A CIA escondeu sua ligação com Lee Harvey Oswald, e por causa disso muitos passaram a suspeitar os serviços secretos de envolvimento no assassinato de Kennedy, afirma o jornalista e autor Anthony Summers nomeado para o prêmio Pulitzer.
Ele realizou sua própria investigação do assassinato do 35º presidente dos Estados Unidos e escreveu o livro Not In Your Lifetime. Summers falou de suas conclusões e descobertas em uma entrevista exclusiva à Voz da Rússia.
– A que conclusão o levou a sua investigação?
– Eu rejeito completamente a ideia de que a União Soviética está de alguma forma envolvida no assassinato de Kennedy. Pode-se também colocar de lado a versão do envolvimento de Fidel Castro. Claro, ele tinha um motivo, pois as agências de inteligência dos Estados Unidos, nomeadamente a CIA, tentaram várias vezes eliminá-lo. É muito fácil assumir que Castro decidiu “jogar com antecedência”.
Mas eu entrevistei muitas testemunhas dos acontecimentos de 22 de novembro de 1963, estudei uma variedade de materiais e concluí que o assassinato de Kennedy, provavelmente, foi organizado pela máfia. Especificamente, dois líderes da máfia que nunca antes tinham sido tão perseguidos como sob Kennedy, possivelmente, com a participação da oposição cubana anti-Castro.
– Em seu livro, você cita o texto completo de um documento que confirma que a CIA interrogou Lee Harvey Oswald após o seu regresso aos EUA da Rússia. Por favor, conte-nos a que conclusões você chegou ao estudar esse documento.
– Primeiro de tudo, é preciso lembrar que na altura era o auge da Guerra Fria, em outubro de 1962 aconteceu a crise dos mísseis de Cuba. Eram tempos muito perigosos e tensos. Na altura, nenhum norte-americano poderia viajar para a Rússia, retornar de lá e continuar calmamente a viver nos EUA. Todos aqueles que regressaram da União Soviética eram meticulosamente interrogados pela CIA, isso era comum.
E eis que nos aparece um certo Lee Harvey Oswald que serviu numa base aérea de onde os Estados Unidos enviavam aviões de espionagem para a Rússia. Ele era um soldado comum mas, no entanto, tihna visto e sabia muito. E então ele decidiu ir para a União Soviética. Depois ele viveu e trabalhou sem problemas em Minsk, casa com uma mulher soviética e volta para casa com sua esposa e uma pequena criança. E o que se segue? Supostamente, ele teria passado inúmeras horas, e talvez até mesmo dias, em interrogatórios da CIA.
Ele poderia até mesmo ter sido ameaçado de prisão, afinal, em suas próprias palavras, ele traiu seu país, passou aos russos informações sobre o avião de reconhecimento militar U-2. No entanto, durante anos a CIA insistiu que ninguém tinha interrogado Oswald e que ele viveu calmamente no Texas. Mas isso é totalmente implausível. No meu livro, eu examino minuciosamente todas as circunstâncias: o que aconteceu quando Oswald voltou para os EUA? Afinal, ele foi interrogado ou não? Há materiais que provam que o interrogatório ocorreu. Mas o que aconteceu depois? Eu acredito que foi-lhe dada uma escolha: ou ele vai para a prisão, ou coopera com a CIA e faz o que lhe é dito. Aí, tudo bate certo.
Um ano antes do assassinato de Kennedy, ele começou a apoiar Castro. Segundo dados oficiais, ele de verdade sinceramente apoiava sua política. Na minha opinião, é muito provável que ele foi intencionalmente usado um parafuso simples e discreto no enorme mecanismo dos serviços de inteligência dos EUA, foi usado como uma ferramenta de guerra de propaganda contra Cuba. E seja quem for que matou o presidente, Oswald foi ligado ao assassinato, e em seguida foi feito com que Oswald, por sua vez, fosse assassinado por Jack Ruby.
E para os serviços secretos era benéfico distanciarem-se de modo que ninguém soubesse que eles tinham alguma ligação com Oswald, em qualquer nível, porque ele matou o presidente. É como quando um marido esconde de sua mulher que foi a um jogo de beisebol, e a mulher descobre a mentira e, não sabendo dos detalhes, decide que o marido tem uma amante. No caso da CIA, é evidente que a Agência escondeu informações sobre seus contatos com Oswald, e essa mentira relativamente inocente mostrou claramente que a CIA pode mentir sobre coisas muito mais sérias e perigosas. Assim, durante décadas o povo americano acredita que suas forças de segurança estão envolvidas no assassinato de Kennedy, algo que eu, a propósito, acho extremamente improvável.
– Porquê então o comitê da Câmara dos Representantes dos EUA para assassinatos foi formado apenas em 1976, passados treze anos inteiros após o assassinato de Kennedy?
– Até o momento em que o comitê do Congresso foi instaurado, na América começou a “era da dúvida”. Eu acho que quando a comissão de Warren começou a investigar o assassinato de Kennedy, os americanos ainda estavam vivendo no pequeno mundo acolhedor e confortável de Eisenhower. As pessoas confiavam nas autoridades, estava tudo bem. Eu fiquei horrorizado com o quão pouco a mídia norte-americana fez para investigar o assassinato de Kennedy – e isso é o seu trabalho. Isso me empurrou, então ainda um jornalista da BBC, a me dedicar a este caso independentemente. As pessoas confiavam no governo, e a comissão de inquérito era chefiada pelo presidente do Tribunal Supremo dos Estados Unidos.
Ninguém duvidava que o FBI iria fornecer à Comissão de Warren todos os materiais disponíveis. Mas depois as pessoas começaram a suspeitar algo, e no final dos anos 60, nos anos 70, começou a verdadeira era de dúvidas – as que começaram a surgir entre adversários da Guerra do Vietnã e as que se tornaram ainda mais graves depois de Watergate.
De repente, tornou-se claro que não se pode confiar na CIA e no FBI, que eles esconderam até mesmo da Comissão de Warren que tinham preparado várias vezes atentados contra Castro – assim começaram tempos de desconfiança. Foi tudo isso que levou à criação do comitê para assassinatos que chegou à conclusão de que houve uma conspiração contra Martin Luther King e que provavelmente, e enfatizo o provavelmente, Kennedy também foi vítima de uma conspiração.
Defesa Net
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