Em setembro passado, Putin limitou a importação de vinho da República da Moldávia, localizada entre a Romênia e a Ucrânia. Pouco depois, negou que cerca de 20 mil, de um total de meio milhão de trabalhadores temporários moldávios, pudessem entrar na Rússia.
E agora vem seu próximo passo com o aparente objetivo de impedir o tratado de associação: desde fevereiro, a minoria étnica dos gagaúzes vem ensaiando uma revolta contra o projeto. Baseados 100 quilômetros ao sul da capital Chisinau, eles consideram as relações econômicas com a Rússia mais importantes do que a parceria comercial com a UE.
O núcleo da resistência contra o acordo com a UE é o esquecido vilarejo de Comrat, de cerca de 23 mil habitantes e capital da região da Gagaúzia. O movimento foi iniciado por Mihail Formuzal, que, como quase todos na região, pertence à minoria étnica dos cerca de 160 mil gagaúzes. Formuzal é o bashkan deles, o que equivale a um líder. A região em torno de Comrat é administrada pelos russo-ortodoxos de etnia turca de forma autônoma – somente a Justiça, a política de segurança e as relações exteriores não estão em suas mãos.
Referendo pró-Rússia
Em fevereiro, Formuzal, ex-major do Exército soviético, convocou um referendo para que seus compatriotas se pronunciassem sobre o acordo de associação com a UE. Segundo ele, o acordo prejudicaria a economia e ameaçaria a autonomia dos gagaúzes. Não foi nenhuma surpresa que 98,5% dos cerca de 70 mil que votaram disseram “não” às relações comerciais com a UE – preferindo uma adesão à união de livre-comércio do presidente Vladimir Putin.
Cazaquistão e Belarus já são membros da união aduaneira de Putin. A partir do próximo ano, essa união deverá equivaler, em termos de direito internacional, a uma liga de Estados semelhante à União Europeia. O referendo de Formuzal não tem nenhum efeito legal, porque os gagaúzes não podem decidir sobre o futuro de toda a República da Moldávia.
A Gagaúzia já possui, há muito tempo, boas relações comerciais com a Rússia – para a região predominantemente agrícola, o mercado russo é vital. Segundo Formuzal, no mercado europeu, os produtos dos vinicultores e fruticultores não têm a menor chance. “Nossa economia ainda precisa de dez anos para se tornar competitiva na UE. Somente o mercado russo pode nos salvar ao longo dos próximos dez anos”, disse à DW.
A opinião é compartilhada por muitos nas ruas de Comrat, como Dimitri Dimcioglu. Num parquinho, o aposentado de 64 anos observa seus netos brincarem e afirma estar preocupado com o futuro deles.
“O desemprego aqui é muito alto, a indústria é muito pouco desenvolvida”, diz o aposentado, que lembra que muitos gagaúzes preferem ser trabalhadores temporários na Rússia ou na Turquia. Nas ruas, cidades e vilarejos da região, fala-se russo, em casa, o gagauz. “Ele é 95% semelhante ao turco”, explica Dimcioglu. Na televisão, todos os programas são transmitidos em russo.
Maioria comunista no Parlamento
Dimitri Dimcioglu também votou no referendo – deixando-se levar, segundo ele, por motivos pragmáticos e não políticos: “Eu não votei pela Rússia, mas pela união aduaneira. Nós, gagaúzes, não temos nada contra a UE, somos apenas contra uma ruptura com a Rússia.”
Uma aproximação da UE poderia desestabilizar a Gagaúzia – e provavelmente desgastar o papel de Mihail Formuzal como líder da minoria étnica. “O principal problema é que, atualmente, 25 mil gagaúzes estão trabalhando na Rússia. Se o acordo de associação com a UE for assinado, eles serão expulsos da Federação Russa”, alerta Formuzal, espécie de governador da região. “O que eu vou fazer? Pois as pessoas vão exigir de mim postos de trabalho, que eu não lhes posso dar.”
Segundo Formuzal, somente uma adesão à união aduaneira de Putin garantiria a estabilidade e a autonomia da região. Para tal, a Rússia já prometeu as primeiras recompensas. “Em breve, o vinho de Comrat voltará a ser importado e o preço do gás para os gagaúzes baixará”, prevê.
Formuzal: “Nós precisamos da Rússia”
Mas o referendo, que à primeira vista parece ter caráter apenas simbólico, esconde uma força política explosiva. Os gagaúzes votaram também a favor de que a sua independência da República da Moldávia seja declarada caso o Parlamento em Chisinau venha realmente a aprovar o acordo de associação com a UE.
Mas a soberania da República da Moldávia estaria ameaçada de qualquer forma. E isso, segundo Formuzal, desde que o presidente romeno, Traian Basescu, exigiu abertamente uma reunificação da Moldávia e da Romênia. Para ele, a não sobrevivência da república, que existe somente desde 1991, seria uma questão apenas de tempo.
“Os partidos de direita não aceitam a independência da Moldávia”, diz Formuzal. “Os partidos do governo tentam incitar tumultos em Comrat, conclamando a manifestações semelhantes às da Praça Maidan, em Kiev.”
No fim do ano, um novo Parlamento será eleito na República da Moldávia. De acordo com pesquisas de opinião, os comunistas estão bem à frente. “Os moldávios não são burros”, diz Inna Shapuk, deputada da bancada comunista no Legislativo moldávio. “Na TV, eles veem como uma política antidemocrática é praticada sob a égide da UE. Queremos mostrar que vantagens uma união aduaneira com a Rússia teria.”
Fonte: DW.DE/plano brasil
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