A Rússia começou manobras planejadas nas Curilhas do Sul, sobre cuja realização tinha antecipadamente anunciado. Porém, a reação do Japão face às manobras foi bastante nervosa.
O primeiro-ministro Shinzo Abe declarou: “A realização de semelhantes manobras nos nossos territórios setentrionais é absolutamente inadmissível”.
Alexander Panov, conhecido orientalista russo, antigo embaixador no Japão, considera que a reação é incondicionalmente negativa, mas, não obstante, é um episódio nas relações da Rússia e do Japão:
“Este episódio inscreve-se no quadro geral das relações bilaterais, que estão cada vez mais em queda. A estratégia dos japoneses de estarem sentados em duas cadeiras mostrou não ser consistente. Os japoneses quiseram participar na condenação da Rússia ao lado do Ocidente, mas, por outro lado, tentam continuar o diálogo com a Rússia e a cooperação, resolvendo a tarefa colocada por Abe de busca de uma via para a chegada à assinatura de um acordo de paz”.
Panov considera que, ao manifestar essa dualidade, o Japão anunciou sanções contra a Rússia, mas mais suaves do que o Ocidente. Ele criticou a Rússia, mas não retirou da ordem do dia a preparação da visita de Vladimir Putin a Tóquio ou as consultas ao nível de vice-ministros das Relações Exteriores.
Porém, assinala o perito, paralelamente a isso, observa-se um endurecimento de posições, cuja prova foi, nomeadamente, a adesão a um novo pacote de sanções.
Além disso, Fumio Kishida, ministro das Relações Exteriores, prometeu, durante a visita aKiev todo o tipo de apoio, embora seja claro que, neste momento, ajudar a Ucrânia significa pôr dinheiro fora e praticamente nenhum dos países ocidentais faz isso. Mais tarde, em França, Kishida recomendou que não se forneça à Rússia os porta-helicópteros Mistral.
A Rússia foi obrigada a reagir a esse propósito, afirma Panov.
“Foi anunciado o adiamento das consultas dos vice-ministros, que deveriam decorrer em agosto, porque não há sentido realizá-las nesta situação. Não houve confirmação de que o Japão mantém na ordem do dia a preparação da visita de Putin. Mas se não há encontro de vice-ministros e não veio o ministro, é claro que não resta tempo para a preparação da visita do presidente, é claro que ela simplesmente não se realizará”.
Panov assinala que o endurecimento da política em relação à Rússia provocou perplexidade mesmo entre os japoneses, porque se considerava que entre Shinzo Abe e Vladimir Putinse tinham formado boas relações. Panov explica este paradoxo com a pressão da parte dos EUA:
“Fez-se sentir a pressão americana, o poderoso lobby americano e uma determinada mudança de posição dos EUA. Antes, os americanos criticavam o nacionalismo nipônico, mas, depois, compreenderam: é melhor que Abe seja nacionalista, mas um nacionalista nosso, e ele irá manifestar-se contra a Rússia. Agora, os EUA elogiam os japoneses pelas sanções e pela decisão da autodefesa coletiva, embora, inicialmente, não a aprovassem muito. Resumindo, os americanos ingeriram-se mais uma vez e impediram o desenvolvimento positivo das relações russo-nipônicas. Os americanos estão mais interessados em que a Rússia e o Japão não tenham relações normais de boa-vizinhança”.
Panov sublinha que as manobras russas nas Curilhas não são uma ameaça para o Japão, mas Tóquio utiliza esse tema para justificar a política negativa em relação à Rússia, para mostrar que não é Tóquio, mas Moscou a culpada da deterioração das relações.
Segundo Panov, no outono ficará claro se o período de resfriamento será longo. Para 8-9 de setembro, em Moscou, está marcado um fórum econômico organizado pelas Gazeta Russa e Mainichi Shimbun, onde está prevista a participação de Yoshiro Mori, antigo primeiro-ministro e conselho para as relações com a Rússia.
O forúm será realizado? Quem participará dele e que propostas trará? Pela resposta a essas perguntas poderá julgar-se se o Japão pretende voltar à política positiva.
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