Damasco, 13 out (Prensa Latina) A possível intervenção militar da Turquia no Iraque e na Síria com o pretexto de combater o Estado Islâmico (EI) ameaça hoje provocar um conflito regional, devido ao repúdio de vários países a essa decisão. A eventual entrada do exército turco será considerada uma agressão e uma violação a nossos assuntos internos e às leis internacionais, advertiu o vice ministro de Relações Exteriores da Síria Faisal Al Mekdad.
Segundo o servidor público, esses planos não são mais que a continuação da política do país vizinho de financiar e armar grupos extremistas.Nossos compatriotas enfrentam de forma heroica o terrorismo e não vão permitir de jeito nenhum que a Turquia ou outro país interfira em nossos assuntos porque estão determinados a manter a unidade, a integridade e a soberania da Síria, afirmou.
As diferenças entre ambas nações se acirraram depois da decisão da Assembleia Nacional (parlamento) da Turquia de autorizar o presidente Recep Tayyip Erdogan a enviar tropas.
Mas, para além de um eventual confronto bilateral, a possível intervenção militar poderia implicar mais fatores regionais.
Nesse sentido, o premiê do Iraque, Haidar al Abadi, comunicou a seu homólogo turco, Ahmed Davutoglu, seu total repúdio a essa decisão.
Os planos militares também foram criticados pelo vice-presidente iraquiano Nuri al Maliki e pelo chanceler Ibrahim al Safari.
O Irã, uma potência regional e aliado de Damasco, também questionou com dureza os planos turcos e alertou sobre suas consequências.
Os países da região devem agir de forma responsável perante a atual situação e não contribuir a piorá-la, expressou o ministro de Relações Exteriores Mohamad Javad Sharif.
Mais duro foi o presidente da Assembleia Consultiva Islâmica (parlamento), Ali Lariyani, quem destacou que Teerã não pode manter uma atitude de negligência "perante a perigosa mobilização da Turquia na Síria e no Iraque".
Acusado de financiar organizações terroristas, o governo turco moveu fichas nos últimos dias devido aos fortes protestos curdos e às críticas internacionais por não ter dito nada depois da ofensiva do EI contra a cidade síria de Ain al Arab.
As forças armadas turcas isolaram a fronteira, impedindo desde o mês passado a entrada a território sírio de reforços curdos para defender a localidade onde são maioria, o que foi interpretado como um apoio a mais ao EI.
Canais regionais de televisão divulgaram imagens nas quais se observam militares e veículos blindados turcos olhando com indiferença os embates ferozes do outro lado da fronteira.
Segundo o jornal britânico The Economist, um dos motivos para que Erdogan se negue a apoiar os curdos sírios é o apoio de facto desta minoria ao presidente Bashar al Assad.
Inclusive recusou o plano do alto comando militar de permitir o trânsito de combatentes curdos do vizinho país para chegar de um enclave a outro, destacou a publicação.
Por sua vez, o jornal turco Aydinik revelou que Ancara permitiu que o grupo terrorista abrisse um consulado na capital.
Além dessa situação, Erdogan anunciou a preparação de um plano para o estabelecimento de zona neutra na Síria, que se aplicaria "se fosse necessário".
Conhecendo que suas ações estão sob a lupa no Oriente Médio, sobretudo depois do começo dos bombardeios no Iraque e na Síria, a Casa Branca através de seu porta-voz Josh Earnest afirmou que essa medida "não está sendo considerada no momento".
No entanto, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, não excluiu a possibilidade de criar essa área.
Frente a ameaças de Ancara, vários sírios protestaram em frente da embaixada turca nesta capital.
A manifestação foi convocada pelo Movimento Nacional Curdo para a Mudança Pacífica, o Partido Nacional da Juventude pela Justiça e Desenvolvimento e Encontro Civil Democrático.
Os curdos turcos também se mobilizaram contra o que consideraram uma cumplicidade de Ancara com os terroristas e realizaram vários protestos em apoio a seus irmãos em Arab al Ain.
Ainda que as autoridades turcas anunciaram que não intervirão sozinhas, uma decisão nesse sentido poderia fazer explodir o paiol em que a região se converteu.
Prensa Latina
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