No início do século XX, engenheiros de todo o mundo se interessaram pela possibilidade de haver deslocação subterrânea para fins militares. Os países pioneiros nessa área foram a URSS e a Alemanha. Depois de o homem ter avançado para a atmosfera e para debaixo de água, o avanço em direção ao subsolo era perfeitamente lógico. Já a deslocação debaixo de terra estava dificultada devido à grande densidade do meio envolvente.
A sua execução acontece, regra geral, depois de ser aberto um caminho prévio, o que ocupa bastante tempo. Meio século depois da invenção do primeiro escudo de tunelamento, com a ajuda do qual se constroem túneis já há mais de cem anos, os autores de ficção científica já sonhavam com viagens ao centro da Terra. Pouco tempo depois tiveram início os estudos nessa área.
Um dos primeiros foi o alemão Ritter com seu projeto Midgard-Schlange (Serpente do Midgard) no início dos anos de 1930. O veículo subterrâneo de Ritter, na intenção do engenheiro, deveria transportar explosivos para detonar as fortificações da Linha Maginot. O veículo deveria ser composto de vários compartimentos, do tipo vagões, e ter um comprimento de 524 metros. Cada compartimento teria 6 metros de comprimento, 6,8 metros de largura e 3,5 metros de altura. Além de se deslocar debaixo de terra, o aparelho deveria ser igualmente usado para deslocações na superfície e dentro de água. Disso também dependia sua velocidade: 2 km/h em solo rochoso, 3 km/h debaixo de água, 10 km/h em solos moles e 30 km/h à superfície. Em 1935 o projeto foi entregue ao engenheiro para conclusão, mas história é omissa quanto ao que se passou a seguir.
Outro projeto alemão foi patenteado pelo engenheiro von Verne um ano antes, em 1933, mas a Wehrmacht só se interessou por ele em 1940. Desta vez também não se chegou à fase de testes, porque na fase de experiências laboratoriais a “subterrina”, que de acordo com os planos deveria atingir uma velocidade de 7 km/h, foi considerada como um projeto inseguro.
Os cientistas soviéticos também começaram nos anos de 1930 seus estudos para a criação de meios de transporte subterrâneo. Uns dos primeiros nessa área foram os engenheiros Trebelev, Baskin e Kirillov. Eles estudaram em pormenor os movimentos dos ossos e músculos da toupeira e nos seus projetos tentaram transmitir ao veículo essas capacidades criadas pela natureza. O aparelho estava equipado com uma broca, que rodava com uma velocidade de 300 rotações por minuto, e desenvolvia uma velocidade de 10 m/h em solos rochosos. Os testes do “podzemokhod” (veículo subterrâneo) só decorreram em 1946, depois do que o projeto foi temporariamente encerrado.
Nos anos sessenta a URSS regressou às ideias de Trebelev, quando em 1962, por decreto de Khrushchev, na Ucrânia foi criada uma fábrica de veículos subterrâneos. O protótipo experimental que a fábrica produziu obteve o nome de código de Toupeira de Combate (Boievoy Krot) e os seus testes decorreram na montanha Blagodat, nos Montes Urais, no mesmo sítio em que foi testado o “podzemokhod” de Trebelev. O primeiro teste dessa máquina de 35 metros de comprimento, capaz de transportar simultaneamente cinco pessoas, decorreu com sucesso e provocou furor. A Toupeira de Combate atravessou a montanha a uma velocidade de 7 km/h. Mas durante a segunda tentativa o protótipo explodiu, juntamente com a tripulação, no interior da montanha. Esses testes continuam classificados como secretos e o destino da Toupeira de Combate continua desconhecido.
Nos anos 70 e 80 do século passado um grupo de cientistas criou a tecnologia geowinchester de trabalhos subterrâneos. Na mesma altura foi criado o primeiro protótipo experimental do geokhod (máquina de perfuração) ELANG-3, com 3 metros de diâmetro.
Depois do sucesso dos testes do ELANG-3, foi construído o geokhod ELANG-4, com 4 m de diâmetro, e que tinha um desenho e um princípio de funcionamento diferentes. O protótipo experimental realizou testes de bancada, mas devido ao fim do seu financiamento no tempo da Perestroika os trabalhos de fabrico dos geokhods foram suspensos.
No início dos anos 2000, um grupo de cientistas constituído por Valeri Gorbunov, Alexei Khoreshok, Andrei Yefremenkov, Vladimir Sadovets, Vadim Timofeev, Viacheslav Begliakov e Mikhail Blaschuk, dirigidos pelo professor Vladimir Aksionov, iniciou a construção de geokhods de nova geração e o aprimoramento da tecnologia geowinchester.
A escavação de galerias começou sendo abordada, em primeiro lugar, como um processo de movimento de um corpo sólido num meio sólido, e só depois, em caso de necessidade, como um processo de formação de galerias no meio rochoso.
A iniciativa da equipe de cientistas foi apoiada pelo Estado. O orçamento correspondente ao decreto governamental da Rússia Nº 218 intitulado “Desenvolvimento e início de produção de um novo tipo de máquinas de escudo de tunelamento multifuncionais – geokhods” é de 90 milhões de rublos. O protótipo deverá estar pronto em 2015.
No desenvolvimento do geokhod de nova geração participam a Fábrica Experimental de Reparações Mecânicas de Kemerovo, o Instituto do Carvão do Departamento da Sibéria da Academia de Ciências da Rússia, o Instituto Tecnológico de Yurga (filial) da Universidade Politécnica de Tomsk, a Universidade Técnica Estatal de Kuzbass e o Instituto de Mineração do Departamento da Sibéria da Academia de Ciências da Rússia.
O modelo do geokhod que está sendo desenvolvido, e que terá um diâmetro de 3,2 metros e um comprimento de 4,5 metros (sem os módulos adicionais) será capaz de alcançar uma velocidade de 6 m/h. A secção da cabeça da máquina irá rodar com uma velocidade de 7,5 rotações por hora. Esse aparelho não tem análogos no mundo e representa um tipo completamente novo de tecnologia de escavação de túneis, o que é confirmado pelas conclusões dos peritos. Os forros das galerias e os revestimentos dos túneis subterrâneos terão um aspeto diferente. Entre as vantagens tecnológicas do novo geokhod, que o distinguem de todas as outras máquinas semelhantes, se destacam o aumento da produtividade em mais de quatro vezes, a capacidade de funcionamento em qualquer posição e a execução combinada das operações de escavação necessárias.
Os ministérios da Defesa, de Situações de Emergência, da Indústria e Comércio, assim como a comunidade profissional têm um grande interesse na invenção dos cientistas siberianos.
As principais áreas de aplicação da máquina siberiana são os trabalhos associados às obras de infraestruturas subterrâneas urbanas: a construção de coletores, instalação para armazenagem, passagens subterrâneas e túneis de metrô. A máquina também pode ser usada em trabalhos de salvamento em casos de desmoronamentos e na construção de fortificações. Isso sem falar na indústria de mineração, onde o geokhod, com sua capacidade para escavar o subsolo rochoso em qualquer posição e orientação, poderá ser de grande utilidade.
Depois dos testes do protótipo, em caso de necessidade, a máquina e a tecnologia de seu funcionamento serão modificadas de acordo com os dados obtidos. Nessa altura poderemos prever quando se poderá iniciar seu fabrico em série.
Voz da Rússia
quarta-feira, 16 de julho de 2014
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Cientistas russos dão mais um passo em direção ao centro da Terra
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