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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Rússia e União Europeia trocam olhares

Por Tom Stiglich

Já irrompeu a mais declarada divisão entre os ministros de Relações Exteriores da União Europeia reunidos na 6ª-feira (15/8/2014), sobre aplicar ou não aplicar sanções contra a Rússia. Em extraordinária explosão de irritação, o primeiro-ministro da Hungria ridicularizou as sanções, dizendo que os europeus estão atirando contra o próprio pé (“como os russos já disseram várias vezes”). Antes, a Eslováquia e a República Checa também haviam proposto repensar a política das sanções. Restam Polônia, Lituânia e Romênia, como velhos “falcões” de uma velha “Nova Europa” aliada de Washington.

A Finlândia declarou, em voto separado, que não mais se alinhará com políticas de sanções; e que buscará comércio regular e normal com a Rússia. O presidente Sauli Niinisto viajou a Moscou e reuniu-se com Putin semana passada para discutir comércio e relações econômicas.

O jornal Guardian publicou matéria engraçadíssima (15/8/2014,  redecastorphoto,  Embargo contra Rússia? E a Europa já se afoga em frutas, carne de porco e cavala), na qual detalha o processo pelo qual a resposta dos russos deixou a Europa à mercê de um tsunami de produtos perecíveis e inexportáveis. Além disso, a Rússia já está procurando fontes alternativas de itens agrícolas para importar, de outros mercados fora da União Europeia – Turquia, Brasil, Egito, Israel etc.. Agora, a União Europeia dá tratos à bola para encontrar meios para persuadir esses países a não exportar para a Rússia.

Por Steve Benson
Mas e por que dariam ouvidos aos europeus? Nenhum desses países tem qualquer problema com os russos. Segundo todos os relatos, o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, em particular, dá-se muito bem com o presidente Vladimir Putin. Além do mais, qual, diabos, é a meta dos líderes europeus? Impedir que os russos comam quantidade suficiente de frutas e legumes e passem a sofrer de avitaminoses, a menos que o Kremlin faça na Ucrânia o que a União Europeia deseja?! Essa história já mais parece piada idiota.

Mesmo assim, alguma coisa de bom sairá de tudo isso, se a Rússia conseguir desmoralizar completamente a prática grosseira do Ocidente, de usar sanções como arma política contra qualquer país que se recuse a meter o rabo entre as pernas e “seguir Washington”. Assim também, se deve esperar que a União Europeia tenha aprendido a lição; já se vê a movimentação na direção de uma reunião entre Putin e José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia.

A grande questão é se Washington tolerará aquecimento tão sensível nas relações entre Rússia e União Europeia. Intrinsicamente, a Ucrânia não tem qualquer importância estratégica para os EUA; e tem pouca, se alguma, para a União Europeia. Não é difícil chegarem a alguma espécie de arranjo sobre a Ucrânia, desde que haja vontade política – o ocidente esquece a agenda de meter a Ucrânia na OTAN e a Rússia aprende a conviver com governo pró-ocidente em Kiev, com o leste da Ucrânia recebendo grau significativo de autonomia cultural e de governo.

- Você não está morto de medo?
Tudo se resume, afinal, a Washington admitir que a União Europeia assuma a liderança de suas próprias políticas e passe a considerar a própria segurança e prosperidade continentais como prioritárias. É onde as observações do primeiro-ministro da Hungria ganham significação. De fato, a fala conciliatória de Putin na 5ª-feira passada (14/8/2014), em Ialta, pode vir a dar o tom para novos movimentos na política eurasiana.

Redecastorphoto

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