Há um quarto de século atrás terminou a permanência de quase dez anos do contingente limitado de tropas soviéticas no Afeganistão. A campanha afegã foi talvez a maior e a mais problemática ação na política externa da União Soviética depois da Segunda Guerra Mundial.
O último soldado soviético abandonou o Afeganistão a 15 de fevereiro de 1989. A retirada das tropas foi dirigida por Boris Gromov, lendário general-tenente. Os norte-americanos, cuja tarefa consiste em pôr fim à longa ocupação do Afeganistão, tentam precisamente utilizar a sua experiência. O politólogo Nikita Mendkovich afirma:
“A segurança é o problema fundamental de qualquer operação semelhante. Um grande número de tropas e armamentos movimentam-se pelos caminhos. É preciso protegê-los de possíveis ataques e bombardeios. Isso pode ser resolvido de diferentes formas, nomeadamente reforçando os contingentes locais que ficam após a retirada das tropas. Eles poderão proteger a retirada das forças principais.”
Perante as tropas soviéticas no Afeganistão colocavam-se duas tarefas principais. Em primeiro lugar, ajudar o governo do Afeganistão a normalizar a situação política interna. Segundo, impedir a agressão externa. Essas tarefas foram completamente realizadas, considera Igor Korotchenko, redator-chefe da revista “Defesa Nacional”:
“A campanha afegã foi inevitável do ponto de vista da defesa dos nossos interesses nacionais. Nós não éramos ocupantes, nós construímos um Afegão novo. Abrimos túneis, mantivemos o funcionamento do sistema de abastecimento de água, plantámos árvores, construímos escolas e hospitais, criámos indústria. Foi um grande feito.
Deixámos a Najibullah um exército afegão forte. Durante um ano ou ano e meio, ele controlou com êxito a situação no interior do país. Só a suspensão da ajuda material e técnica da União Soviética levou à queda do regime de Najibullah. Hoje, o regime de Karzai não deverá durar muito. E dificilmente os EUA sairão com a mesma cabeça levantada com que saíram as nossas tropas.”
A propósito, há diferentes opiniões quanto ao facto de todos os afegãos terem ficado contentes com os soldados soviéticos. Naim Gol Muhammad, presidente do Centro Afegão Unido em São Petersburgo, afirma:
“Existem as tradições, a mentalidade e a cultura do povo afegão. As tribunais aguerridas dos pushtuns nunca se sujeitaram a ninguém. As tropas estrangeiras foram sempre mal recebidas. A população local revoltou-se contra as tropas soviéticas”.
Parte significativa dos peritos está convencida de que a campanha afegã da União Soviética, não obstante toda a sua tragédia e aparente insensatez, exerceu séria influência na formação de uma política externa ótima da nova Rússia. Hoje, para Moscou é claro que o emprego da força na solução dos problemas não tem futuro, que só o compromisso é capaz de pôr fim à crise. Moscou tenta fazer chegar essa compreensão aos outros jogadores principais do atual palco geopolítico.
Voz da Rússia
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