O presidente dos Estados Unidos Barack Obama, discursando para estudantes da academia militar de West Point, anunciou que o papel de liderança dos Estados Unidos permitiu organizar um boicote mundial da Rússia. Megalomania, concluem peritos.
Barack Obama não tem dúvidas de que seu país irá carregar o fardo da dominação do mundo ainda por muito tempo. A questão é como é que ele o vai fazer. Em particular, segundo o presidente, com a ajuda de uma economia dinâmica e empresas inovadoras. E também reduzindo sua dependência energética da Europa e da Ásia.
Mas os Estados Unidos estão dispostos a usar também a força militar, caso forem ameaçados os seus interesses nacionais. E esses interesses, segundo a lógica geopolítica de Obama, podem surgir em qualquer lugar do mundo. O preito militar Igor Korotchenko destaca esta tese básica da política externa norte-americana:
"Presidentes norte-americanos sempre gostaram de enfatizar que seu país foi escolhido por Deus, e que é a ele que cabe decidir os destinos do mundo. Mas em termos práticos o discurso de Obama deve ser visto no contexto do fato de que essas palavras foram proferidas perante à futura elite militar do país.
O Exército e a Marinha dos Estados Unidos são os instrumentos que determinam em grande parte o papel do país no cenário mundial. É uma reivindicação de liderança global, que é baseada principalmente na superioridade técnico-militar dos EUA em relação a todos os outros países. Não é segredo que o complexo militar-industrial dos Estados Unidos está crescendo rapidamente. Nele estão sendo investidas quantias enormes. Nele estão concentradas as tecnologias mais avançadas que existem no mundo. Projetando novos sistemas de armas, os norte-americanos pretendem se garantir um avanço tão irreversível que ninguém mais pense em duvidar do poder militar dos Estados Unidos".
Ao mesmo tempo, se surgirem questões globais que não representam uma ameaça direta para os Estados Unidos, o limiar para a aplicação de forças armadas deve ser mais alto, disse o chefe da Casa Branca. Em circunstâncias que não necessitem de intervenção militar direta, os Estados Unidos tentarão se limitar a ações diplomáticas e à cooperação com seus aliados.
Como um dos exemplos dessa cooperação Obama mencionou as ações dos EUA contra a Rússia por causa da situação na Ucrânia. Segundo ele, Moscou está em isolamento internacional. No entanto, os fatos sugerem o contrário, acredita o analista político Leonid Gusev:
"O que quer dizer isolamento? A Rússia assinou acordos com a China, têm relações com muitos países europeus, que não desapareceram: com a Alemanha, a Itália, a França, em particular. Comércio, intercâmbio de estudantes, outras formas de cooperação. Portanto, declarações sobre o isolamento da Rússia são uma peculiar retórica, especialmente se tivermos em conta o local onde essas palavras foram proferidas".
O problema de Obama é que ele é um prisioneiro do papel que assumiu ao se tornar presidente dos Estados Unidos, supõe Leonid Gusev:
"Obama é um refém de suas promessas de campanha. Ele concorreu à Casa Branca como anti-Bush. Não foi por nada que lhe deram o Prêmio Nobel da Paz. Ele prometeu que não iria fazer nada parecido com a política anterior dos EUA no Iraque, no Afeganistão, na Iugoslávia. E para ele é difícil sair além desses limites. A situação nos Estados Unidos hoje é tal que seu índice de aprovação caiu bem baixo".
As declarações de Obama perante a futura elite militar da nação destinavam-se, sem dúvida, a consumo interno, acredita o cientista político Boris Mezhuev:
"O discurso foi dirigido, em primeiro lugar, aos norte-americanos. Porque além dos norte-americanos ninguém acredita que Barack Obama conseguiu o isolamento da Rússia. Todos entendem que não se pode tratar de nenhum isolamento sério em relação a Moscou nem por razões econômicas, nem ainda menos por políticas. Sem falar de que a assinatura do acordo sobre a União Econômica Eurasiática (UEEA) entre a Rússia, a Bielorrússia e o Cazaquistão prova que os processos de integração no espaço pós-soviético tão pouco terminaram.
Os eleitores norte-americanos eram muito sensíveis ao envolvimento dos EUA em conflitos fora do hemisfério Oeste. No ambiente republicano o sentimento isolacionista é muito comum. E Obama está mostrando que não pretende gastar forças, recursos financeiros e humanos dos Estados Unidos, para resolver problemas que para eles não são estrategicamente significativos".
O diretor do Centro de Comunicações da Eurásia Alexei Pilko acredita que o principal fator impedindo os norte-americanos de responder adequadamente a novos desafios e ameaças, é a sua megalomania:
"Os EUA, já não sendo um líder mundial absoluto (como era 10–15 anos atrás), continuam teimosamente a desempenhar o papel de líder global. Embora esse papel já não corresponda nem aos seus interesses, nem ao seu potencial. Isso está acontecendo não porque a elite norte-americana não entenda que os tempos da liderança global dos EUA já passaram para sempre. A razão da incapacidade de corrigir o curso é que na consciência dos norte-americanos foi martelada a tese da vitória na Guerra Fria e da liderança global eterna dos EUA. Isso já se tornou parte da ideologia de estado norte-americana. Cedo ou tarde isso mudará. Deve apenas passar algum tempo".
Sinal indireto das próximas mudanças pode ser o comentário de Obama de que ter nas mãos o melhor martelo do mundo não significa que todos os problemas se transformam em pregos. Aparentemente, o presidente dos EUA reconheceu assim os limites do uso de força como meio de influência geopolítica e a necessidade da coexistência pacífica de civilizações.
Voz da Rússia
sexta-feira, 30 de maio de 2014
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Megalomania dos EUA como fator geopolítico
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