A Espanha é uma base de operações sujas da CIA até agora sem consequências para os espiões que operam aqui em segredo, cometendo crimes e burlando a lei, segundo as fontes consultadas entre a polícia e os juízes espanhóis. Os 13 agentes da Agência Central de Inteligência envolvidos no sequestro do cidadão alemão Khaled el Masri, de origem libanesa, podem respirar tranquilos. Depois de vários anos de investigação judicial, seu caso está prestes a ser arquivado.
O promotor da Audiência Nacional Vicente González Mota acaba de solicitar o arquivamento provisório do caso por não acreditar na identidade dos agentes secretos. Em seu texto, afirma que os relatórios das forças de segurança espanholas "não dão nenhum dado" sobre quem eram os 13 espiões que estavam a bordo de um avião da CIA - no qual El Masri permaneceu sequestrado - que fez escala em janeiro de 2004 em Palma de Mallorca. Todos exibiram passaportes falsos e telefonaram do hotel Marriott Son Antem para suas famílias em endereços próximos ao quartel-general da CIA em Langley, no estado americano da Virgínia.
O promotor havia pedido em 2010 ao juiz Ismael Moreno a detenção dos 13 espiões, mas agora indica que do resultado das diligências praticadas "não se pode inferir, com as garantias exigidas por uma resolução judicial de detenção, a verdadeira identidade dos autores dos fatos". Mota pede o arquivamento provisório, mas que se ordene que as forças de segurança deem ao juizado a informação que chegar a seu conhecimento sobre as pessoas que utilizaram os passaportes falsos e aceitem colocá-las à disposição da justiça "caso sejam encontradas".
O pedido de Mota é um brinde ao sol, porque depois de anos de supostas pesquisas a delegacia geral de informação respondeu assim ao juizado: "As diligências de verificação das tripulações e habilitação de pilotos deram resultados negativos". A polícia não informou ao juiz sobre que diligências praticaram. Fontes judiciais indicam que o juiz Ismael Moreno arquivará o caso.
As operações inconfessáveis da CIA, com a inestimável ajuda da NSA (Agência Nacional de Segurança, em inglês), que intervém em milhões de ligações telefônicas na Europa, não se limitam ao Afeganistão, Paquistão, Iêmen ou Somália. A Espanha é a base de operações sujas e ilegais na luta contra o terrorismo e o narcotráfico.
Agentes da CIA ou da NSA se movem por todo o território espanhol com documentação falsa e sem informar ao governo desde os atentados de 11 de Setembro, quando começou a guerra suja contra o terrorismo islâmico ordenada pelo governo George W. Bush, segundo reconhecem para "El País" fontes policiais e judiciais. Mais de dez residem na Espanha com passaporte diplomático, embora a maioria utilize suas bases aqui para operações de trânsito.
"Com Obama tudo continua igual. Não tem fronteiras. Não há aliados nem amigos que valham. Há mais casos do que vocês conhecem. São ocultos para que não cheguem aos juizados", reconhece um comando da luta antiterrorista.
Os 13 agentes da CIA que passearam pela Espanha com total liberdade transferiram El Masri para uma prisão em Cabul, onde sofreu todo tipo de tortura. Foi libertado na Albânia em maio de 2004, ao se comprovar que nada tinha a ver com a Al Qaeda. "Meu cliente não pôde reconhecer o avião nem a tripulação porque uma venda tapava seus olhos", diz seu advogado.
As escalas de vários voos civis da CIA em diferentes aeroportos espanhóis coincidiram com o sequestro na Europa de pessoas inocentes suspeitas de militar na Al Qaeda. O CNI (Centro Nacional de Inteligência) afirma desconhecer que esses voos civis fossem operados pela CIA. Escapou ao serviço secreto que 13 supostos agentes estrangeiros passeavam com documentos falsos por aeroportos espanhóis?
Os supostos espiões da CIA que pousaram em Mallorca não comunicaram a nenhuma autoridade sua presença na Espanha, nem solicitaram autorização para usar identidades falsas. O artigo 282 da Lei de Instrução Criminal ampara a figura do agente encoberto e estabelece suas obrigações e seus limites.
Os juízes têm de dar seu consentimento. O magistrado da Audiência Nacional Xavier Gómez Bermúdez explica assim: "Em geral atuam com autorização, embora exagerem. Colocamos um policial ou um guarda civil para que controle suas atividades, para que fiscalizem e evitem que façam algo ilegal. Explicam a eles como e até onde podem atuar aqui". "O pessoal da DEA nos deixou a ver navios em várias ocasiões e ainda por cima nos trata com certa displicência", queixa-se o juiz Guillermo Ruiz Polanco.
A guerra suja é travada em campo, mas também nas ondas. E a Espanha ocupa um lugar de interesse extraordinário para os EUA como porta de entrada da Europa na África e pela crescente presença da Al Qaeda nesse continente. Desde os anos 1990 e sob o guarda-chuva da Echelon (sistema de inteligência de sinais Sigint), são interceptados milhões de telefonemas através de uma rede de satélites conectados com bases terrestres, computadores em rede e cabos submarinos. A NSA é a principal contribuinte da DEA.
Onde estão as estações de escuta? Na embaixada dos EUA na Calle Serrano em Madri, no Consulado em Barcelona e em barcos civis com bandeira americana atracados em vários portos espanhóis, segundo afirma uma fonte da inteligência espanhola. A base de Rota (Cádiz) também conta com uma estação de escuta, mas para uso militar. Em seus quartéis abriga fuzileiros navais da Frota de Segurança e Antiterrorismo (Fast na sigla em inglês), que protege as embaixadas dos EUA em todo o mundo. A Rota, entre suas missões, é a base europeia desses homens com uma missão sem fronteiras, que se resume em seu logotipo: "A qualquer momento, em qualquer lugar".
À frente dessas bases secretas com cobertura diplomática trabalham agentes do SCS (Serviço Especial de Captação), integrado por agentes da CIA e da ANS, todos com passaportes diplomáticos. Fontes espanholas afirmam que o maior desenvolvimento das escutas e operações ilegais na Espanha teve lugar durante a etapa em que Randall Benett, agente especial do FBI especializado em Al Qaeda, e o agente secreto William Cachinero estiveram à frente da segurança na embaixada em Madri.
Consulado em Barcelona, base ideal
A estação de escuta mais moderna da NSA na Espanha está no Consulado dos EUA em Barcelona. "A ameaça [jihadista] na Catalunha é evidente. Os EUA precisam saber quem e o que circula pela área que vai da Argélia à Tunísia, Rabat e sul da França. O consulado em Barcelona seria a plataforma ideal para a central porque tem espaço suficiente, comunicações seguras e boa localização", explicou um telegrama secreto datado de 2 de outubro de 2007 e enviado pelo embaixador Eduardo Aguirre a Washington. Foi Aguirre quem propôs transformar o consulado em plataforma para uma multiagência que coordenasse a luta antiterrorista, o crime e a informação de inteligência para combater a crescente ameaça jihadista e as atividades criminosas na região.
O governo de Aznar respondeu em 2000 a uma pergunta da IU (Esquerda Unida) que a Echelon era real e que a rede dispunha em todo o mundo de "sofisticados computadores com sistemas de tradução de idiomas, reconhecimento de voz e buscas por diferentes métodos, destacando o sistema que detecta palavras chaves de forma que, uma vez detectada uma destas, se grava toda a conversa, que é analisada posteriormente".
O Informante
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
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CIA opera e abusa do poder livremente pela Espanha
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