Sequestrado e levado à força por um grupo armado, no domingo (17), Mustafa Nuh, número dois do serviço de inteligência da Líbia, ainda não havia sido libertado até a manhã de segunda-feira (18). No dia 10 de outubro, o primeiro-ministro Ali Zeidan já havia sido "raptado" por algumas horas por uma katiba (brigada de combatentes), mas sob ordens do Congresso Geral Nacional (CGN). Em meio à desordem que reina na Líbia, a prática não tem mais nada de excepcional. Há dois meses, o filho do ministro da Defesa também foi detido por uma dessas milícias.
No domingo, dia de trabalho na Líbia, a maior parte do comércio permaneceu fechada, atendendo a uma convocação de greve geral do conselho local (a prefeitura) de Trípoli. Muitos bairros foram cercados por barreiras de civis. Entre rajadas de tiros e pesadas explosões esporádicas, a capital líbia se mostrava em estado de tensão dois dias após os confrontos sangrentos de sexta-feira que ocorreram no final de uma manifestação que descambou para a tragédia. Uma katiba originária de Misrata, cidade situada 200 quilômetros a leste de Trípoli, havia aberto fogo contra manifestantes, desencadeando uma briga de armas pesadas entre grupos. Resultado: 45 mortos e quase 500 feridos, segundo as últimas estimativas, às quais se somaram três novas vítimas e mais de quarenta feridos, no domingo. "Aqueles que continuarem a combater irão para o inferno", avisou o mufti Sadik el Ghariani, a mais alta autoridade religiosa, através de uma mensagem enviada para celulares.
Sentado em seu "escritório" no bairro de Souk El Jemaa, no meio de um quartel com picapes equipadas de canhões antiaéreos, Faouzi El Osta, líder da katiba Bashir Sadawi, nome de um herói da independência líbia, não dormiu muito nas últimas horas. "O problema não é entre Misrata e Trípoli", ele diz, "o problema é esse governo que não faz nada." Ele foi um dos primeiros a constituírem um grupo armado já em 2011 na capital líbia, e também um dos poucos a revelar seus efetivos: "1.025, mas se eu quiser, juntando as famílias consigo reunir até 10 mil homens". Para Faouzi El Osta, as katibas, apesar dos devastadores combates entre elas, continuam sendo o último bastião para proteger a Líbia de uma tomada de poder por parte dos islamitas, responsáveis pela convocação de manifestação da sexta-feira. "Poços de petróleo estão sendo bloqueados, mas para isso não é feita nenhuma manifestação. Estranho, não?", ele se espanta. Partidários do antigo regime de Gaddafi também estariam na manobra, segundo ele.
São argumentos que para eles justificam a manutenção dos "thuwars" (revolucionários), que antes eram louvados como heróis e hoje são comparados a milicianos. "Para quem vou entregar as armas? Ao exército? Alguém me dê o endereço!", ele ironiza. "Se nós sumíssemos, a violência seria realmente terrível."
As katibas garantem a maior parte da segurança e, assim como muitas chancelarias estrangeiras, as autoridades líbias recorreram a seus serviços. Recrutar uma katiba na Líbia também é uma forma de estabelecer seu poder no cenário político, e essas brigadas de ex-revolucionários muitas vezes são usadas em questões de disputa de poder.
Com a aproximação da data de 7 de fevereiro, que pelo menos em teoria deveria significar o fim do mandato dos deputados do Congresso Geral Nacional eleitos em julho de 2012, a tensão não para de crescer, amplificada pela perda vertiginosa de credibilidade do governo.
No coração da guerrilha, Misrata, considerada a força líbia mais poderosa, enviou uma impressionante fileira de picapes armadas até a entrada de Trípoli. Seus chefes militares se fecharam em silêncio, mas na noite de domingo o conselho local da cidade anunciou que Misrata retiraria suas tropas ao mesmo tempo que seus parlamentares no Congresso e seus representantes no governo, o que teria como efeito precipitar a queda do governo central.
Novas alianças estão se esboçando com Zenten, outra grande potência, rival até o momento. A cidade, situada na parte sudeste do território, ainda está nas mãos de Seif al-Islam, filho e ex-sucessor de Gaddafi. "Falei com os líderes de Misrata", assentiu Abdallah Naker, ex-chefe militar de Zenten, que criou seu próprio partido. "Ou saímos todos de Trípoli, ou ficamos. É uma luta pelo poder, a revolução do dia 17 de fevereiro – data do levante de 2011 – não acabou", ele diz, sem esconder sua aversão pelos islamitas. "Se as milícias se forem, o que teremos depois? É muito complicado", se preocupa Othman Bensassi, ex-membro do Conselho Nacional de Transição. "Seria preciso formar um governo de crise. Os islamitas estão se preparando para tomar o poder e, por outro lado, os pró-gaddafistas estão cada vez mais ativos."
Quando ele foi sequestrado no domingo, o número dois da inteligência líbia, oriundo de Misrata, mas conhecido por ser próximo dos islamitas, estava no aeroporto. Mustafa Nuh voltava de Istambul, onde foi realizada uma importante reunião, confirmada por diferentes fontes, de islamitas líbios de todas as tendências, na presença de Mohamed Sowan, presidente do partido da Irmandade Muçulmana, do ex-jihadista Abdelhakim Belhadj e de Ali al-Salabi, uma figura conhecida dessa esfera.
O Informante
domingo, 24 de novembro de 2013
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Em Trípoli, os grupos armados estão no centro de uma briga pelo poder
Em Trípoli, os grupos armados estão no centro de uma briga pelo poder
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