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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Exército russo leva terror a tropas ucranianas

UKRAINE-RUSSIA-POLITICS-CRISIS-DONETSK-FIGHTING
Por Roman Olearchyk e Neil Buckley | Financial Times, de Kiev 
Para os 400 soldados de uma unidade do Exército ucraniano perto de Stepanivka, um vilarejo no sudeste do país, meados de agosto foi o momento em que suas vidas viraram um horror.
Durante algumas semanas, a unidade havia se envolvido em escaramuças com os rebeldes separatistas pró-russos. Mas os soldados tinham cumprido sua missão de impedir a chegada de suprimentos provenientes da Rússia pela fronteira e ao longo da estrada que leva ao reduto rebelde de Donetsk, 100 km a noroeste.
“Então os russos invadiram”, relatou um soldado da unidade ao “Financial Times”, apertando seus dedos queimados e inchados.
Dezenas de tanques sem identificação, veículos blindados de transporte de tropas, lança-mísseis e caminhões militares, disse ele, apareceram na estrada, provenientes da fronteira. De repente, a unidade não estava apenas diante de rebeldes, mas enfrentando tropas regulares russas e barragens de artilharia disparadas de território russo que transformaram a área no que outro sobrevivente chamou de “fornalha, um verdadeiro inferno”.
Quando surgiram rumores de que mercenários tchetchenos – que têm a reputação de torturar prisioneiros – estavam para chegar, para uma operação de “limpeza”, o que restava da unidade ucraniana entrou em pânico.
“Alguns de nossos rapazes deram um tiro na cabeça, bem na minha frente”, disse o soldado, que pediu para não ser identificado por não estar autorizado a falar à imprensa. “Outros largaram as armas e fugiram a pé, perseguidos pelos campos. Um punhado de nós tivemos a sorte de sairmos vivos.”
A entrada de soldados regulares russos virou a maré no conflito de quatro meses no leste da Ucrânia, revertendo a sorte das forças ucranianas que pareciam prestes a derrotar os rebeldes.
O episódio provou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, estava disposto a fazer tudo o que fosse necessário para evitar uma derrota dos rebeldes, e transformou o que era, em princípio, um conflito interno ucraniano numa guerra não declarada entre Rússia e Ucrânia.
O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, foi encurralado, pressionado a aceitar um cessar-fogo, que agora já dura uma semana, e firmar um acordo com Putin – mesmo que, com isso, os rebeldes fiquem com o controle de partes do leste do país, o que dará a Moscou influência sobre a Ucrânia durante anos.
O mundo exterior soube da extensão do acúmulo de forças russas na Ucrânia somente no dia 28 de agosto, quando a Otan disse que “bem mais de mil” soldados russos foram enviados para lá. Há cerca de dez dias, a Otan (aliança militar ocidental) estimou o número em 3.000; autoridades ucranianas dizem que o total pode ter ultrapassado 10 mil.
Apesar das repetidas negações de Moscou, as autoridades de Kiev e soldados ucranianos alegam que forças especiais russas e agentes de inteligência militar, em pequeno número, vêm orientando a insurgência no leste desde o início de abril.
Mas o acúmulo de forças regulares russas, diz Oleksandr Danylyuk, conselheiro do ministro da Defesa da Ucrânia, começou cerca de um mês atrás. Naquele momento, um comboio russo de ajuda humanitária formado por 280 caminhões partiu dos arredores de Moscou com destino ao leste da Ucrânia, missão que, sugere Danylyuk, era uma manobra para desviar a atenção.
Colunas militares russas começaram a cruzar a fronteira em vários locais, rapidamente superando unidades de fronteira ucranianas, como a de Stepanivka.
Ao mesmo tempo, disse um soldado de outra unidade de fronteira ucraniana, perto Amvrosiivka, ataques de artilharia partindo do outro lado da divisa criaram uma zona de matança. “Estávamos sendo constantemente bombardeados de solo russo, sem o direito de reagir disparando”, disse ele.
Soldados ucranianos disseram que as forças separatistas estavam mal equipadas e eram mal disciplinadas. As forças russas, ao contrário, eram bem organizadas, com armas muito melhores do que as tropas pobremente financiadas da Ucrânia.
Os russos empregaram os temíveis foguetes Uragan, que podem fazer chover estilhaços em brasa em ataques de precisão a 35 km de distância. “Nossos soldados estavam sendo exterminados, e eles nunca sequer viam o inimigo”, disse o assessor presidencial. “Foi como um moedor de carne”.
Algumas forças russas cruzaram a fronteira perto de Lugansk, outra importante cidade controlada pelos rebeldes, forçando as forças ucranianas a deixar o aeroporto local. Outras criaram um front no sul, ajudando os rebeldes a tomar a cidade de Novoazovsk, na costa do mar de Azov. Isso intensificou o temor, em Kiev, de que eles pudessem avançar rumo ao porto estratégico de Mariupol e abrir um corredor por terra, rumo oeste, até a Crimeia, anexada pela Rússia em março.
As tropas russas também rumaram para Donetsk, retomando cidades que forças ucranianas haviam reconquistado poucas semanas antes. Acredita-se que algumas forças russas que esmagaram as unidades ucranianas em Stepanivka e Amvrosiivka acabaram indo para Ilovaisk, 20 km a sudeste de Donetsk, para uma batalha feroz e decisiva.
Depois que um batalhão pró-Kiev tomou parte da cidade, em meados de agosto, e pediu reforços, disse Danylyuk, cerca de 3.000 soldados do Exército ucraniano foram enviados em apoio. Eles rapidamente cercaram e bombardearam as recém-chegadas forças russas.
Quando soldados e voluntários ucranianos negociaram com os comandantes russos o que eles acreditavam ser um “corredor” seguro para deixar Ilovaisk, em 29 de agosto, e começaram a sair, foram emboscados. Mais de 200 ucranianos morreram na carnificina, elevando o número oficial de soldados de Kiev mortos no conflito para quase mil – embora muitos soldados que vivenciaram os combates acreditem que o total verdadeiro é bem maior.
Em 1º de setembro, os rebeldes voltaram a controlar Ilovaisk. No início da manhã de 3 de setembro, Poroshenko telefonou para Putin para discutir um possível acordo de paz.

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