Por trás de um muro de silêncio oficial, Israel está sinalizando que espera uma ação dos Estados Unidos em relação à Síria mais cedo do que tarde, temendo que a falta de resposta possa atingir a credibilidade dos americanos na região.
Por outro lado, no entanto, Israel parece ter pouco interesse em ver o presidente sírio Bashar Assad ser substituído. Em teoria, é preferível um inimigo familiar do que os candidatos o comandar a Síria, especialmente islamitas extremistas que estão cada vez mais poderosos entre os rebeldes.
As forças contraditórias colocaram Israel em uma posição delicada no momento em que os EUA planeja uma ação militar na região. Em público, líderes israelenses disseram quase nada sobre como o presidente Barack Obama está lidando com a crise na Síria. Entretanto, após a decisão do final de semana de adiar uma ação militar em busca de apoio do Congresso, os sinais de confusão e consternação se tornaram mais evidentes.
Líderes israelenses estão cautelosos ao expressar seus pensamentos sobre o que os EUA devem fazer, temendo criar qualquer percepção de que estão se intrometendo tanto na política americana quanto em uma guerra civil na vizinha Síria.
No domingo, o primeiro ministro Benjamin Netanyahu repreendeu um membro de seu gabinete de ministros que criticou publicamente Obama. Em uma entrevista no rádio, o ministro de Habitação, Uri Ariel, comparou a cautela dos americanos à inércia do Ocidente durante o Holocausto. Ariel também afirmou que a lentidão dos americanos envia uma mensagem aos terroristas e a governos hostis de que não existe preço a pagar pelo uso de armas não convencionais.
Netanyahu mandou que seu Gabinete mantivesse suas opiniões para si mesmo, reforçando a necessidade de se comportar "responsavelmente" em um momento crítico como esse.
Na reunião da semana passada com o ministro francês de Relações Exteriores em visita ao país, Netanyahu pediu ele mesmo uma reposta forte à Síria, dizendo que a reação do mundo ao uso de armas químicas poderia complicar a maneira como a comunidade internacional está lidando com o programa nuclear do Irã.
Israel, em conjunto com vários outros países do Ocidente, acredita que o Irã possui armas nucleares, e Netanyahu mostrou repetidamente sua preocupação que a pressão internacional não seja suficiente para conter o programa nuclear do Irã.
"O regime de Assad se tornou totalmente um cliente iraniano e a Síria a plataforma de testes do Irã em terra", afirmou Netanyahu. "Agora, o mundo todo está de olho. O Irã está de olho e quer ver o que seria uma reação ao uso de armas químicas."
Por essa razão, muitos israelitas reagiram com desapontamento após Obama anunciar durante o final de semana que buscaria o voto do Congresso antes de usar força contra Assad. Jornais israelenses e comentaristas criticaram o líder americano por parecer fraco e indeciso.
Os israelenses mostraram seu desejo de ação dos americanos com um misto de preocupação moral e estratégica. A visão de civis mortos por gás venenoso é dolorosa em um país construído sobre as cinzas do holocausto, e onde os nazistas enviaram incontáveis judeus para a morte em câmaras de gás.
Também é nitidamente preocupante que Assad possa um dia usar essas armas sobre Israel. Centro de distribuição de máscaras de gás foram inundados por uma população nervosa nos últimos dias em busca de kits de proteção.
"Se ele usou armas químicas contra eu próprio povo, ele não terá problemas em usá-la contra outros", afirmou o pesquisado Oded Eran, do Instituto para Estudos de Segurança Nacional.
A pretensão da operação parece se a de o ataque dos EUA não necessariamente precipitar uma represália da Síria contra Israel. Com Assad acreditando que está em vantagem na guerra, tomadores de decisão israelenses suspeitam que ele seria cuidadoso em não enfraquecer sua força militar abrindo uma nova frente de guerra contra um rival forte.
O deputado israelense Nachman Shai afirmou que a credibilidade americana está em jogo desde que Obama disse anteriormente que o uso de armas químicas pela Síria era uma "linha vermelha" que não poderia ser ultrapassada. Da mesma forma, Obama prometeu a Israel que nunca permitiria ao Irã adquirir armas nucleares.
"Estamos observando a América cuidadosamente. Confiamos na América em todos os campos da vida, especialmente agora quando o assunto é o Irã", afirmou Shai. "Precisamos saber se no dia D teremos a América do nosso lado."
Se Israel tivesse garantias de que Assad seria substituído por um governo estável que controlasse inteiramente o território e os vários grupos operando dentro dele, talvez se inclinasse a preferir sua saída, afirmou Eran. Entretanto, embora Síria e Israel sejam inimigos, a família de Assad manteve quieta a fronteira com Israel por quase 40 anos – e muitos israelenses preferem Assad a facções islamitas, algumas das quais afiliadas da Al-Qaeda, no lugar dele.
"É difícil identificar quem são os bons e quem são os maus. Provavelmente todos são maus", afirmou Shai. "O interesse de Israel é que ninguém ataque suas fronteiras e que não sejamos envolvidos de forma alguma."
Estadão
terça-feira, 3 de setembro de 2013
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De olho no Irã, Israel espera ação dos EUA na Síria
De olho no Irã, Israel espera ação dos EUA na Síria
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