A visita à Rússia do presidente do Egito, Abdul Fatah al-Sisi, no dia 12 de agosto deveu-se principalmente a fatores econômicos, principalmente ao comércio de produtos alimentares. O Egito depende do abastecimento de cereais da Rússia - sem eles, o preço do pão aumenta e a estabilidade política interna é ameaçada -, e, no contexto do confronto entre a Rússia e o Ocidente, as exportações de cereais podem ser afetadas (por exemplo, o Kremlin pode limitar ou proibir o fornecimento desse produto). Por isso, para Al-Sisi é extremamente importante obter garantias de abastecimento estável.
Além disso, após a administração de Moscou ter proibido a importação de alimentosdos Estados Unidos e da Europa, formou-se no mercado russo um nicho de demanda de frutas e vegetais que os produtores egípcios tentarão preencher. Em tempos de crise econômica isso é extremamente importante para o atual governo do Egito.
O turismo é outro assunto de vital importância, já que a sobrevivência dessa indústria no Egito depende do fluxo constante de turistas russos. Al-Sisi, tal como seu antecessor, Mohammed Morsi, se esforça para garantir a segurança de quem visita o país. Além disso, nos últimos anos, devido à deterioração das relações com o Ocidente, Moscou começou a proibir funcionários de suas agências de segurança a passarem férias no exterior. Esses agentes compõem uma parte significativa do fluxo de turistas, e talvez Al-Sisi consiga convencer Putin a abrir uma exceção para o Egito.
No campo político, as conversações entre os governos dos dois países se concentraram na cooperação técnico-militar. A Rússia está interessada em assinar um contrato que lhe permita fornecer ao Egito aviões de combate e helicópteros, com financiamento prometido pela Arábia Saudita. É possível que Al-Sisi receba a proposta de venda de sistemas de defesa antiaérea S-300 para o exército egípcio.
Antes de viajar para Sotchi, para as conversações com o presidente russo, Vladímir Pútin, Al-Sisi esteve na Arábia Saudita. Ele pode muito bem assumir o papel de uma espécie de intermediário entre Moscou e Riad, particularmente no que diz respeito à questão síria. A Rússia tem especialistas que argumentam que os radicais do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) são inimigos não só do presidente sírio, Bashar al-Assad, e do premiê iraquiano, Nouri al-Maliki, mas também da família governante da Arábia Saudita.
Espera-se que Pútin preste total apoio ao Egito, afinal Moscou vê com preocupação os êxitos dos islamitas radicais na Líbia e no Iraque e fará tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar o governo egípcio a fazer frente a esses militantes no Oriente Médio. Em caso de necessidade, a Rússia pode inclusive fornecer armamentos ao país, assim como acontece atualmente com o Iraque. O Kremlin acredita sinceramente que um Egito forte e estável contribuirá para reforçar a estabilidade na região como um todo e que isso garantirá os interesses a longo prazo da Rússia, que teme o surgimento de um Estado terrorista perto de suas fronteiras no sul.
Gazeta Rússa
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