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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Rússia disputa Mediterrâneo com OTAN

A imprensa ocidental classifica de "aventura arriscada" a intenção das autoridades cipriotas de autorizar o uso por militares russos do porto de Limassol e da base aérea de Paphos. Apesar de se falar apenas de situações de emergência, os analistas da OTAN já mostram preocupações pelo acordo que ainda não foi assinado.

Segundo as informações divulgadas pela imprensa cipriota, os ministros da Defesa da Federação Russa e da República de Chipre, Serguei Shoigu e Fotis Fotiu, estiveram negociando durante os últimos nove meses. O resultado dessas negociações foi a decisão do gabinete de ministros cipriota de facultar, em caso de necessidade, o uso do porto de Limassol e da base aérea Andreas Papandreou por navios de guerra e aviões militares russos. Segundo explicou Fotis Fotiu, esse passo comprova o reforço da cooperação entre Moscou e Nicósia. O ministro sublinhou que a Rússia iria usar a base aérea e o porto exclusivamente em situações de emergência e para missões humanitárias. Os militares russos não serão autorizados a usar os armazéns e paióis portuários ou da base aérea.

Apesar de esse acordo dar à Marinha e à Força Aérea russas possibilidades bastante limitadas e ainda nem estar assinado, alguns analistas já o qualificaram como um efeito do uso por Moscou de métodos diplomáticos brandos. Por outras palavras, a Rússia usa relativamente ao Chipre o poder brando, o soft power, para criar na ilha um posto militar avançado.

Durante todo o período pós-soviético, a Rússia e o Chipre mantiveram relações bastante estáveis de parceria na esfera diplomática, na área econômica e no âmbito da cooperação técnico-militar. Em 1992, o Chipre reconheceu a Rússia como sucessora da URSS, e apenas quatro anos depois os dois países celebraram o seu primeiro acordo na área da cooperação militar. A Rússia forneceu ao Chipre helicópteros de transporte e de combate, veículos blindados BMP-3, tanques T-80, sistemas de foguetes Grad e sistemas antiaéreos, incluindo o famoso S-300.

Depois da guerra civil de 1974 entre as comunidades grega e turca, a parte norte da ilha continua ocupada pelo exército turco. Parte do território é ocupada pelas bases militares britânicas de Akrotiri e Dhekelia. Na arena internacional Moscou apoia de forma consequente os esforços de Nicósia para a desmilitarização da ilha e para a resolução do chamado problema cipriota. Já quando a República de Chipre foi vítima da crise do euro, Moscou se disponibilizou para conceder um crédito a Chipre. Com esse panorama de fundo, não é de admirar que a Rússia tenha pedido aos cipriotas a possibilidade de usar as suas bases em caso de necessidade, constatou o diretor do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias Ruslan Pukhov:

“O mais provável é se tratar da possibilidade de aí poderem aterrissar, por exemplo, aviões militares russos que transportam ajuda humanitária. É compreensível que esse tipo de acordos não seja do agrado de muitos adversários da Rússia e daqueles que não gostariam que o Chipre praticasse uma política externa e de defesa mais independente. Como se sabe, o Chipre não é membro da OTAN, mas é membro da União Europeia. A UE tem uma política comum, por isso é bem possível que Chipre seja pressionado por Bruxelas para que não coopere com Moscou”.

O acordo de princípio entre Nicósia e Moscou para o porto de Limassol e a base aérea Andreas Papandreou é um grande avanço, mas ainda puramente diplomático, considera o perito militar Vladislav Shuryguin:

“Do ponto de vista de eficiência militar, este ainda não é o acordo que poderia dar à Rússia, por exemplo, um aeródromo de apoio no Chipre. Aqui reside um pormenor que, evidentemente, preocupa bastante a OTAN. O Chipre, como país que não faz parte da OTAN, é de fato livre de escolher seus aliados e, por consequência, dar um tratamento preferencial aos seus aliados. Um passo desses em direção à Rússia seria certamente chocante. Se no Chipre surgir de repente, numa perspectiva futura, uma base russa, isso seria uma grande perda para o potencial da OTAN nessa região”.

Segundo Vladislav Shurygin, o Chipre é praticamente um porta-aviões inafundável. O surgimento no centro do Mar Mediterrâneo de uma base, a partir da qual a aviação russa pode atuar e para onde podem ser rapidamente deslocadas várias dezenas de aviões, altera substancialmente o equilíbrio de forças na região. Claro que isso não pode deixar de preocupar a OTAN.

Contudo, a criação no Chipre de uma verdadeira base naval ou uma base aérea da Rússia, se isso for realmente possível, será um projeto para um futuro muito longínquo. Tanto mais, sublinha Shurygin, que o atual presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, tem como objetivo a adesão à OTAN.

Entretanto, os analistas ocidentais já calcularam que só a possibilidade de os aviões receberem combustível e os navios serem reabastecidos já irá aumentar consideravelmente o potencial da Força Aérea e da Marinha russas. E por que não?

Voz da Rússia

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