O confronto é muito mais profundo e amplo: atinge a tensão entre o projeto nacional e das novas relações internacionais representado pelo governo Dilma e o do retorno à submissão aos Estados Unidos, como o desejam o senador Aécio Neves e a missionária Marina Silva.
Para engrossar este debate um jornalista russo. Trata-se de Nil Nikandrov. Ele trabalha em Moscou e cobre questões de política latino-americana; é conhecido crítico da devastação que governos neoliberais promoveram em economias nacionais por todo o planeta. É autor da primeira biografia de Hugo Chávez em russo.
Nil Nikandrov escreveu em inglês, mas posto aqui a tradução em português que alguém fez. Lê com cuidado e de modo racional, meu irmão.
O roteiro dos compromissos da missionária Marina Silva com o imperialismo e com os golpes promovidos pelos Estados Unidos é de parar a respiração. Há a suspeita de sabotagem no avião de Eduardo Campos (como já escrevi em outra “+Carta...”), com o exato e calculado objetivo de promover e de financiar a campanha eleitoral e eleição de sua aliada de confiança. Portanto, apoios como os de Roberto Freire, que recebeu boa bolada da “educadora” Neca Setúbal, de membros das equipes econômicas de Collor e FHC e do fundamentalista gritão Silas Malafaia não são nada fortuitos, mas obedecem a uma lógica bem concatenada, suja, mas bem organizada.
Lê o texto jornalístico abaixo e compartilha, por favor.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, empenhado na defesa do Brasil contra o imperialismo.
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Eleições no Brasil: Marina Silva e a CIA-EUA é ‘caso’ antigo
12/9/2014, Nil Nikandrov,* Strategic Culture
12/9/2014, Nil Nikandrov,* Strategic Culture
Marina Silva é atual candidata do Partido Socialista à presidência do Brasil. Em meados dos anos 1980s, ela já atraíra a atenção da CIA, quando frequentava a Universidade do Acre. Naquele momento, estudava marxismo e tornara-se membro do Partido Comunista Revolucionário, clandestino. Durou pouco aquele ‘compromisso’: ela rapidamente se transferiu para a ‘proteção do meio ambiente’ na Região Amazônica. Os serviços especiais dos EUA sempre tiveram interesse muito especial naquela parte do continente, na esperança de construírem meios para controlar a área no caso de emergência geopolítica. A CIA fez contato com Marina Silva. Não por acaso, em 1985 ela alistou-se no Partido dos Trabalhadores (PT), o que lhe abriu novas possibilidades de crescimento político.
Em 1994, Marina Silva foi eleita para o senado brasileiro, com fama de ativista apaixonada a favor da proteção ao meio ambiente. Foi quando começaram a circular informações sobre laços entre Marina Silva e a CIA. Em 1996, ela recebeu o Goldman Environmental Prize.[1] E recebeu inúmeras outras importantes condecorações: é praxe, quando se trata de ‘candidatos’ que a CIA tem interesse em promover, que o ‘candidato’ seja coberto de medalhas e condecorações.
Marina Silva serviu como ministra do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até que, interessada em ‘voos mais altos’, e preterida, ela abandonou o Partido dos Trabalhadores e mudou-se para o Partido Verde, de início dedicada a protestar contra políticas ambientais apoiadas pelo PT. Foi realmente um choque, na política brasileira, que a ex-ministra tenha mudado tão completamente de lado, depois de quase 30 anos de atividade a favor do Partido dos Trabalhadores.
Nas eleições de 2010, a candidata da CIA obteve quase 20 milhões de votos, como candidata do Partido Verde; na sequência, para as eleições de 2014, aceitou lugar na chapa de Campos, como vice-presidenta, quando fracassaram seus esforços para criar seu ‘não partido’, mas ‘rede’, chamada “Sustentabilidade”. Dilma Rousseff, candidata do PT contra a qual se alinhavam já em 2010 todas as demais candidaturas, trazia planos para dar continuação às políticas independentes do presidente Lula. Nada disso interessava a Washington em 2010, como tampouco interessa hoje, em 2014.
Daquele momento até hoje, as relações entre Brasil e EUA só fizeram piorar, resultado do escândalo da espionagem & escutas clandestinas. A Agência de Segurança Nacional dos EUA espionou a presidenta Dilma Rousseff e membros de seu gabinete. A presidente brasileira chegou a cancelar visita oficial que faria aos EUA, como sinal de protes. Os EUA jamais apresentaram pedido de desculpas ou comprometeram-se a pôr fim às atividades de espionagem. A presidenta Dilma, então, agiu: denunciou as atividades da Agência de Segurança Nacional e da CIA dos EUA na América Latina e tomou medidas para aumentar a segurança nas comunicações e controle sobre representantes dos EUA ativos no Brasil. Obama não gostou.
As eleições presidenciais no Brasil estão marcadas para 5 de outubro. E Washington está decidida a fazer de Dilma Rousseff presidenta de mandato único. Não há dúvida alguma de que os serviços especiais já iniciaram campanha para livrar-se da atual governante brasileira. Começaram a agir com movimentos de protesto ditos ‘espontâneos’, que encheram algumas ruas e foram amplamente ‘repercutidos’ na imprensa, nos quais os ‘manifestantes’ pedem mudanças (aparentemente, qualquer uma, desde que implique ‘mudança de regime’) e o fim das “velhas políticas” [de fato, nenhuma política é ou algum dia será ‘mais velha’ que o golpismo orquestrado pela CIA no Brasil e em toda a América Latina (NTs)]. Ouviram-se grupos de jovens em protestos contra a propaganda e os símbolos dos partidos políticos, especialmente do PT.
Não se sabe até hoje de onde surgiram os recursos com os quais Marina Silva começou a organizar sua ‘rede’ Sustentabilidade. A nova ‘organização’ visava a substituir os partidos tradicionais, que a candidata declarou ‘velhos’. Tendo obtido 19 milhões de votos, o que lhe valeu o 3º lugar nas eleições passadas, ela contudo não conseguiu cumprir todas as exigências legais para criar oficialmente sua nova ‘rede’. Até que a tragédia que matou Eduardo Campos e seis outras pessoas, perto de São Paulo, mês passado, deu a Marina Silva uma surpreendente segunda chance para tentar chegar à presidência do Brasil. Para conseguir ser a primeira mulher mestiça a chegar à presidência do Brasil, terá de derrotar a primeira mulher que chegou lá antes dela, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, PT; além o candidato Aécio Neves do PSDB, partido pró-business, que hoje amarga um 3º lugar nas pesquisas. A Casa Branca tem-se sentido frustrada.
Dia 13 de agosto, a campanha eleitoral presidencial no Brasil foi lançada em área de incerteza, quando um jato que conduzia o candidato do partido socialista, Eduardo Campos, tombou sobre bairro residencial próximo de São Paulo. Morreram o candidato e seis outras pessoas, passageiros e da tripulação, no acidente que pode ter acontecido por causa do mau tempo, quando o Cessna preparava-se para pousar. As mortes geraram uma onda de comoção nacional, que provavelmente evoluirá para especulações sobre o efeito que terão nas eleições do próximo 5 de outubro. A presidenta Rousseff declarou três dias de luto oficial por Campos, ex-ministro do governo do presidente Lula. A aeronave passara por manutenção técnica regular e nenhum problema foi detectado. De estranho, só, que o gravador de vozes da cabine do avião não estava operando, o que gerou suspeitas. O gravador operara normalmente e gravara várias conversações na cabine, mas nada gravou no dia da tragédia. O avião já passara por vários proprietários (empresários norte-americanos e brasileiros, representantes de empresas de reputação duvidosa), antes de chegar à campanha dos candidatos Eduardo Campos e Marina Silva.
Para alguns comentaristas brasileiros, há forte probabilidade de que tenha havido um atentado, que resultou no assassinato de Eduardo Campos. Antes da tragédia, o avião foi usado pela agência antidrogas dos EUA, Drug Enforcement Administration (DEA). Enviados de antigos proprietários do avião tiveram acesso ao local do acidente, sob os mais diferentes pretextos. Difícil não conjecturar se teria havido agentes dos EUA por trás da tragédia. Mas ainda não se sabe exatamente sequer o que aconteceu. Saber quem fez, se algo foi feito, demorará ainda mais.
O avião decolou do Rio de Janeiro, onde opera uma estação da CIA, em território do consulado dos EUA. Não há dúvidas de que aquele escritório é usado pela Agência. Talvez os serviços especiais do Brasil devessem dar atenção especial a personagens que rapidamente deixaram o país, imediatamente depois da tragédia em Santos. A morte de Eduardo Campos teve efeito instantâneo sobre a candidatura do Partido Socialista: Eduardo Campos jamais passara dos 9-10% de preferência nas pesquisas, mas Marina Silva rapidamente surgiu com 34-35%, na votação em primeiro turno. Agora, se prevê que a eleição seja levada para o segundo turno.
O principal problema de Marina Silva é que é sempre difícil entender quais seriam suas reais intenções e projetos. É uma espécie de ‘imprecisão’ que se observa constantemente no discurso de candidatos promovidos pelos EUA. Marina Silva mudou de lado, sempre muito dramaticamente, inúmeras vezes. Ao unir-se a Eduardo Campos, por exemplo, a candidata várias vezes se manifestou a favor de manter bem longe do Brasil as ideias de Chavez (Hugo Chavez – falecido presidente da Venezuela, conhecido pelas convicções socialistas e políticas de esquerda). Mas ela serviu ao governo do presidente Lula, conhecido e muito respeitado defensor do chavismo. (...)
De fato, ao tempo em que a campanha avança e as eleições aproximam-se, Marina Silva vai-se tornando cada vez mais neoliberal. Já disse que não vê sentido em fazer dos BRICS um centro de poder multipolar, nem em apressar a implementação de medidas já decididas dentro do bloco, como criar um banco de desenvolvimento, um fundo de reserva, etc. Já manifestou ‘dúvidas’ sobre o Conselho Sul-americano de Defesa, e diz, em discussões com assessores íntimos, que quer dar menos atenção ao Mercosul e à Unasul (União das Nações Sul-americanas, união intergovernamental em que se integram duas uniões aduaneiras, o Mercosul e a Comunidade de Nações Andinas, como parte do processo de integração sul-americana). Para Marina Silva, mais importante é desenvolver relações bilaterais com os EUA.
Fato é que os brasileiros estão já habituados a quase 20 anos de progresso social no país, com os governos do presidente Lula e da presidenta Rousseff. A população é ouvida, as reformas acontecem, o que foi prometido está sendo construído, o Brasil vive tempos de estabilidade e de avanços.
Se Marina Silva chegar à presidência (George Soros, magnata norte-americano, investidor e filantropo, tem alimentado a campanha dela com quantidade significativa de fundos), deve-se contar com o fim de vários programas sociais e políticos, o que pode vir a gerar grave descontentamento popular. Há quem diga que os escritórios dos EUA no Brasil estão repletos de agentes dos serviços especiais, encarregados de ‘gerar’ ‘protestos’ naquele país. *****
* Nil Nikandrov é jornalista, russo, trabalha em Moscou e cobre questões de política latino-americana; é conhecido crítico da devastação que governos neoliberais promoveram em economias nacionais por todo o planeta. É autor da primeira biografia de Hugo Chávez em russo (NTs, com informações dehttp://www.4thmedia.org/category/nil-nikandrov/).
[1] Sobre o prêmio, verhttp://en.wikipedia.org/wiki/Goldman_Environmental_Prize . Além de Marina Silva, outro brasileiro recebeu esse prêmio, um “Carlos Alberto Ricardo”, fundador da ONG “Instituto Socioambiental”, em 1992, como se lê emhttp://en.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_Ricardo [NTs].
www.strategic-culture.org
Rodrigo Veronezi:http://www.rodrigoenok.blog.br/2014/09/jornalista-russo-denuncia-ligacao-de.html
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