Pepe Escobar ‒ G20 na Austrália: Bufões x Sul Global - Noticia Final

Ultimas Notícias

Post Top Ad

Responsive Ads Here

Post Top Ad

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Pepe Escobar ‒ G20 na Austrália: Bufões x Sul Global


Putin "isolado"? (só rindo!)

Eis o G20 na Austrália numa única linha: um pequeno bando de bufões políticos anglo-saxões, que tentam derrubar o Sul Global.

Países que representam mais de 85% da economia mundial reúnem-se para (em teoria) discutir algumas questões econômico/financeiras realmente pesadas, e virtualmente a única coisa sobre a qual a lastimável imprensa-empresa ocidental gagueja é o “isolamento” ao qual teria sido relegado o presidente russo Vladimir Putin. [1]

Bem que Washington e sua coorte de fantoches tentaram converter o G20 em total farsa. Por sorte, os adultos presentes tinham negócios a tratar.

Os cinco países BRICS – apesar de haver problemas, esse é o G5 que realmente conta no mundo – reuniram-se depois do encontro, incluído tal presidente “isolado”. Em termos econômicos, esse G5 já ultrapassa, de longe, o velho e decrépito G7.

A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, encorajou fortemente todo o G5 a turbo-acionar a cooperação mútua – além da cooperação Sul-Sul. Aí se inclui, claro, o Banco de Desenvolvimento dos BRICS. Os BRICS, reforçando sua “grave preocupação”, mais uma vez desmascararam o blefe de Washington – os EUA recusam-se a apoiar a reforma estrutural, perpetuamente adiada, do Fundo Monetário Internacional, FMI.

O pacote de reformas das quotas e na governança do FMI já está aprovado na direção do FMI desde 2010. Uma das resoluções chaves foi aumentar o poder de voto dos mercados emergentes, com os BRICS na vanguarda. Para os Republicanos em Washington, é pior que o comunismo.

O presidente chinês, Xi Jinping acrescentou que a cooperação dos BRICS não apenas estimulará fortemente a economia global, como também garantirá a paz mundial. Façam negócios, não Tomahawks. As mais de 120 nações do Movimento dos Não Alinhados – mendigos no banquete do G20 – ouviam com extrema atenção

“Agressões” e mais “agressões”

Comparem agora os BRICS trabalhando, e os chefes de estado da União Europeia, que só fizeram andar atrás do presidente Obama dos EUA para definir a “estratégia” deles – não para promover a economia global, mas... para demonizar mais e mais a Rússia.

E, isso, depois que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse a Putin, numa reunião “robusta”, que Putin estaria preso numa encruzilhada e às vésperas de ser atingido por mais sanções; o primeiro-ministro do Canadá Stephen Harper reclamou de ter sido obrigado a apertar a mão de Putin; e o primeiro-ministro australiano Tony Abbott obrigou todo mundo a posar com coalas ao colo – crime de maus tratos a animais –, depois de, ao que parece, ter recomendado um ataque de shirtfronting [2] ao presidente russo.

E não foi só “agressão russa”. Obama, Abbott e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, também se reuniram separadamente para aumentar a “cooperação militar” e “fortalecer a segurança marítima” na região do Pacífico Asiático. Contra (o que mais seria?!) a “agressão chinesa”.

Obama e seus "bufões" (ou poodles!)
Arrogância imperial e bufonaria à parte, Putin, sim, reuniu-se com a chanceler alemã Angela Merkel por mais de três horas. Essencialmente, discutiram a Ucrânia. Nada, nada vazou. Quer dizer: Putin reuniu-se e trabalhou com todos os adultos cuja ação-opinião interessa: os BRICS e Merkel. Em matéria de boa cabeça para negócios, era o melhor que havia a fazer por ali.

Como disse o presidente Putin, ao deixar a Austrália:

São nove horas de voo até Vladivostok e mais oito horas até Moscou. Preciso dormir quatro horas, antes de voltar ao trabalho na 2ª-feira (17/11/2014). Já fizemos o que viemos fazer aqui.

Santo Deus! Foi a deixa para que a imprensa-empresa ocidental enlouquecesse totalmente e se pusesse a repetir sem parar a “notícia” segundo a qual a tal “figura isolada” fugira, coberta de vergonha, do G20. [3]

Na dúvida, imprima dinheiro

Apesar dos incansáveis esforços da gangue política anglo-saxônica para desqualificar a reunião, até que algum trabalho– minimalista – foi completado. Até Putin elogiou a “atmosfera construtiva”. Mas a coisa esteva mais, mesmo, para atmosfera de pensamento-discurso desejante.

No comunicado final, apareceu a promessa de aumentar o PIB global em estonteantes US$ 2 trilhões, até 2018. O xis da questão desse plano mágico é facilitar o investimento em infraestrutura, que cria empregos e melhora o comércio global.

Aliás... é exatamente o que a China está fazendo – em massa. China e Rússia assinaram dois negócios gigantescos de gás, esse ano, no valor total de US$ 725 bilhões. O Fundo de Investimento Rota da Seda, de US$ 40 bilhões, financiará projetos de desenvolvimento em sete nações da Ásia Central. Putin-“figura isolada” confirmou que o comércio entre Rússia e China e o resto da Ásia aumentará, de 25% para 40% do PIB russo.

Ainda mais importante, Rússia, China, Irã – e em breve outras nações asiáticas – trabalham ativamente na direção de implantar seus próprios sistemas de câmbio de moeda, independentes do sistema SWIFT e do dólar norte-americano. O comércio e os investimentos Rússia-China fazem-se cada vez mais em rublos e yuan, cada vez menos em dólares norte-americanos. Para os bufões, é pior que o Apocalipse.

O comunicado do G20 fala também de uma ofensiva neoliberal de facto, renovada – da “desregulação” nos mercados de bens e serviços, à “flexibilização” no mercado de trabalho. Uma nebulosa central de investimento global será montada em Sydney, mas ninguém sabe ao certo como funcionará.

O G20 também insistiu na necessidade de combater o chamado shadow banking. [4] Puro conversê desejante – e atores/ especuladores/ megagânsteres das finanças impedirão que aconteça. Ninguém aí está pensando em enfrentar, mesmo, os fundos-esgoto do tipo Turks & Caicos “reze pelo EUA-dólar, ajoelhe-se aos pés da rainha”, não é, rapazes?

Não surpreendentemente, sumiram do comunicado final todas e quaisquer referências a maior transparência nas indústrias extrativas. Sobre mudança climática, mais conversê desejante sobre “ação efetiva” antes da conferência de Paris, em dezembro de 2015. Podem-se apostar cassinos inteiros de dinheiro lavado em que nada de substancial acontecerá, nem antes nem depois da tal conferência.

Vladimir Puttin no G20 de Brisbane -15/11/2014
Os wahhabistas do neoliberalismo obviamente detonaram a tentativa, apresentada por uma Argentina “exaurida”, de desenvolver um regime supranacional à prova de falência. Claro. Afinal, os fundos abutres do tipo Paul Singer devem conservar o direito pleno de agir como abutres.

No final, o tal Putin “isolado” lá estava pronto para trabalhar, no horário certo, hora de Moscou. A União Europeia com certeza perderá pelo menos 15% do comércio de US$ 330 bilhões com a Rússia em 2015 – e o comércio entre os BRICS dobrará. A débâcle absoluta da União Europeia continuará a ser causada, em ampla medida, pelo neoliberalismo. E pelodiktat pelas elites de Washington/ Wall Street, de que todas as instâncias de economia mista na União Europeia devem ser desmontadas.

Enquanto o Fed põe fim ao seu “alívio quantitativo” [orig. quantitative easing (QE)], o Banco Central Europeu sonha com se pôr a imprimir dinheiro feito doido, e o Banco Central do Japão já imprime dinheiro feito doido, Rússia e China compram oceanos de ouro físico. Por trás de uma cortina de fumaça de dinheiro impresso, a economia global continuará a padecer.

Mesmo assim, a economia russa continuará na trilha da integração cada vez mais íntima com China, Irã e Cazaquistão. O centro do investimento global e coração da ação continuará a ser – e onde mais seria? – o Pacífico Asiático. Não por acaso, a reunião do G20, em 2016, acontecerá na China.

Noutros noticiários, a notícia foi que Pepe Mujica, não apareceu na reunião do G20. É homem que merece ter, ele mesmo, a palavra definitiva. Não é preciso muito trabalho para comparar e ver a diferença que separa a dignidade pessoal, a honestidade, a humildade, a inteligência, a coragem, o altruísmo e a solidez das políticas que Mujica promoveu no Uruguai, com a bufonaria imprudente, negligente, descuidada, temerária dos Cameron-Harper-e-Abbotts.

Há políticos e “políticos”. Felizmente, a vasta maioria da opinião pública global é capaz de ver a diferença.

Redecastorphoto

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Top Ad