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domingo, 11 de novembro de 2012

Rússia - França - Caças e embargo na rota de Dilma

Na viagem que fará à Europa, em dezembro, presidente vai enfrentar temas comerciais delicados, como a compra de aviões para a FAB e o embargo da Rússia à carne brasileira

As embaixadas brasileiras em Paris e Moscou já fecharam praticamente todos os detalhes da visita da presidente Dilma Rousseff, em dezembro, à França e à Rússia. Em Paris, Dilma será recebida com todas as honras de uma visita de Estado que, no protocolo da relações internacionais, significa uma deferência diplomática especial. Cogita-se até a possibilidade de a presidente desfilar em carro aberto. Por trás de todas as pompas, o lobby do governo francês para conseguir, definitivamente, emplacar a venda de 36 caças Rafale para o Brasil em um contrato estimado em US$ 5 bilhões (pouco mais de R$ 10 bilhões). O presidente da Rússia, Vladmir Putin, corre por fora e também deve estreitar os laços comerciais entre os dois países para reinserir na lista de compras do Brasil os poderosos aviões de combate Sukói.

Antes da visita da presidente a Moscou, marcada para 13 e 14 de dezembro, a embaixada brasileira se apressa para tentar desatar um nó que pode provocar um grande constrangimento internacional: o embargo russo às exportações de carne dos estados do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Mato Grosso. A restrição dura mais de um ano e tem afetado as relações comerciais entre os dois países. Diante do problema, o governo brasileiro tenta por fim ao embargo antes do desembarque da presidente Dilma Rousseff em solo russo.

A situação é tão delicada que várias providências para resolver o problema já começaram a ser sugeridas. O principal objetivo é, a partir do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), orientar os estabelecimentos exportadores a corrigir todos os pontos críticos apontados na inspeção russa feita em julho e agosto deste ano. A embaixada do Brasil em Moscou chegou a sugerir que o ministério obrigue os exportadores brasileiros a cumprir integralmente todas as normas sanitárias de acordo com o padrão higiênico da Rússia. Hoje, no Brasil, existem 40 frigoríficos habilitados a exportar carne para o país. No entanto, 119 estabelecimentos brasileiros apresentam restrições impostas ao longo dos últimos anos pelo importador.

Em Paris, a chegada de Dilma está prevista para o dia 11 de dezembro. O governo francês trata da venda dos caças com absoluta cautela. Na semana passada, o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, esteve no Brasil de maneira discreta para tentar estabelecer “parcerias militares” e tirar do foco a questão meramente comercial das negociações em torno dos aviões militares.

Em agosto, o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, chegou a dizer que a decisão de adquirir os aviões para reforçar a Força Aérea Brasileira (FAB) estava suspensa e sem previsão de retomada. Ele fez questão de ressaltar, no entanto, que a substituição dos aparelhos não estava descartada. A fala do ministro se apoiou em um contexto de incertezas na economia mundial. Além do aviões franceses, os modelos Gripen, da Suécia, e F18, dos Estados Unidos, estão no jogo.

É nesse clima de disputa que a presidente vai desembarcar na capital francesa. A previsão é que Dilma chegue a Paris no início da tarde e, logo em seguida, encontre-se com o presidente da França, François Hollande. Após conceder entrevista coletiva, participará de um jantar para 200 convidados. No dia seguinte, a agenda será intensa: visita à Assembleia Nacional, recepção na prefeitura de Paris, encontro na Casa do Brasil com estudantes do Programa Ciência sem Fronteiras, reunião com empresários, visita ao Centro de Energia Atômica e um evento cultural que ainda não está definido. O governo francês vai arcar com todas as despesas.

Espanha

Antes das missões na França e na Rússia, em dezembro, a presidente visita, ainda este mês, Espanha, Argentina, Peru e México. Na sexta-feira, Dilma participa da Cúpula Ibero-Americana de Cádiz, na Espanha. No dia 18, vai a Madrid para uma reunião com o chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy. No dia 28, estará na Argentina. Dois dias depois, participa da Cúpula da Unasul, em Lima, Peru, e, em 1º de dezembro, estará na posse do presidente do México, Enrique Peña Nieto.

Roteiro de viagem

Novembro
16 - Cádiz (Espanha)
18 - Madrid (Espanha)
28 - Buenos Aires (Argentina)
30 - Lima (Peru)

Dezembro
1º - Cidade do México
11 - Paris (França)
13 e 14 - Moscou (Rússia)

Defesa Net

Dilma e a esperança do su-35

Chegada da presidente Dilma a Moscou reacende a esperança de venda dos caças russos
A presidente Dilma Rousseff chegará à Rússia no dia 14 de dezembro. Ela irá se encontrar com o presidente russo Vladímir Pútin e, segundo supõem alguns analistas brasileiros, além de questões de cooperação no âmbito dos Brics, os dois poderão tratar da compra de um lote de 36 caças multifuncionais SU-35, da russa Sukhôi, no valor de US$ 4 bilhões.
Dilma e a esperança do su-35
Ilustração: Dmítri Dívin

Como se sabe, o SU-35 já participou mais de uma vez da concorrência organizada pelo governo brasileiro, mas nunca chegou até o final. Além do SU-35, participaram desse edital, que teve início ainda em 2007, três aviões: o Rafale, da francesa Dassault, o americano F/A-18E/F Super Hornet, da Boeing, e o sueco JAS 39 Gripen, produzido pela Saab.

A licitação tinha em vista o fornecimento de 36 aviões até 2015, além da produção de mais 84 até 2024 pelos próprios brasileiros, com a concessão que seria fornecida juntamente com os caças. Os favoritos eram o Rafale e o Gripen, mais baratos e fáceis de usar. Mas a decisão final ainda não foi tomada.

A concorrência já foi adiada mais de uma vez. Na primavera de 2011, por exemplo, ela foi interrompida por falta de recursos. Hipóteses foram levantadas após uma visita de consulta do ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim, à Índia, logo depois de o Rafale vencer uma licitação no país em fevereiro com 126 caças multifuncionais de porte médio. Então, uma série de jornalistas anunciou que o favorito seria o caça francês.

O avião russo SU-35, um caça da geração 4++ com a vantagem de ser pouco visível, corresponde totalmente às exigências da quinta geração. Ele é capaz de desenvolver uma velocidade de 2,5 mil quilômetros por hora, superando os 3,4 mil quilômetros. O raio de combate do caça alcança 1,6 mil quilômetros. O SU-35 está armado com peças de calibre de 30 milímetros. Além disso, o avião possui 12 pontos de suspensão para foguetes e bombas de diferentes tipos.

Detecção de alvos

Uma característica muito importante da aeronave é que seu sistema de controle de armamento é a nova estação de radar de grade faseada “Irbis-E”, que possui características únicas no que diz respeito à capacidade de detecção de alvos. De acordo com especialistas russos, seu alcance de detecção de alvos em regime“ar-ar” ultrapassa 400 quilômetros. Esse índice é significativamente mais elevado que o de caças análogos.

O RLS instalado no avião com radar de grade faseado também tem mais alcance de detecção de alvos aéreos. Além disso, pode analisar simultaneamente o espaço em terra e aéreo e descobrir, acompanhar e bombardear um maior número de alvos (aéreos: acompanhar 30 alvos e atacar 8; em terra: acompanhar 4 alvos e atacar 2).

Uma ampla gama de armas de longo, médio e curto alcance diferencia o SU-35 de outras aeronaves. Ele pode transportar 8 toneladas de carga de combate, incluindo meios aéreos dirigidos para derrotar alvos em terra e ar de longo alcance, assim como de médio e curto – RLS, antinavio, bombas corrigíveis e outros. As características potenciais do avião permitem superar todos os caças táticos da geração 4 e 4+ do tipo “Rafale” e EF 2000, assim como caças modernizados dos tipos F-15,F-16, F-18, F-35 e equiparar-se ao F-22A.

Assim, a razão do insucesso da aeronave no edital brasileiro pode ser a pressão dos países interessados na vitória de suas empresas com o governo do Brasil, segundo especialistas. Quando o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy soube que Dilma viajaria a Moscou e poderia discutir com Pútin a compra do SU-35, voou com urgência a Brasília, diz-se, para defender os interesses da Dassault.

Seu esforço teria tido frutos quando o edital foi lançado e o SU-35 ainda não fazia parte das forças armadas russas. Então, o Brasil não iria querer comprar aviões russos que ainda não voavam nem na terra natal. Agora, porém, o Ministério da Defesa da Rússia assinou contrato com a Sukhôi para compra de 48 caças SU-35. A primeira esquadrilha já entrou para o sistema de combate das forças aéreas.

Ainda em março deste ano, o diretor do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar, Aleksandr Fomin, já havia comentado a renovação da participação do caça russo no edital brasileiro. “Se for aberta uma nova concorrência ou se a última for renovada, estaremos preparados para cooperar com nossos parceiros brasileiros”, disse Fomin.

A primeira chance de exportação do modelo também já foi divulgada: uma possível venda de 48 SU-35 para a China por 4 bilhões de dólares. Mas o Brasil ainda pode tomar a dianteira.

Vantagem à vista

Uma questão continua em aberto: o que o Brasil ganha com a compra dos caças multifuncionais russos? Diz-se que Moscou poderá comprar aviões de passageiros da brasileira Embraer em troca.

Principalmente porque o primeiro-ministro Dmítri Medvedev declarou recentemente que o mercado russo de transporte de passageiros necessita desse tipo de avião que o Brasil possui. O único problema seria o futuro do Sukhôi Superjet, para até 100 passageiros. Nesse segmento, existe ainda o russo-ucraniano An-148.

Há também questões relacionadas às licenças para a produção do SU-35 em fábricas brasileiras. A capacidade local de construção de aeronaves, assim como a qualificação dos engenheiros e pessoal técnico são bastante elevadas para que, com a licença, a produção desse caça seja assimilada muito rapidamente.

Resumindo, ainda há muitas questões em aberto para além do desejo de fortalecer a cooperação técnico-militar com um dos líderes do Brics, que é o Brasil. Mas só teremos respostas após a aguardada visita da presidente Dilma Rousseff.

Víktor Litóvkin é editor-chefe da revista “Nezavissimoie Voiennoie Obozrénie” (do russo, “Observador Militar Independente”).

Gazeta Russa

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