A Europa se recusa a aumentar a pressão sobre a Rússia. Seus interesses nacionais estão ditando um modo de comportamento diferente nas relações com Moscou. Mas tal postura não agrada a Washington que se prepara para adotar e implementar o terceiro pacote de sanções anti-russas, mas nada pode fazer nessas circunstâncias.
Um dos exemplos mais recentes é a França que não tenciona desistir de fornecimento de dois navios de guerra Mistral. Cumpre notar que a respectiva decisão foi tomada após um discurso proferido pela secretária de Estado adjunta para a Europa, Victoria Nuland, que, em 8 de maio, advertiu Paris contra tal passo.
A posição assumida pelo Departamento de Estado tem causado inquietação e irritação no Palácio do Eliseu que compreende este truque anti-francês dos americanos para os quais os interesses da França não valem nada perante a doutrina de “solidariedade transatlântica”, considera o analista militar, Mikhail Khodarenok:
“No caso de cancelamento do contrato de fornecimento de dois porta-helicópteros, se seguirão sanções e multas bem dolorosas. Em segundo lugar, a produção de dois navios tem garantido emprego para muitas empresas francesas em condições da crise economia geral. A abolição de contratos levará à redução dos postos de trabalho, o que contraria os interesses de Paris.
Se torna cada vez mais claro que o papel da Rússia na crise ucraniana tem sido exagerado por seus oponentes geopolíticos. Por isso, o terceiro pacote de sanções anti-russas está em jogo. A sua aplicação irá desferir um sério golpe à economia comunitária, podendo as medidas punitivas afectar, antes de mais, os países do Báltico, de patentes ânimos anti-russo ”.
Ao mesmo tempo, um posicionamento pragmático tem sido assumido pelos governos da Grécia, Hungria, Luxemburgo, Áustria, Bulgária, Chipre, Malta e Portugal. Com isso, alguns deles exigem uma compensação monetária pelo boicote a Moscou anunciado por Bruxelas. Se, por exemplo, a Eslovénia aderir às sanções anti-russas, isto provocará efeitos negativos para a sua economia nacional e à diminuição do PIB em 1,3%. O orçamento da Grécia perderá, por causa da guerra comercial contra a Rússia, 7,5 bilhões de euros na área de turismo.
Curioso notar que as três maiores economias da Europa se pronunciam contra as sanções. A Grã-Bretanha não quer congelar ativos de muitos bilhões dos oligarcas russos em Londres. E o empresariado alemão apela a que Berlim “tome juízo” para não criar obstáculos a milhares de empresas em contacto directo com os seus parceiros de negócios russos. Sob este pano de fundo, foi muito atual o apelo lançado pelo antigo chanceler alemão, Gerhard Schreder, para que “se pense menos em sanções e mais nos interesse próprios da Alemanha”.
Em resumo, cada membro da União Europeia tem suas razões de sobra. O importante é que os esforços enérgicos de Washington no sentido de criar uma imagem da frente anti-russa única se debatem com uma resistência ativa quando se trata de questões económicas reais. Por paradoxal que pareça, a Europa está temendo o terceiro pacote mais do que a própria Rússia.
Segundo o cientista político Boris Mezhuev, a Rússia tem uma possibilidade de convencer o establishment ocidental quanto a uma opção sensata que passe pela neutralidade:
“Temos visto o enfoque da França em relação à colaboração militar com a Rússia. Constatamos declarações vindas de outros países europeus. Parece-me que a opinião pública do Ocidente se inclina para uma visão mais calma das ações da Rússia. Isto é visível na imprensa ocidental. Ao contrário de fevereiro e março, a imprensa de hoje não tem uma marcada tonalidade anti-russa como antes”.
Claro que tudo poderá mudar. A situação tem sido muito complexa para podermos antever o futuro. A “solidariedade transatlântica” pode levar a melhor sobre o pragmatismo econômico. Mas não se pode excluir um cenário completamente contrário. O Ocidente não pode continuar ignorando a realidade para a qual a Rússia tem apontado.
Ao que tudo indica, num futuro próximo, o Ocidente irá levantar as sanções anti-russas sem fazer muito barulho. Por um lado, isto permitirá aos políticos ocidentais tomar em conta a preocupação dos círculos industriais e financeiros, por outro lado, dará a possibilidade de preservar uma boa imagem.
Se bem que essa “boa imagem” já tenha sido estragada: a integração da Crimeia demonstrou a hipocrisia e os padrões duplos praticados pelo Ocidente em relação ao resto do mundo, bem como a possibilidade limitada de influir na política mundial por meio de ultimatos e chantagem.
Voz da Rússia
terça-feira, 13 de maio de 2014
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Europa se opõe à política anti-russa dos EUA
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