O maior problema do cumprimento dos Acordos de Paz de Dayton, assinados em Paris a 14 de dezembro de 1995, foi o regresso dos refugiados e a recuperação da indústria.
Em 1991 a Bósnia contava com 945.921 pessoas empregadas, já em finais de 1995 elas eram apenas 338.181. O salário médio mensal era de apenas 238 marcos alemães, tendo em consideração que o mínimo necessário para a sobrevivência era considerado de 519 marcos. Por outras palavras, um casal de pessoas empregadas conseguia se alimentar, e à sua família, com grandes dificuldades. Muito pior era para os que perderam o emprego e durante vários anos não conseguiam encontrar trabalho. O desemprego se tornou no principal flagelo social da Bósnia.
As autoridades simplesmente não tinham dinheiro para resolver o problema, isso nem estava previsto no orçamento do Estado. A comunidade internacional apresentou por diversas vezes a Sarajevo várias propostas de ajuda. Mas a maior parte da ajuda financeira internacional se esfumava. O cidadão anônimo recebia migalhas e ele mal conseguia sobreviver com as esmolas humanitárias. Entretanto, Sarajevo apresentava regularmente aos benfeitores internacionais dados inflacionados acerca da população da cidade – cerca de 30-40 mil habitantes a mais. Os produtos alimentares e farmacêuticos eram revendidos aos especuladores, que fizeram fortunas com a guerra.
Já em dezembro de 1995 se previa que os antigos ministros, premiês e restantes políticos em cargos públicos, depois de privados da "manjedoura" do Estado, iriam se tornar empresários. Todos os que tinham na mão as rédeas do poder no país iriam comprar ao desbarato empresas importantes que lhes traziam dividendos de milhões de marcos. O principal era adquirir o que era vendido e privatizado a custo zero. Os investidores estrangeiros queriam investir na Bósnia, mas com uma condição – não correrem riscos políticos e comerciais.
Havia tanta destruição e perdas que, de acordo com os especialistas, a região iria necessitar de pelo menos dez anos para recuperar a sua situação econômica para os níveis anteriores à guerra. Muitos analistas locais consideravam, e com fundamento, que a população bósnia era a força de trabalho mais barata da Europa. Havia muitos deficientes e desempregados dispostos a trabalhar dois turnos, e sem dias de descanso, por 200 marcos mensais.
O governo local estava disposto a aceitar qualquer proposta. Assim, pareceu perfeitamente lógica a versão que na Bósnia seriam localizadas as indústrias poluentes e proibidas, ou mesmo um grande depósito para detritos radioativos das usinas nucleares. A região tem abundância de montanhas e de minas, basta enterrar os detritos europeus numa antiga mina e receber o dinheiro!
Por isso, o sonho de prosperidade para a Bósnia seria longo e irrealista. Para que os bósnios vivessem nem que fosse um pouco melhor, seriam necessárias duas condições: os políticos locais pensarem mais nos seus eleitores e tentarem cumprir os Acordos de Dayton, que todos tentaram corrigir a seu próprio favor.
Voz da Rússia
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
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A Bósnia depois da guerra: sem trabalho e sem esperança
A Bósnia depois da guerra: sem trabalho e sem esperança
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