O relatório de peritos das Nações Unidas sobre o uso de armas químicas na Síria confirmou o uso de gás nervoso sarin em Huta, subúrbio de Damasco, em 21 de agosto. Isso era evidente mesmo sem o relatório. Mas o documento divulgado hoje (17) continua a não dar resposta à pergunta de quem foi que usou a química militar. No entanto, os EUA, Grã-Bretanha e França já interpretaram os resultados à sua própria maneira, afirmando que o documento indica claramente o uso de sarin pelo exército sírio.
Ao ler atentamente as cerca de 40 páginas do documento das Nações Unidas, não se encontra nenhuma indicação de que foi justamente o regime do presidente Bashar Assad que aparentemente sufocou a oposição e população civil com gás. Mas há várias passagem muito preocupantes. Especialistas da ONU repetem a mesma ideia em várias páginas: eles foram levados a lugares pisoteados por muita gente onde já era impossível determinar os fatos com fiabilidade.
Eis apenas duas citações do apêndice 5 do relatório, onde se fala dos possíveis meios de entrega de agentes químicos: "fragmentos de munições e outras provas físicas foram claramente movidos antes da chegada do grupo de investigadores"; "em mísseis M14 podiam ter sido instaladas tanto ogivas originais (nativas) como improvisadas (artesanais)". E combatentes da oposição, como mostrou a prática, têm mísseis com tais ogivas.
A conclusão dos inspetores da ONU não é de todo em favor da versão da culpa do regime de Assad: "Todo o tempo que estávamos nos locais da investigação, vinham pessoas desconhecidas e traziam novas provas. Isto sugere que as evidências foram movidas e, provavelmente, manipuladas".
O Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon, ao apresentar o relatório, tão pouco tirou conclusões definitivas. Ele limitou-se a chamar o uso de química militar de "crime de guerra".
"Todo o tempo que estávamos nos locais da investigação, vinham pessoas desconhecidas e traziam novas provas"
"Entre os objetivos da missão de Sellstrom (chefe do grupo de especialistas da ONU, o cientista sueco Ake Sellstrom) estava o de determinar se armas químicas foram usadas e em que escala, mas não quem as usou. Alguém outro deve decidir se é necessário continuar a investigar o assunto a fim de descobrir quem é o responsável (pelo uso de substâncias tóxicas). Cada um de nós pode ter a sua própria opinião. Eu só posso dizer que este foi um crime grave."
Peritos da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizaram uma investigação a partir de 26 de agosto. Entre outras coisas, eles descobriram que no bombardeio foram usados projéteis do antigo sistema soviético lançador de múltiplos mísseis PAR-14. Esses sistemas eram fornecidos à Síria apenas até 1969 e já há muito que deixaram de ser usados. Mas, segundo dados de 2010, eles mantinham-se em serviço no Afeganistão, Egito e Iêmen. Em todos esses países há grupos ativos da Al-Qaeda, alguns dos quais estão combatendo na Síria. Para eles não haveria nenhuma dificuldade em trazer tais projéteis para lá para fazê-los passar por provas.
A Rússia, por causa disso, mais uma vez apelou a seus parceiros na preparação de uma nova conferência sobre a resolução do conflito na Síria a não tirarem conclusões precipitadas e se concentrarem nos problemas de transferência das armas químicas da Síria sob controle internacional.
"Precisamos entender que, se queremos resolver o problema de destruição de armas químicas na Síria, o roteiro russo-americano abre para isso um caminho real, profissional, concreto e prático"
Em Moscou, foi justamente sobre isso que falou o chanceler Serguei Lavrov após uma reunião com o ministro das Relações Exteriores egípcio. Lavrov disse que é necessário cumprir o acordo entre Moscou e Washington de 14 de setembro sobre a transferência de armas químicas da Síria sob controle internacional.
"Precisamos entender que, se queremos resolver o problema de destruição de armas químicas na Síria, o roteiro russo-americano abre para isso um caminho real, profissional, concreto e prático. Se para alguém é mais importante constantemente ameaçar, intimidar, procurar um motivo para atacar, então este é o caminho para mostrar aos adversários implacáveis do regime que se esperam deles novas provocações. É também o caminho para perturbar por completo a perspectiva de convocação de Genebra 2."
Hoje, em Moscou, Serguei Lavrov discutirá com o ministro das Relações Exteriores francês Laurent Fabius os problemas de resolução do conflito sírio e os recentes acordos russo-americanos sobre a Síria. O ministro francês chega a Moscou após negociações com o ministro das Relações Exteriores britânico William Hague e o Secretário de Estado dos EUA John Kerry.
Voz da Rússia
terça-feira, 17 de setembro de 2013
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Química síria: "evidências foram manipuladas"
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