Radoslaw Sikorski
Em uma entrevista para a "Spiegel", o ministro das Relações Exteriores polonês, Radoslaw Sikorski, 51 anos, argumenta que Moscou é mais vulnerável do que muitos acreditam, e que a União Europeia deveria assumir uma posição mais firme contra a Rússia no conflito na Ucrânia.
Spiegel: O senhor é visto como um defensor de uma posição mais dura contra a Rússia. O que o senhor pede?
A Polônia faz fronteira com a Ucrânia e outros seis países (incluindo o exclave russo de Kaliningrado)
Sikorski: Eu sempre apoiei trabalharmos juntamente com a Rússia quando possível e quando atende aos interesses de ambos os lados. Mas o que estamos enfrentando agora é uma tentativa de mudança de fronteiras com o uso da força. Uma linha de ação como essa exige uma resposta clara.
Spiegel: A União Europeia impôs sanções muito brandas contra a Rússia na quinta-feira. Não é verdade que Putin, com suas exportações de gás, tem meios muito mais eficazes de compensar essa pressão?
Sikorski: Apenas cerca de 30% do gás natural na UE vêm da Rússia. A Noruega é a maior fornecedora. Eu não acredito que a Rússia possa usá-lo para nos pressionar. Moscou precisa de nosso dinheiro.
Spiegel: O senhor sente que a Europa está passando uma imagem de fraca nesta crise? Enquanto os líderes da UE continuam discutindo o assunto em Bruxelas, Washington já impôs sanções mais fortes.
Sikorski: Os americanos fizeram ainda mais – reposicionando caças F-15 e F-16 no Leste Europeu, por exemplo. Diferente da Europa, os Estados Unidos têm um governo centralizado. Nós temos que aprender com a atual crise que a integração europeia também deve continuar no que se refere à política de segurança.
Spiegel: O senhor está decepcionado com a União Europeia?
Sikorski: O mesmo que se aplica à União se aplica ao Vaticano: Os moinhos de Deus moem lentamente, mas moem fino. Nós cometemos erros. Por exemplo, quando as negociações em torno do acordo de associação entre a Ucrânia e a UE foram concluídos em dezembro de 2010, os advogados e tradutores em Bruxelas levaram um ano inteiro para trabalhar no texto. Se ambos os lados tivessem assinado mais rapidamente na época, a Ucrânia já estaria mais estreitamente ligada à Europa há muito tempo. Nós também não prevemos quão irresponsável o presidente Yanukovych seria – e que um massacre ainda pior poderia potencialmente ocorrer na Maidan (Praça da Independência). Foi apenas nossa iniciativa conjunta de mediação, envolvendo Alemanha, França e Polônia, que impediu que isso acontecesse.
Spiegel: A Ucrânia já perdeu a península de Crimeia?
Sikorski: O fato de um pseudo-Parlamento ali ter declarado a península como sendo parte da Rússia é uma violação clara da Constituição da Ucrânia, um Estado soberano. Ainda há unidades militares e instituições ucranianas ali. Além disso, a maioria russa ali não é esmagadora. Quase 40% da população da Crimeia é composta de ucranianos ou tártaros. Também há minorias de língua russa na União Europeia – nos países bálticos, por exemplo. Seria um desastre se Putin empregasse os princípios de suas políticas ucranianas ali.
Spiegel: Nos últimos anos, a Polônia assumiu o papel de porta-voz do Leste Europeu. A UE tem pouco interesse no Leste?
Sikorski: Todo país traz sua própria perspectiva à mesa. Os espanhóis e italianos estão mais interessados na região do Mediterrâneo, os britânicos no mundo de língua inglesa. Mas quer estejam no Leste, na Ucrânia ou em Belarus, nós não podemos esquecer que há pessoas que vivem nesses lugares e que se sentem europeias, que aspiram fazer parte da UE. Mas esse não é o caso no sul – no Norte da África, por exemplo.
Spiegel: Por que os poloneses estão tão envolvidos neste conflito?
Sikorski: Os ucranianos são nossos vizinhos. Eles estão lutando pelas mesmas coisas pelas quais lutamos em 1989 – por um país mais democrático, menos corrupto e europeu.
O Informante
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