânio a baixos níveis e sob rigorosa inspeção.
E até Israel já entrou em cena. Há bons sinais, dado que, segundo matérias recentes, funcionários e diplomatas iranianos e israelenses já estão trabalhando em torno da mesa de negociações, [4] em atmosfera de contato entre empresários, longe de qualquer publicidade; o objeto dessas discussões é a eliminação de todas as armas nucleares em todo o Oriente Médio. Nada disso jamais aconteceria, se o governo Obama não tivesse oferecido forte encorajamento.
Um acordo com o Irã [5] poderia fazer do segundo mandato de Obama algo realmente novo e transformador, não só em termos de desarmar um ponto potencial de conflito altamente perigoso para a segurança internacional, mas, também, em termos de pôr sobre novas bases as relações entre os EUA e o Oriente Médio Muçulmano. E, se o processo levar a uma conferência internacional para que se estabeleça uma zona livre de armas de destruição em massa no Oriente Médio, será passo significativo na direção de implementar a agenda de não proliferação nuclear, que Obama sempre acalentou como possível legado de seu governo.
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