O ministro da Defesa Celso Amorim poderá ser o mediador no conflito da Síria.
O ministro da Defesa Celso Amorim é um dos nomes considerados para assumir o papel de mediador da ONU na interminável guerra da Síria. O papel já foi desempenhado pelo ex-secretário-geral Kofi Annan e estava entregue até fim de maio ao experiente diplomata Lakhdar Brahimi, um paciente negociador por quase dois anos.
Os dois renunciaram, cada um no seu estilo, mas ambos igualmente desesperançados com a possibilidade de um acordo entre o governo e os muitos grupos rebeldes na Síria, costurado com países da região e nações do Conselho de Segurança. Sondado por um colega, o ministro deu a resposta clássica: contou que, em diversas ocasiões, tinha consciência de que seu nome era indicado aqui e ali, mas nunca comentou e não queria comentar agora.
É uma missão quase impossível e, por isso mesmo, reservada a diplomatas com reconhecimento internacional e gosto pelo perigo. Foi um desafio perdido pelos dois mais competentes negociadores da ONU e só tornou-se mais assustador neste último mês. O presidente Bashar al-Assad foi reeleito com uma maioria garantida a ditadores em processos não democráticos e o panorama no front ficou ainda mais violento com o rápido domínio territorial e político do Estado Islâmico - os jihadistas Hard core do ISIS que proclamaram um califado sem respeitar as fronteiras de Síria e Iraque.
Para sair da irrelevância, a ONU precisa recriar sua estratégia de ação na região onde o impossível não para de acontecer: na última reviravolta, eternos adversários - como Irã e Arábia Saudita ou EUA e Rússia - estão do mesmo lado, todos contra a nova grife jihadista. A guerra na Síria, com mais de três anos, 160 mil mortos, milhões de refugiados, se internacionaliza com a travessia do Isis para o Iraque, a desestabilização ainda maior da região e a possibilidade de atentados na Europa e EUA.
O Job description do novo mediador na ONU inclui conversar com essa gente toda, incluindo o Isis. O nome de Amorim ainda está em análise num Petit comité e, se confirmado, terá de ser endossado pelo governo brasileiro e aprovado pelo Conselho de Segurança. Mais importante, o atual ministro da Defesa tem de dizer "sim" ao convite, deixar-se seduzir pela possibilidade de minorar a tragédia árabe e pela garantia de estar sob os holofotes do mundo.
"Faz sentido um brasileiro", diz um funcionário das Nações Unidas familiar aos processos de escolha da organização.
Por quê? O Brasil é talvez o único país a ter boas relações com todos os países envolvidos, tem bom trânsito até com o governo Assad - via embaixada em Brasília e na ONU. Conversa bem com Israel, Egito, Líbano, Jordânia, Arábia Saudita; com o Iraque não muito, mas lá a interlocução com governo é difícil para todos. O governo brasileiro - na época de Lula presidente e Celso Amorim ministro das Relações Exteriores - mostrou independência ao negociar junto com a Turquia o célebre acordo nuclear com Irã, em 2010, para o qual teve luz verde do presidente Obama e do secretário-geral da ONU. O Departamento de Estado estava dividido, a então secretária Hillary Clinton torpedeou a iniciativa, mas até hoje cita-se aquela negociação como uma oportunidade perdida.
No Conselho de Segurança, diz um executivo da ONU, o nome de Amorim teria apoio da França, certamente da China e Rússia - parceiras do Brics - provavelmente do Reino Unido e a maior incógnita são os Estados Unidos. Há chances de a resposta ser "sim", já que a poderosa Hillary hoje é "só" a mais provável candidata democrata na próxima eleição e não será mais consultada sobre a possível indicação do brasileiro.
Existem mais pontos a favor. O Brasil está em negociações para reforçar a sua presença no Oriente Médio, justamente via Ministério da Defesa. Como a participação brasileira no Haiti está para acabar nos próximos meses, a ONU pediu ao país que mande as já treinadas tropas para reforçar a missão de paz no Sul do Líbano. A resposta ainda não foi dada. "As tratativas estão em curso nas esferas militares", disse uma fonte da Defesa. Desde outubro de 2011, o Brasil comanda o braço naval da força de paz da ONU no Líbano e lá mantém uma fragata com 250 homens. "É a nossa contribuição para um mundo melhor", disse Amorim numa cerimônia de troca de comando em 2012.
Na mesma linha, acabam de chegar 11.500 toneladas de arroz brasileiro para os refugiados palestinos, e o Brasil deve passar a fazer parte do conselho de administração da UNRWA, a agência de refugiados.
Ou seja, as cartas já estão na mesa, mas as negociações acabam de começar. Se o convite for oficializado, será feito ao diplomata Celso Amorim pessoa física, não como representante do governo brasileiro.
Os pontos-chave
1 - Nome de Celso Amorim é estudado para mediador da ONU no conflito sírio
2 - Missão no Haiti está para acabar e Brasil pode enviar tropas ao Líbano
3 - Brasil tem bom trânsito entre os países do Oriente Médio
Defesa Net
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