Os exercícios, que se prolongarão até 26 de setembro, coincidiram com as declarações do secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, e do comandante em chefe das Forças Armadas da Aliança na Europa, o general norte-americano Philip Breedlove.
O primeiro deplorou a conduta da Rússia, que teria rejeitado tentativas da OTAN de restabelecer relações de parceria, enquanto o segundo político apelou à necessidade de se adaptar a novas condições em que já não existem “as relações de parceria com um dos principais jogadores”. Claro que usando a palavra “jogador” ele se referiu à Rússia.
E esta adaptação, a julgar pela crescente atividade militar da OTAN perto da fronteira russa, está em pleno andamento. As atuais manobras no oeste da Ucrânia, realizadas formalmente sob os auspícios dos EUA e não sob a égide da Aliança, podem ser vistas como um dos evidentes sinais dessa adaptação. É que, apesar do armistício, a crise ucraniana ainda não foi resolvida.
Antes disso, no âmbito do programa Parceria em Nome da Paz, não obstante os protestos da Rússia, foram levados a cabo exercícios de três dias das Marinhas de Guerra da Ucrânia e da OTAN (Sea Breeze 2014) no mar Negro, igualmente sob a alçada dos EUA. O evento contou com a participação de navios de guerra da Noruega, Suécia, França e Geórgia e de um contingente de 2.000 efetivos. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia qualificou as manobras como “inoportunas”.
Ora, passada apenas uma semana, começaram as novas manobras militares Rapid Trident 2014. De novo, formalmente, sob a égide do Pentágono. Claro que tal “camuflagem” não altera seus propósitos aparentes.
Desta feita, nos exercícios estão tomando parte 1.300 efetivos de 15 países, 700 peças de armas pesadas diversas e mais de 50 veículos de combate. Para além da Ucrânia e dos EUA, às manobras aderiram contingentes militares da Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha, Noruega, Bulgária, Polônia, Romênia, Lituânia, Letônia, Canadá, Moldávia, Geórgia e Azerbaijão.
Uma declaração interessante foi feita na ocasião pelo Departamento de Estado dos EUA, segundo a qual “tais manobras se realizam anualmente e não são, por conseguinte, uma reação aos acontecimentos no leste da Ucrânia”. A lógica de raciocínio como essa não pode deixar de admirar.
Diante de ameaças constantes dirigidas contra a Rússia que, supostamente, tem apostado em escalada da crise ucraniana e perante os sucessivos “pacotes” de sanções antirussas, se faz uma tentativa de convencer a opinião pública de que a “demonstração de músculos militares” não terá nada a ver com a Rússia, nem poderá afetar seus interesses vitais. Como se fosse impossível adiar as manobras até que o conflito na Ucrânia seja definitivamente regularizado!
Todavia, hoje, a maioria de políticos e peritos acredita que a Ucrânia como tal já não tem muita importância. Na cúpula de Gales, realça a propósito uma nota do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, foi decidido “seguir uma linha política de avanço militar da OTAN para leste, visando sua paulatina expansão para as fronteiras russas”.
Conforme salienta a nota, estes desígnios tinham surgido há muito tempo, tendo a crise ucraniana servido de pretexto para a sua concretização. A Aliança Atlântica, criada no período da Guerra Fria, adianta finalizando a nota diplomática, não é capaz de modificar seu “código genético”, ou seja, seu rumo estratégico de ingerência nos assuntos internos de outros países.
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