O primeiro-ministro israelense chegou hoje a Moscou para uma breve visita de trabalho. Apesar de uma vasta agenda, o principal item das conversações será o problema nuclear do Irã. Vale notar que as partes perseguem objetivos diametralmente opostos. O "Bibi" terá de convencer o presidente russo de não apoiar os acordos com o Irã sobre a regularização nuclear. Vladimir Putin, pelo contrário, quer levantar receios de Netanyahu, persuadindo-o a adotar um novo acordo intercalar entre Teerã e o sexteto de mediadores da ONU (Rússia, EUA, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha).
O líder russo e o chefe do gabinete israelense mantêm boas relações de confiança a ponto de alguns jornais dos EUA apontarem que a evidente discórdia com Barack Obama estaria transformando Putin no principal "mandatário" no cenário de superpotências nucleares.
Tal tese é justa em parte. Netanyahu está convicto de que Obama está-se afastando de Israel, efetuando uma reorientação da política norte-americana no Oriente Médio. A nova política pressupõe mais "amizade" com os árabes e menos apoio incontestável a Israel. Ora, a normalização das relações com Teerã, tem sido, para Netanyahu, uma parte integrante desse novo rumo político levado realizado pelo Presidente democrata. Se os EUA não querem levar em consideração os interesses de Israel, então este terá de buscar apoio de uma outra parte. O último encontro com Putin se realizou em maio, tendo os dois políticos mantido alguns contatos telefônicos.
Vale destacar que a visita de Netanyahu a Moscou decorre nas vésperas de um novo encontro do sexteto com representantes do Irã em Genebra, agendado para os dias 21-22 de novembro. Nos documentos de trabalho preparados para a reunião foi reajustada a posição de intermediários quanto à revogação parcial de sanções em troca da revogação do programa nuclear iraniano e o estabelecimento do controle da AIEA. Há duas semanas a França fez frustrar a assinatura de um acordo do sexteto com o Irã. E decidiu fazê-lo, tomando em conta a pressão exercida por Israel.
É difícil dizer em que veio depositar esperanças Netanyahu. Moscou tinha feito a sua opção em prol da regulação consensual da questão nuclear iraniana. É evidente, pois, que as sanções não adiantam a solução do problema, anunciou na véspera o chanceler russo, Serguei Lavrov. A Rússia tem apelado a estipular um enfoque seguinte: o mundo reconhece o direito do Irã ao desenvolvimento da energia nuclear com fins pacíficos, incluindo o de enriquecer o urânio desde que o programa inteiro seja colocado sob a supervisão da AIEA. As sanções serão levantadas por etapas, ao passo que o Irã irá implementar seus compromissos visando a limitação do seu programa nuclear. Então, uma meta tão almejada já está próxima, disse o chefe da diplomacia russa:
"A próxima reunião em Genebra, marcada para o dia 21 de novembro, deverá examinar documentos concretos, debatidos já num encontro anterior. Foram feitas algumas emendas, propostas pelo grupo "três mais três" (ou seja, a troika dos altos dirigentes da UE mais os EUA, a Rússia e a China). Se procurarmos seguir uma linha conceitual reta, visando o "end game", como dizem os ingleses, ou a meta final, teremos chances de alcançar o objetivo traçado se este processo consensual não for entravado."
Os EUA também procuram abrandar a posição intransigente de Netanyahu. O secretário de Estado, John Kerry, confessou ter conversado reiteradas vezes com o primeiro-ministro israelense. Após a reunião com o ministro das Relações Exteriores da Turquia, em 18 de novembro, Kerry anunciou que os EUA jamais fariam algo que pudesse abalar a segurança de Israel:
"Temos protegido a segurança de Israel. Quero sublinhar isso. Eu, enquanto senador, votava sempre a favor de nossos amigos israelitas. Posso asseverar que nenhuma medida que estamos tomando agora poderá representar perigo para Israel. Estamos convencidos de que um acordo intercalar sobre a questão nuclear iraniana poderá diminuir a ameaça. Temos certeza de que o acordo preparado ajudará a chegar a um convênio universal sobre esta temática."
No entanto, para Netanyahu se trata de uma "negociata má e inadmissível". Israel terá de garantir sozinho a sua segurança nacional. Isto é, ele não irá parar perante um golpe preventivo contra as instalações nucleares do Irã. Muitos analistas supõem que o primeiro-ministro esteja blefando. Mas todos compreendem que Netanyahu, enquanto permanecer no cargo de primeiro-ministro, não deixará promover com facilidade quaisquer acordos com o Irã.
Voz da Rússia
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