Enquanto isso, a escalada da tensão no Iraque e na Síria tem atingido a Turquia, o que pode levar a uma crise política de largas proporções.
O EI continua desenvolvendo uma ofensiva contra a vila síria de Kobani, de população predominantemente curda. As fontes de informação curdas têm informado sobre combates encarniçados. A coalizão internacional, encabeçada pelos EUA, continua assestando golpes aéreos às posições de islamistas. Mas os peritos dizem que tal medida unilateral ser insuficiente.
Entretanto, os curdos turcos procuram atravessar a fronteira para socorrer seus irmãos. As autoridades turcas têm vindo a impedir a sua deslocação, o que provoca manifestações em massa, que levam a confrontos com as forças policiais.
A comunidade curda local se manifesta contra a inação de Ancara que veio reforçar a fronteira, se mostrando reticente sem querer intervir. Vadim Makarenko, analista militar independente e redator-chefe do website Kurdistan.ru opina:
“Acho que a causa dessa postura reside no fato de os poderes turcos estarem menosprezando o fator curdo, levando-o em conta em função de mudança do clima político. Nesse caso, o governo turco pretende, através do EI, eliminar um foco de autonomia curda.
Creio que Ancara tenciona resolver simultaneamente várias tarefas: aniquilar a autonomia curda na Síria, lutar contra o regime de Bashar Assad e, em última instância, combater o EI”.
É verdade que Ancara se viu numa situação complicada: por um lado, a tomada de Kobani levará à intensificação da atividade das forças radicais no movimento curdo, pondo termo à regularização do problema dessa etnia.
Por outro lado, a intervenção terá provocado uma reação negativa em Damasco, Moscou e outras capitais. Além disso, os próprios curdos sírios se pronunciam contra uma intervenção direta. O seu líder, dirigente do Partido de Aliança Democrática, Salih Muslim, em entrevista exclusiva à Voz da Rússia, anunciou que uma intervenção militar estrangeira na Síria, sob o pretexto de combate ao terrorismo, será qualificada como um ato de agressão:
“Não aceitamos tal cenário. Se Ancara realmente quer que Kobani não se renda, poderá, por fim, abrir postos de controle fronteiriços para podermos receber a ajuda humanitária e militar. Estamos em condições de opor resistência e vencer desde que obtenhamos as armas necessárias”.
O uso de tropas terrestres da Turquia contra o EI não será apoiado pela oposição turca. Em sua opinião, Ancara estaria sendo arrastada para uma “guerra alheia”, devendo a luta contra o Estado Islâmico se iniciar com a inviabilização dos canais de recrutamento e abastecimento material.
Conforme alguns peritos, o objetivo real da Turquia não são os islamistas mas o regime de Bashar Assad e o sonho dos curdos sobre a independência nos marcos de um Estado próprio. Diante desse fator, Ancara não poderá desistir de sua política controversa que lhe permite ganhar tempo à espera de um momento oportuno para alcançar os seus interesses.
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