Kiev se deu por convencido: a Ucrânia anuiu em voltar a debater as vias de fornecimento de gás com representantes da UE e da Rússia. Uma reunião dedicada a essa matéria poderá decorrer em 26 de maio em Berlim, anunciaram o ministro russo da Energia e o seu colega da Comissão Europeia após as conversações bilaterais.
No entanto, Kiev não se apressa a saldar uma dívida sua no valor de 3 bilhões de dólares, enquanto Moscou lhe deu tempo para pensar até o dia 3 de junho. Ao fim e ao cabo, é a Europa que corre o risco de ficar sem gás.
A dívida ucraniana se estima em 3,5 bilhões de dólares. O seu consórcio de gás, nos termos de um contrato vigente, passa ao regime de pré-pagamento. Perante um estado grave da economia ucraniana, tal sistema, ao que parece, não irá funcionar. Por isso, a suspensão de fornecimentos de gás a partir de 3 de junho põe em causa o seu trânsito para a Europa. A empresa Gazprom receia que a Ucrânia, por tradição, procederá, como dantes, à prática de extravios ilegais do “combustível azul”, destinado para o consumidor europeu. Além do mais, para garantir o trânsito, a empresa ucraniana Naftogaz deverá, até ao inverno, fornecer aos reservatórios um determinado volume de gás, sendo necessários para tal operação cerca de 4 bilhões de dólares.
Kiev tem insistido em manter os preços de gás anteriores. É verdade que este preço não altera há já vários anos, consoante o contrato celebrado em 2009. A Rússia tinha concedido descontos significativos, mas agora a Ucrânia, devido a uma permanente violação do regime de pagamentos, perdeu tal privilégio. O preço básico não será revisto, embora Moscou esteja disposta a negociar outras questões, declarou o ministro da Energia, Alexander Novak:
“Acordamos examinar, daqui a uma semana, a questão do pagamento e outros assuntos relacionados com o programa de assistência financeira à Ucrânia, proposto pela Comissão Europeia. A Ucrânia está enfrentando problemas econômicos e financeiros. Queremos entender quais serão fontes de pagamento pelo fornecimento de gás russo”.
Até 1 de abril, o preço estabelecido pelo consórcio Gazprom era de 268 dólares por mil metros cúbicos de gás. Este valor resulta de dois descontos, feitos em 2010 e 2013. Mas a partir de 2014, Kiev deixou de pagar. A Rússia, por sua vez, revogou os benefícios anteriores e restabeleceu o preço básico equivalente a 485 dólares. O comissário europeu que manteve conversações com Novak em 19 de maio considera “alto demais” um “novo” preço proposto por Moscou. Mas Gunther Oettinger tem que reconhecer: 268 dólares são um valor que nada tem a ver com os preços de mercado. O maior problema consiste em que Kiev nem pretende reembolsar a dívida acumulada apesar de ter recebido um montante de 3 bilhões da UE. Em vez de amortizar a dívida, Kiev não deixa de ameaçar com “penas terríveis”, processando a Rússia no Tribunal de Arbitragem de Estocolmo. O chefe do Gazprom, Alexei Miller, não se dá por vencido:
“É preciso compreender que a participação do Tribunal de Estocolmo não adianta nada. O problema de pagamentos não se resume a um problema do relacionamento entre duas entidades económicas – as empresas Gazprom e Naftogaz. É uma questão da economia ucraniana falida. E este é um problema da crise sistémica”.
O presidente russo lançara já dois apelos aos líderes europeus advertindo que a questão do trânsito de gás deveria ser solucionada. Bruxelas se envolveu em jogos políticos, podendo, em última análise, ficar sem gás. Agora, a UE procura inventar novas vias de fornecimento de gás russo para a Europa. Para tal existem certas vias – uma já foi construída, a segunda via está em construção. Mas os políticos europeus criaram uma situação de impasse, limitando os fornecimentos ao “terceiro pacote energético”, assinala Alexander Novak:
“O projeto South Stream se realiza conforme o plano, devendo, devido à sua escala, diversificar os fornecimentos e diminuir tais riscos. O gasoduto Opal está construído e a Comissão Europeia poderia, para o benefício de consumidores europeus, autorizar o seu enchimento em pleno volume”.
O Opal, com a capacidade de 36 bilhões de metros cúbicos, passa pela Alemanha, ligando o North Stream transbáltico às redes de gás existentes. A Rússia e a Alemanha gostariam que o Opal fugisse às normas do “terceiro pacote energético” da UE, segundo as quais o gasoduto se enche apenas pela metade. Tal opção já está preparada, mas a Comissão Europeia não se dispõe a dar esse passo, preferindo buscar “vias alternativas”. Por exemplo, conceder a Kiev bilhões de dólares para que possa reembolsar a sua dívida perante Moscou. Todavia, a UE não pode garantir que esse dinheiro chegue ao destinatário.
Enquanto Moscou e Bruxelas estão resolvendo o problema de gás, as ações das autoridades de Kiev se tornam cada vez mais enérgicas. Há dias, o “presidente” Turchinov proibiu à Rússia cortar o fornecimento de gás para o seu país. Está ciente de que “uma parte contratante não pode, unilateralmente, suspender o fornecimento”. Além disso, qualificou a postura de Moscou como “uma chantagem”. Resta saber como ele, sendo presidente “interino”, pode dar indicações ao governo russo? Pelo contrário, a “chantagem” foi praticada pela Ucrânia durante 23 anos. Parece ter chegado a altura de pôr termo a essa prática desleal.
Voz da Rússia
Author Details
Templatesyard is a blogger resources site is a provider of high quality blogger template with premium looking layout and robust design. The main mission of templatesyard is to provide the best quality blogger templates which are professionally designed and perfectlly seo optimized to deliver best result for your blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário