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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Brasil se equilibra diplomaticamente no apoio à soberania argentina nas Malvinas

Não consta na agenda oficial da visita (até hoje) do chanceler britânico William Hague ao Brasil algum diálogo sobre as Malvinas.

Também não se sabe, oficialmente, se a presidente Cristina Kirchner solicitou a Brasília alguma intervenção a favor da soberania argentina sobre as ilhas, embora muito provavelmente tenha pedido, já que ela dificilmente deixa escapar uma oportunidade dessas.

Da parte londrina, a questão está sacramentada: as Falklands são do Império Britânico e ponto, principalmente após os kelpers decidirem ficar sob a órbita atual, num referendo (2013) que foi mais uma concessão à gritaria do vizinho do que algo sério que pudesse ameaçar a mudança de status.

Da parte brasileira também: o país apoia a soberania argentina e defende o diálogo entre as partes e nos fóruns internacionais, um discurso pronto que no arranjo da diplomacia nunca causou grandes dores de cabeça entre os dois países com relações históricas impecáveis desde que D. João VI teve que fugir de Portugal escoltado pela Royal Navy.

Para os dois, o tema nem precisaria mais ser debatido dadas as condições de ambos no contexto mundial – o primeiro, com a crise na Europa e questões mais preocupantes na geopolítica do Norte, como Irã e Síria, e, o segundo, tentando evitar uma crise econômica maior e diminuir as desconfianças internacionais, além de estar às voltas com a Copa e eleições.

E mais ainda diante de uma realidade que se impõe declaradamente, inclusive para a Argentina de ontem, de hoje e do futuro: não há nada que faça os britânicos devolverem aquelas terras, ainda que haja uma resolução da ONU colocando a questão como tema de descolonização. Não há precedente similar no mundo contemporâneo, em qualquer região do planeta, onde um país devolve algum território cuja soberania tenha sido contestada, com ou sem razão. A decisão do Chile de devolver ao Peru parte de seu mar territorial, obedecendo decisão da Corte Internacional de Haia, não serve de exemplo.

A aventura Argentina de 1982, fazendo Margaret Thatcher mandar seus homens guerrearem no arquipélago, sepultou de vez a mínima chance de que houvesse ao menos um amigável chá das 17 horas.

Porém, sempre há um motivo adicional e provocativo para a Argentina fazer entrar as disputas por aquelas ilhotas geladas e áridas do Atlântico Sul nas agendas bilaterais – dela e dos outros – e multilaterais. Agora, por exemplo, foi o ultimato dado ao navio de cruzeiro Queen Victoria, que ondeava suas águas territoriais e se preparava para aportar, a baixar do mastro o pavilhão inimigo, sob ameaça de multa e arresto.

Se Hague solicitou ao seu colega Luiz Alberto Figueiredo, ou à presidente Dilma Rousseff, que serenasse os ânimos da inquieta presidente – e mesmo em advertência ao ato ilegal sob as leis internacionais – ou se ela requisitou mais um reforço em sua defesa, baita incômodo diplomático para o Brasil.

Em 2012, o país, junto a outros membros do Mercosul e da Unasul – União das Nações Sul-Americanas – assinou resolução proibindo a entrada em seus portos de navios com a bandeira das Falklands, por pressão de Cristina e dos chavistas. Outra medida sem sentido e inócua, apenas para efeito midiático, posto que o território não tem frota mercante, quando muito, poucos barcos pesqueiros.

Sorte que a visita do ministro da Grã-Bretanha passou praticamente desapercebida pela imprensa.

Apesar da causa ser justa, que ninguém se engane: a posição brasileira endossando a soberania portenha sobre as ilhas nunca foi das mais fervorosas. Sempre houve uma desconfiança e rivalidade mútuas.

Voltemos há 32 anos. Quando o general-presidente Leopoldo Galtieri mandou seus homens para a morte nas Malvinas, naturalmente a ditadura brasileira apoiava a de lá, mas na psicologia dos militares era difícil aceitar uma vitória do vizinho que o levasse a ser protagonista militarmente importante no Cone Sul. Mesmo que a derrota consumisse de vez a longevidade do regime e o Brasil ditatorial ficasse mais isolado, como de fato aconteceu no ano seguinte.

Continuemos nessa mesma época. Boa parte da oposição no Brasil se escondeu publicamente durante os dois meses de guerra, incluindo as esquerdas mais radicais. Não era fácil apoiar a Argentina sem endossar diretamente a ditadura local.

Mais ainda para trás. Quando os ingleses tomaram as ilhas em 1833, o Império se alinhou a já republicana Argentina muito mais pelo passado em comum de ex-colônias e de vizinhos que se temiam, porém já se desconfiavam das respectivas pretensões expansionistas, que começaram pela disputa sobre o território uruguaio por volta de 1811. Foi tão protocolar a posição do Brasil que a coroa britânica aceitou de pronto a proposta de seu velho amigo em responder pelos negócios de Buenos Aires em Londres.

Mesmo a aliança, anos mais tarde, entre os dois lados do rio Iguaçu (mais o Uruguai), na Guerra do Paraguai, foi produzida pelo temor ao poderio de Solano López e à ameaça que ele representava regionalmente.

Talvez nos atuais dois últimos governos a sustentação política brasileira seja mais sincera por causa do compartilhamento político-ideológico com o vizinho, mas não se a tira da zona de conforto da diplomacia. Até que o governo argentino volta e meia traga o debate para o cenário público, notadamente quando está precisando desviar a atenção de sua crescente instabilidade econômica e política.

Alguma diferença do que Galtieri tentou fazer ao invadir as Malvinas?

Voz da Rússia

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