“A Rússia não está acolhendo refugiados ucranianos. Pelo contrário, há tanques russos e mísseis Grad a movimentar-se pelo território da Ucrânia”. Quem o afirma é a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Marie Harf, que sucedeu nesse cargo à “estrela” da política norte-americana Jen Psaki.
Verdade seja dita, ela tampouco citou quaisquer provas deste “cenário trágico”. Ora, a impressão é que Washington e Kiev, envolvidas na guerra informativa de sua lavra, pelo visto acreditam sinceramente na guerra da Rússia contra a Ucrânia, salientam peritos.
“Os dados da imprensa russa sobre largos fluxos de refugiados não correspondem à realidade”, prossegue Marie Harf. Daí a pergunta: quem é que são estas dezenas de milhares de pessoas que vão atravessando diariamente a fronteira russo-ucraniana?
Ao que parece, o Departamento de Estado não afasta a hipótese sobre alegados viajantes que, “tendo férias de verão, vão a casa dos seus familiares na Rússia” ou de especulações de que em Lugansk e Donetsk, contra os nacionalistas ucranianos, estará a lutar um contingente militar russo. Dizem que testemunhas oculares teriam visto “uma caravana de veículos não identificados” entrando em Lugansk no passado dia 20 de junho. Além disso, Washington afirma contar com uma foto de um sistema de fogo simultâneo Grad, supostamente utilizado pelas tropas russas.
Por outro lado, a diplomacia dos EUA vem silenciando o fato de emprego desse mesmo tipo de armas pesadas pelas tropas ucranianas, que têm alvejado vilas e aldeias pacíficas do Sudeste. Na lógica de seu raciocínio, o emprego de armas pelas autoridades de Kiev faz parte da luta contra “terroristas”.
A situação faz lembrar um acordo histórico entre Londres, Washington e Berlim que, em meados do século passado, fizeram os possíveis para provocar a URSS, obrigando Moscou a assestar um ataque preventivo contra a Alemanha nazista, assinala o politólogo Viktor Efremov:
“O atual cenário tem muitos precedentes análogos. Os “globalizadores” procuram prender o mundo com ferro sangue. Mas a Rússia poderá propor um cenário alternativo”.
O governo de Kiev, lutando contra seu povo, não pára de apostar nos métodos mais cruéis. Para além dos Grad referidos, tem usado bombas de ogivas múltiplas e fósforo branco, enquanto os ultranacionalistas vão alvejando veículos que transportam feridos. E tudo isso acontece com o consentimento silencioso do Ocidente. Washington e Kiev afirmam em uníssono: no Sudeste já não há habitantes pacíficos. Tal linha de ação não foi escolhida por acaso, sustenta o analista russo Alexei Panin:
“Quanto mais a Rússia se envolver nos acontecimentos na Ucrânia, tanto mais fácil será introduzir novas sanções antirrussas. Desse jeito, os EUA terão menos problemas competindo com a Rússia no espaço europeu. Trata-se, antes de mais, do mercado de petróleo e gás da UE. Ao mesmo tempo, certas forças políticas poderão especular sobre a “agressão” da Rússia o justificaria a expansão da OTAN para o Leste europeu. Tudo isso não passa de uma política de provocações militares”.
Enquanto isso, as tropas governamentais se aproveitam da trégua anunciada pelo presidente Poroshenko para fazer o reagrupamento de forças. O armistício tão esperado não passa de palavras: o Exército continua alvejando as povoações nas regiões de Donetsk e Lugansk. Poroshenko tem acusado disso as milícias populares que se tornam “alvo de ataques de retaliação”. O vice-presidente dos EUA, por seu turno, qualificou essas ações de “justas e altamente profissionais”.
A tutela de Washington inspira Kiev a novas provocações ideológicas contra a Rússia. Permitindo aos elementos radicais assaltar os edifícios de embaixadas, consulados e bancos russos, as autoridades ucranianas nem se apercebem que os EUA perseguem seus próprios objetivos, frisa o redator-chefe da revista Geopolítica, Leonid Savin:
“Os EUA procuram se aproveitar dos conflitos internacionais. Isto se refere tanto às relações russo-ucranianas, como a um espetro geopolítico muito mais amplo, abrangendo os países da Europa, Ásia ou da América Latina. Uma vez que a Rússia está no auge da sua influência geopolítica, os EUA tentam abalar o seu prestígio para continuar edificando o mundo unipolar. Para tal será necessário debilitar a Rússia e a China”.
A postura assumida pelo governo ucraniano foi muito bem caraterizada por um dos líderes dos milicianos, Igor Strelkov. No seu entender, os oligarcas entrincheirados em Kiev se tornaram reféns da sua própria máquina propagandística. Para eles, acabar as hostilidades significa incitar novas revoltas dos adeptos do Euromaidan. É pouco provável que eles se mantenham no poder. Kiev se viu num zugzwang clássico, o que no xadrez se refere a uma situação em que um jogador é obrigado a fazer uma jogada capaz de piorar a sua situação, podendo até levar à derrota. Todavia, quer queira, quer não, terá de fazer o lance seguinte.
Voz da Rússia
terça-feira, 24 de junho de 2014
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Kiev colhe os frutos da propaganda antirrussa
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