Via O Diário.info
Ante uma epidemia com a gravidade desta, que já saltou para a Europa e os EUA, chama poderosamente a atenção que não tenham sido publicados estudos pormenorizados sobre o foco inicial de uma infecção tão virulenta e letal. A esse respeito, assinalamos a coincidência deste surto epidémico com a existência de um laboratório no hospital de Kenema, na Serra Leoa, que estava a trabalhar sobre o vírus do Ébola e que colabora com o Instituto de Investigação Médica de Doenças Infecciosas da Armada dos EUA sobre armas biológicas.[2]
A Coordenadora Anti privatização da Saúde emitiu em 7 de Agosto um comunicado [1] qualificando de irresponsável a decisão do Ministério e do Conselho de Saúde de Madrid de repatriar o primeiro doente de Ébola, porque pressupunha “importar de forma premeditada o que era o primeiro caso no Estado espanhol e na Europa, e submeter a um risco absolutamente injustificado os trabalhadores do Hospital Carlos III e toda a população em geral”.
Nenhuma outra organização, sindical ou científica, questionou uma medida inaceitável do ponto de vista epidemiológico porquanto implicava introduzir um foco de infecção originado por uma estirpe – o Ébola-Zaire - altamente contagiosa, muito letal e para a qual não é conhecido tratamento eficaz.
De nenhuma forma - assinalávamos – a repatriação desses dois doentes tinha a justificação de que poderia aqui ser-lhes ministrado outro tratamento – o paliativo – tratamento que teria sido possível garantir-lhes enviando hospitais ou laboratórios de campanha, para além de enviar recursos sanitários para a zona afectada.
Nenhuma outra organização, sindical ou científica, questionou uma medida inaceitável do ponto de vista epidemiológico porquanto implicava introduzir um foco de infecção originado por uma estirpe – o Ébola-Zaire - altamente contagiosa, muito letal e para a qual não é conhecido tratamento eficaz.
De nenhuma forma - assinalávamos – a repatriação desses dois doentes tinha a justificação de que poderia aqui ser-lhes ministrado outro tratamento – o paliativo – tratamento que teria sido possível garantir-lhes enviando hospitais ou laboratórios de campanha, para além de enviar recursos sanitários para a zona afectada.
Do mesmo modo destacávamos a “aberração sanitária que constituíra o encerramento no princípio deste ano das instalações que faziam do Hospital Carlos III o centro estatal de referência para alertas epidémicos, sem que nenhum outro tivesse sido aberto em nenhuma outra Comunidade Autónoma”. Tal medida tinha por objecto converter o citado Hospital – tal como o Hospital de la Princesa – em centro para o tratamento de doentes crónicos e garantir assim o negócio do privado, libertando-o dos pacientes “não rentáveis”.
Desgraçadamente, a confirmação do contágio da companheira Teresa, trabalhadora sanitária do Hospital Carlos III que esteve em contacto com o segundo paciente, e o isolamento de outras pessoas, confirmam ponto por ponto tudo o que há dois meses CAS Madrid denunciava.
Podemos agora acrescentar o seguinte:
1º O desmantelamento do sexto piso, onde se localizava o centro de referência para emergências epidémicas, implicou a dispersão de todo o pessoal sanitário devidamente formado e treinado na aplicação de protocolos para o adequado tratamento e isolamento de doenças de alto risco de contágio. De todo o referido pessoal apenas resta agora uma enfermeira no turno da manhã e outra no da tarde.
2º O sexto piso é aberto para internar o primeiro paciente de Ébola após ter sido proporcionado ao pessoal sanitário um curso de menos de uma hora em que era explicado como pôr e retirar o fato de protecção. Após o internamento do segundo doente é ministrado outro curso com a mesma duração em que se acrescentam algumas noções acerca do manejo de resíduos.
3º Dado que se desconhecem exactamente os mecanismos de transmissão – e, por exemplo, a distância a que uma gota de saliva pode ou não ser contagiosa - os protocolos internacionais aconselham as mais rigorosas medidas de isolamento.
Os fatos de isolamento que o pessoal sanitário está a utilizar são os de “risco biológico 3”, menos herméticos – porque são fabricados com material mais poroso e em que os óculos não estão selados ao gorro - que “os de risco biológico 4” usados em outros países.
4º Pelas mesmas razões, em outros países foram estabelecidos protocolos para o acompanhamento das pessoas que tenham estado em contacto com os doentes, que deve ser estrito durante os 21 dias do período de incubação da enfermidade, e a quem não é permitido, por exemplo, ir de férias.
5º Denunciamos que a União Europeia, face à epidemia de Ébola em países ricos em matérias-primas e paupérrimos em recursos sanitários – longe de enviar ajuda – aquilo a que se tem dedicado é a blindar ainda mais as suas fronteiras contra a população imigrante.
Mais vergonhosa ainda, se tal é possível, é a decisão dos EUA de enviar 3.000 soldados – sem experiência sanitária documentada - para “combater a epidemia”.
Perante tanto cinismo e desprezo pela vida das pessoas por parte das grandes potências, destaca-se a decisão de Cuba – um país pobre de onze milhões de habitantes – de enviar 165 médicos para a Serra Leoa.
6º Ante uma epidemia com a gravidade desta, que já saltou para a Europa e os EUA, chama poderosamente a atenção que não tenham sido publicados estudos pormenorizados sobre o foco inicial de uma infecção tão virulenta e letal. A esse respeito, assinalamos a coincidência deste surto epidémico com a existência de um laboratório no hospital de Kenema, na Serra Leoa, que estava a trabalhar sobre o vírus do Ébola e que colabora com o Instituto de Investigação Médica de Doenças Infecciosas da Armada dos EUA sobre armas biológicas.[2]
O CAS Madrid exige a averiguação imediata de responsabilidades entre todos os políticos e gestores que tomaram as decisões de repatriar os pacientes infectados, bem como de gestão dos cuidados, factos que colocaram gravemente em risco a saúde de trabalhadores e população, pelo que a única postura decente seria reconhecerem os seus erros e apresentarem a demissão.
Por outro lado, reafirmamos a nossa denúncia de que o sucedido é em parte resultado do processo de deterioração, desmantelamento e privatização da saúde que se vem realizando ininterruptamente desde 2005 nesta comunidade autónoma e que, apesar de algumas informações pretenderem ignorá-lo, em nenhum momento foi detido.
Gílson Sampaio
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