O improvável ataque da Ucrânia, apoiado pela OTAN, contra a Rússia. - Noticia Final

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terça-feira, 8 de julho de 2014

O improvável ataque da Ucrânia, apoiado pela OTAN, contra a Rússia.

Em pelo menos três ocasiões tentei desmontar a ideia de que EUA/OTAN possam atacar a Rússia ou forças russas na Ucrânia (vide aqui, aqui e aqui). Tentei mostrar que a geografia, a excessiva distância e a política tornaram impossível um ataque convencional; e tentei mostrar que sempre pode acontecer de um ataque nuclear, tático ou estratégico, não ser bem-sucedido.

Há agora uma nova teoria por aí, que diz mais ou menos o seguinte: a Ucrânia será rearmada e reorganizada com ajuda técnica e financeira do Império Ocidental e atacará a Crimeia, possivelmente com apoio aéreo da OTAN. Parece assustador. A boa notícia é que é teoria tão implausível como outras teorias. Hoje, quero explicar por quê.

Em primeiro lugar, de um ponto de vista militar, não existe o tal de “ataque à Crimeia” separado de ataque em escala total contra toda a Rússia. A Crimeia não é uma ilha distante no meio de lugar algum (como as Malvinas) e em bem pouco tempo já estará completamente integrada ao sistema russo de defesa. Segundo, como é península, a Crimeia é extremamente difícil de atacar, como britânicos e alemães descobriram. Assim, não importa a embalagem em que metam a ideia – e de um ponto de vista puramente militar -, um ataque à Crimeia, para ter alguma chance de sucesso, tem de incluir ataque em escala total contra a Rússia.

E permitam-me descartar de uma vez por todas o argumento de que a OTAN teria ‘fortíssimo’ poder de fogo aéreo: não tem; e não fracassou miseravelmente só na Bósnia; sequer conseguiu reunir o mínimo necessário para atacar a Síria; e de atacar o Irã, então, nem se fala.

A Força Aérea dos EUA (USAF) voa ou ótimos aviões velhos ou péssimos aviões moderníssimos, cujas dificuldades serão imensíssimas, se tiverem de lidar simultaneamente com a Força Aérea Russa e com o Sistema Russo de Defesa Aérea, especialmente em torno da Crimeia. Bombardear uma Servia praticamente indefesa por 78 dias (e com resultados patéticos!) é uma coisa; tentar bombardear a Crimeia e a própria Rússia é muito, muito diferente, em ordem de magnitude muito, muito maior.

Quanto às forças em solo de EUA/OTAN, não conseguiriam nem se aproximar, sequer, de lugar algum próximo, que seja, da Crimeia. O que nos deixa com a Marinha dos EUA.

Diferente do Exército e da Força Aérea dos EUA, a Marinha dos EUA está em muito melhor forma e é muito mais poderosa que a Marinha Russa. Mas para participar de modo significativo de um ataque contra a Crimeia, ela teria de agir a partir do leste do Mediterrâneo; e entrar pelo Mar Negro só não seria suicídio porque seria impossível para os porta-aviões dos EUA (além de contrariar cabalmente a doutrina naval dos EUA). De fato, a Marinha dos EUA poderia infligir ataques muito mais devastadores contra a Rússia no Pacífico, na Península Kola ou, até, no Mar Báltico, que no sul da Rússia.

O que deixa em campo uma hipotética “futura força militar ucraniana” (a que existe hoje não conseguiu nem tomar Slaviansk ou Kramatorsk, nem manter-se em Krasnyi Liman). Podem-se propor quantas hipóteses fantasiosas nos ocorram sobre o quanto esse futuro exército ucraniano poderia sentir-se motivado. Mas absolutamente não consigo imaginar o que motivaria algum futuro soldado ucraniano a ir à guerra contra a Rússia, ainda que fosse pela Crimeia.

Mas mesmo que se assuma como possível a mais tremendamente poderosa motivação, o fato é que o máximo que a Ucrânia pode esperar para os próximos entre 1 e 10 anos é pôr em armas vários homens, que só contarão com equipamento militar antiquado por mais que lhes colem modernos equipamentos de comunicação eletrônica, sistemas de mira, redes de comando e controle, etc. Mas mesmo essa só relativamente ‘modernizada’ força militar ucraniana enfrentaria o mesmo fator que derrotou os suecos, os cruzados, Napoleão e Hitler: não, não, não falo do desgraçado “General Inverno”: falo da profundidade estratégica da Rússia. Dou um exemplo.

Uma das armas mais formidáveis no arsenal militar russo é o novo bombardeiro Su-34, cujo raio de combate é estimado em mais de 1.000 quilômetros, mas que já voou 6.000 quilômetros com dois reabastecimentos em voo. Numa missão de combate, esses Su-34s podem ser protegidos por Su-35S’ avançados, que têm raio de combate muito semelhante. Em termos práticos, significa que a Força Aérea Russa pode atacar unidades ucranianas praticamente a partir de qualquer ponto a oeste dos Urais. (Já escrevi que a Rússia tem 28 Airborne Warning And Control System (AWACS), e a Ucrânia, nenhum?) É só um pequeno exemplo, mas ilustra o tipo de importância estratégica diferente, que a profundidade estratégica tem hoje, na guerra moderna.

Poderia dar dezenas de outros exemplos, mas acho que a ideia já está clara: nenhuma nova força militar ucraniana, ainda que se beneficie de ajuda financeira e técnica do ocidente e ainda que consiga soldados motivados, simplesmente não tem absolutamente chance alguma de retomar a Crimeia; e de impor-se em conflito contra a Rússia, disso, então, nem se cogita.

Assim sendo, o único risco real é que os Ocidentais ordenem ao seu Gauleiter[1] em Kiev (seja Poroshenko ou qualquer outro) que provoquem conflito com a Rússia, não para ‘vencerem a guerra’, mas para criar uma crise que force a Rússia a usar seu poder militar. Infelizmente, a Ucrânia sempre terá poder militar suficiente para atacar a Crimeia e matar muita gente. O ataque fracassará. Mas estará iniciada uma crise.

Seja qual for o caso, os militares russos já anunciaram grande movimento para reforçar as defesas da Península da Crimeia e do Mar Negro (incluindo novos bombardeiros, submarinos, sistemas aéreos de defesa, infantaria naval, etc.). Na verdade, tudo indica que a Rússia fará da Península da Crimeia o nódulo chave de todo seu posicionamento de defesa no sudoeste.

Pessoalmente, creio, sinceramente, que essas teorias só fazem alimentar manchetes de jornalismo ocioso; é altamente improvável que alguém, seja quem for, pense em atacar a Rússia; e não se deve dedicar tempo demais a essas possibilidade fantasiosas. Ameaças muito mais realistas que qualquer ataque militar convencional são, hoje, ataques de terroristas sem-noção e ações para subverter a minoria tártara crimeana.

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