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sábado, 1 de dezembro de 2012

EUA aos tropeços, rumo ao atoleiro no Oriente Médio

O segundo mandato de Barack Obama na presidência ainda nem começou, mas será tumultuado, no que tenha a ver com sua política para o Oriente Médio. A cada dia, é mais duvidosa a possibilidade de que o presidente dos EUA consiga desengajar os EUA do Oriente Médio Expandido com a facilidade que esperava, para “reequilibrar-se” na Ásia. Verdade é que os países asiáticos também assistem aos eventos no Oriente Médio e observam o atoleiro no qual se vão metendo os EUA.

Nem bem o conflito de Gaza foi suspenso num cessar-fogo incerto, que talvez nem seja respeitado, já o presidente do Egito, Mohamed Mursi caminha decidido para o olho de um furacão que se armava já há algum tempo, e que opõe a Fraternidade Muçulmana ao resto da arena política doméstica.
Mursi e Obama in LOVE! "Hasta cuando?"
E Mursi, precisamente, que foi o principal interlocutor de Obama durante a crise de Gaza. Os dois presidentes, ao que se sabe, mantiveram várias longas e jamais divulgadas conversas telefônicas, e Obama foi seduzido pelo líder islâmico “moderado”. Mas o jornal diário do establishment saudita, Asharq Alawsat já publicou matéria sarcástica sobre o namorico entre Obama e Mursi [1] – que Riad desaprova profundamente.

A apreensão dos sauditas é que Obama esteja indo longe demais, e depressa demais, com a Fraternidade Muçulmana, em momento em que a realidade em campo mostra que os EUA, de fato, não conseguem decidir se apoiam Mursi, no confronto que se trava hoje na Praça Tahrir, ou se o deixam cozinhando, para ganhar tempo ou, simplesmente, deixando-se levar pelo “fator vento”.

A Casa Branca nada diz, [2] o Departamento de Estado diz o mínimo indispensável, a benevolente mídia norte-americana sua para apresentar Mursi como homem razoável, [3] enquando a embaixada dos EUA no Cairo tuita sua simpatia aos que protestam na Praça Tahrir. [4] Será justa divisão de trabalho ou modo de fazer-se passar por lebre, na escapada; e por cão, na caçada? O tempo dirá.
Rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz al-Saud
Mas tudo isso pode virar um piquenique, se se consideram as notícias que vêm da Arábia Saudita. Para todos os efeitos, ao que parece, o rei Abdullah está “clinicamente morto” [5] e deve-se esperar um anúncio formal para os próximos dias. É também o que noticia o jornal Asharq Alawsat, que deve saber do que fala.

Portanto, o caso da sucessão saudita está para começar. Na opinião da maioria dos especialistas, não será sucessão ordeira, porque não há regras claras [6] e é território virgem, e, sendo assim, ninguém tem qualquer ideia do que possa acontecer se e quando cerca de três, quatro mil príncipes mergulham nas intrigas palacianas.

Para todos os efeitos, a Arábia Saudita permanecerá por algum tempo profundamente mergulhada em suas questões nacionais. O que acontece agora com o ímpeto saudita para promover “mudança de regime” na Síria? E o cisma entre sunitas e xiitas que os sauditas tanto se aplicaram em promover? Ou, então, o que acontecerá com a estratégia saudita para “conter” o Irã? Ou no Bahrain, Kuwait, Jordânia, onde já se veem sinais de anseios por democracia? [7]Não há respostas fáceis. Hoje cedo, um diplomata saudita foi assassinado no Iêmen.
Obama mostra o tamanho do "pepino" que os EUA enfrentam no Oriente Médio
O paradoxo é que Obama não erra ao considerar transformações na política norte-americana para o Oriente Médio. Por mais que toque e retoque a velha toada, a política dos EUA chegou a um beco sem saída e influência norte-americana nessa região de importância estratégica vital está em claro declínio.

Mas os chamados aliados dos EUA não darão vida mansa a Obama se ele começar a conversar com o Irã ou se aceitar a Fraternidade Muçulmana como legítima interlocutora dos EUA. (Pessoalmente, me parece que Obama acerta 100%, se fizer isso.) Não só os sauditas; até os emirados estão incomodados. [8]Os oligarcas do Golfo Persa têm muito com o que se preocupar sobre seu futuro – colhidos entre o Irã (xiita) e o islamismo (sunita), com Obama dando prioridade aos interesses de longo prazo dos EUA.


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