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sábado, 7 de setembro de 2013

Dilma cobra ‘tudo’ sobre espionagem, e Obama vê ‘grande tensão’ na relação

No encerramento da reunião do G20 na Rússia, brasileira diz que suspeita de que suas mensagens tenham sido monitoradas é ‘inadmissível’; americano afirma que ‘entende as preocupações’

SÃO PETERSBURGO - Com um discurso enfático, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira, 6, em São Petersburgo, na Rússia, ter dado um ultimato até quarta-feira ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para que esclareça "tudo" sobre a suspeita de espionagem de mensagens e ligações telefônicas do Palácio do Planalto e de ministros brasileiros.

A pressão veio acompanhada da ameaça de cancelar a visita de Estado a Washington marcada para outubro caso as explicações não sejam convincentes. Também na Rússia, o americano reconheceu a "grande tensão" nas relações bilaterais.

O diálogo de Dilma e Obama sobre espionagem aconteceu na noite de quinta-feira, 5, após a primeira plenária da cúpula do G20. A discussão se prolongou e invadiu o horário do jantar, para o qual o americano se atrasou.

Pela manhã, Dilma não compareceu à segunda sessão plenária, alegando ter programado encontros bilaterais com Cingapura e Coreia do Sul - que acabaram não acontecendo. Em seu lugar, compareceu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que em razão do protocolo russo se sentou ao lado de Obama, como a presidente havia feito na primeira reunião do grupo.

No início da tarde de ontem, antes de embarcar de volta a Brasília, Dilma falou sobre o encontro, sempre conferindo anotações. A presidente disse ter transmitido a Obama sua "indignação pessoal e do conjunto do País" "às denúncias de espionagem contra o meu governo, as embaixadas e empresas e cidadãos brasileiros pela Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA".

"Fiz ele ver que o tipo de relacionamento que nós tínhamos, entre grandes democracias desta parte do mundo, é incompatível com um ato ou atos de espionagem, com a convivência democrática entre países amigos", descreveu ela.

Dilma ressaltou que o Brasil é uma democracia sem conflitos étnicos e religiosos, sem grupos terroristas e armas nucleares.

"Essas características jogam por terra a justificativa de que todos os atos de espionagem sejam uma forma de proteção contra o terrorismo", disse a presidente, concluindo que o caso tem a ver com "fatores geopolíticos, estratégicos ou comerciais e econômicos". "É inadmissível porque se tratam de países com uma tradição de relacionamento histórica."

Responsabilidade. Dilma disse que Obama "assumiu responsabilidade direta e pessoal" sobre o esclarecimento dos fatos. Ela se mostrou insatisfeita com a resposta já dada pelo vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e teria imposto que a resposta do governo americano seja encaminhada até quarta, quando o chanceler Luiz Alberto Figueiredo vai se encontrar com a assessora de Segurança Nacional dos EUA, Susan Rice. "Ele disse que se dispunha a providenciar todas as medidas que nós considerássemos suficientes."

Caso o Brasil não considere as explicações suficientes, a viagem a Washington deve ser cancelada. "O presidente Obama declarou que queria criar as condições políticas para a minha viagem e sabia que isso passava pela adoção de medidas em consonância com as requeridas pelo governo brasileiro. Ou seja, a minha viagem depende de condições políticas." Segundo a presidente, "se não houver condições políticas, não se vai".

Questionada sobre que esclarecimentos pediu, Dilma foi direta: "Eu quero saber tudo o que tem. A palavra tudo é muito sintética. Tudo. Em inglês, everything." A avaliação brasileira da resposta americana será feita com calma, disse ela. "Não esperem que quarta seja um dia D", afirmou.

Minutos depois, o subsecretário de Segurança Nacional, Ben Rhodes, disse que o governo responderá à "posição muito forte do Brasil". E, no fim da tarde, Obama abordou o tema. Reconheceu que os EUA têm uma "capacidade maior" de espionagem e que as novas tecnologias facilitam o acesso à informações confidenciais, o que abre espaço para exageros. "Porque podemos ter informação, não necessariamente significa que sempre devemos ter."

"Nós entendemos suas preocupações e as das populações do México e do Brasil", disse, "e nós vamos trabalhar com suas equipes para resolver o que é uma grande fonte de tensão".

Estadão

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