Barack Obama em 28/1/2014 |
Durante os últimos anos, o presidente Obama dos EUA falou muito sobre independência no campo da energia:
Em seu quinto discurso “Estado da União” na 3ª-feira (28/1/2014), o presidente Obama celebrou os esforços que seu governo empreendeu para cortar as emissões de gases de efeito estufa, ao mesmo tempo em que festejou recentes aumentos na produção doméstica de petróleo e gás.
Obama disse logo no início de sua fala que há agora “mais petróleo produzido em casa do que comprado do resto do mundo” pela primeira vez em duas décadas.
Obama não disse que o aumento na produção de combustível fóssil nos EUA só foi possível porque os preços internacionais de petróleo e gás aumentaram acima dos mágicos US$ 100 por barril. Abaixo desse preço, a extração de gás de xisto e de petróleo, bem como a produção das terras betuminosas [orig. tar sands], passam a ser apenas marginalmente lucrativas, ou não dão lucro algum.
Mas a conversa da “independência energética” permitiu que vários especialistas se pusessem a dizer que agora os EUA já pode(ria)m ignorar o Oriente Médio:
Claramente, o boom nos negócios norte-americanos de petróleo e gás não está livre de todos os problemas, mas os benefícios – econômicos geopolíticos e ambientais – dessa independência energética em pouco tempo ultrapassam largamente as dificuldades.
Aqueles dias, quando as ditaduras produtoras de petróleo no Oriente Médio e seus amigos na OPEP podiam impor sem dificuldades o poder delas contra um ocidente trêmulo, sedento de petróleo, estão já bem perto de se converterem em relíquias do passado.
Obama no campo de Maljamar (março/2012) |
Com uma nova recessão mundial que se aproxima, o consumo de combustíveis fósseis caiu. Esse declínio, numa situação típica, seria seguido por um declínio na produção dos grandes produtores, para manter estáveis, de algum modo, os preços e os lucros deles. Mas não é o que está acontecendo.
Os sauditas e outros governantes de estados do Golfo detestam a conversa sobre a tal independência energética dos EUA. Precisam muito manter o poder que sempre tiveram para alavancar a política norte-americana. E agora eles decidiram pôr fim àquela conversa sobre a “independência energética” dos EUA e empurrar os EUA de volta ao velho cabresto.
O método que estão usando, muito simples, é manter alta a produção de petróleo por tempo suficiente, em período de consumo declinante, para fazer baixar os preços (dumping) e, desse modo, fazer da produção doméstica dos EUA negócio no qual só se perde dinheiro:
O Reino Saudita, maior produtor dentre os países produtores de petróleo (OPEP), está preparado para aceitar preços abaixo de US$ 90 por barril, e talvez até US$ 80, por um ou dois anos, segundo dizem pessoas informadas sobre conversações recentes.
As discussões, algumas das quais ocorreram em New York durante a semana passada, são sinal claro de que o Reino está descartando a sua estratégia vigente, de facto, por vários anos, de manter os preços em torno de US$ 100 o barril de Brent cru, com vistas, agora, a preservar para o futuro sua atual fatia do mercado.
O objetivo é claro. Tirar do mercado produtores cujos custos de produção sejam mais altos que os da OPEP e, assim, preservar a fatia atual de mercado, além da capacidade para alavancar os objetivos políticos dos próprios países do Golfo:
O Ministro do Petróleo do Kuwait, Ali al-Omair, foi citado, dizendo à agência estatal de notícias KUNA, no domingo, que a OPEP não cogita cortar a produção de petróleo, como esforço para fazer subir os preços, porque nada assegura que esse movimento venha a surtir efeito.
Omair disse que o barril a US$ 76-US$ 77 pode vir a ser o ponto final da descida do preço do petróleo, dado que esse era o custo da produção de petróleo nos EUA e na Rússia.
Os sauditas e outros produtores de petróleo do Golfo todos têm hoje contas correntes positivas (.pdf, Fig. 3). Podem facilmente suportar preços mais baixos no petróleo.
Custos comparativos de extração de petróleo |
Os custos de produção a partir do xisto, dos EUA, são mais altos que os custos sauditas ou russos de produção. São os primeiros a morrer, quando os preços são mantidos baixos:
Deixar o Brent cair abaixo de US$ 85 pode atrasar o boom do xisto nos EUA, porque alguns produtores perderão dinheiro para bombear, com esses preços – disse Francisco Blanch, presidente das pesquisas em commodities do Bank of America, em matéria publicada dia 9 de setembro.
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Deter o boom do xisto garantirá que se mantenha a dependência, dos EUA, da energia do Oriente Médio, disse Blanch, do Bank of America.
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“Quanto à Arábia Saudita, vejo por que interferirão, a menos que os preços caiam abaixo de US$ 90” – disse Torbjoern Kjus, analista do DNB em Oslo, por telefone, dia 10 de setembro. “Interessa aos sauditas, para testarem qual é o limite para o xisto dos EUA”.
Líderes de facto da OPEP, os sauditas têm “poder fiscal de fogo” para suportar preços de até US$ 70 por dois anos, sem qualquer dificuldade econômica, segundo Energy Aspects Ltd., consultores em Londres. O reino tinha reservas estimadas em US$ 741,6 bilhões em julho/2014, quase dobraram o nível de há cinco anos, segundo a Agência Monetária da Arábia Saudita.
Essa estratégia não permitirá que os ditadores do Golfo mantenham sua fatia de mercado, mas os sauditas e outros usarão essa estratégia para tornar mais lentas as aberturas dos EUA para o Irã, se não para pará-las completamente; e também, para forçar os EUA a viabilizarem a “mudança de regime” na Síria.
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