Síria: Sinais de mudança na posição dos EUA - Noticia Final

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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Síria: Sinais de mudança na posição dos EUA

Bashar al-Assad em 18/9/2014
Eis algumas impressionantes referências à Síria, na imprensa-empresa dos EUA. Para começar da RAND Corporation, o think-tank do Pentágono, sobre Futuros Alternativos para a Síria.

Dentre as “Descobertas Chaves”:

O colapso do regime [sírio], que não se considera como resultado provável, parece ser o pior resultado possível, para os interesses estratégicos dos EUA.
...

É a vitória do regime que agora aparece como resultado de mais alta probabilidade em prazo curto e médio, devido à confluência de fatores militares e políticos que favorecem as forças pró-Assad.

Um repórter da Associated Press visita a área de Latakia e conversa com o povo que se mantém inabalavelmente a favor do governo sírio. A manchete diz: Os alawitas da Síria pagam pesado preço e enterram os filhos.

A matéria registra um fato que é fato desde o início dos combates na Síria:

O exército sírio é composto por maioria de muçulmanos sunitas, lutando contra muçulmanos sunitas rebeldes.

É fato que jamais antes apareceu noticiado na imprensa-empresa “ocidental”, que não fez outra coisa além de propaganda pró-sectarismo e mais guerra.

Muro em Tartus, Síria, coberto com fotos dos soldados mortos em combate contra o terrorismo financiado pelos EUA e monarquias árabes
Mais uma observação que não se encaixa no quadro “comum”. Houve algumas manifestações de rua, mas não por que Assad esteja dando combate a insurgentes: os manifestantes exigem que Assad amplie a guerra contra os insurgentes:

Os manifestantes criticam Bashar por mostrar-se fraco demais; prefeririam ter no poder alguém mais linha-dura – disse um trabalhador, que pediu para não ser identificado, porque recebeu ordens para não falar com jornalistas.

Notável! Em quem os EUA confiam para lhe fornecer a melhor inteligência na guerra contra o Estado Islâmico? Só confiam na Síria, é claro. Mas, dado que ainda não se pode falar oficialmente de cooperação entre a Casa Branca e o monstro que governa Damasco... os contatos e informes são noticiados como se fossem ‘'descobertas'’ de espionagem: Espionagem dos EUA contra a Síria já rendeu bônus:

Espiões norte-americanos continuam a gravar todas as comunicações do governo do presidente Bashar al-Assad, de onde obtêm informação sobre militantes do Estado Islâmico.

Tenho absoluta certeza de que é mentira, porque nenhum espião norte-americano gravaria qualquer comunicação do governo sírio sobre o Estado Islâmico sem autorização da Síria. (E o Wall Street Journal só publica tal “notícia” porque é falsa. Fosse verdade, não poderia ser publicada sem expor os tais “espiões” [e a gente aki pergunta: e quem, diabos, precisa dessa booooosta de empresa-imprensa?! (NTs)]. Além da autorização para gravar que, com certeza, os EUA pediram à Síria. Mas com certeza os EUA também pediram a mesma autorização à Rússia – ou continuariam sem nada saber sobre o Estado Islâmico.

Lembrança de família do soldado sírio Mahmoud Haidar, 23 anos, morto em combate contra o terrorismo financiado pelos EUA e seus aliados
O plano dos EUA era deixar que alguns de seus “inimigos” – sírios, iranianos, russos – entrassem em confronto direto com outros dos “inimigos” dos EUA – islamistas radicais e, por procuração, também entrassem em confronto com sauditas e qataris. Todos sairiam enfraquecidos, e o papel relativo dos EUA no Oriente Médio sairia reforçado. Mas, com o revide que o Estado Islâmico aplicou ao Iraque, ao Líbano e aplicará no futuro em outros pontos, o plano de deixar que uns inimigos matassem os outros vai-se tornando cada dia mais temerário e arriscado.

O que estamos vendo agora – e a matéria da AP acima, me parece, não é simples coincidência – é que começa uma lenta mudança na posição dos EUA. Os EUA começam a ver com melhores olhos o governo sírio. Até onde avançará essa mudança ainda é uma incógnita.

Minha interpretação, para a carta que o secretário Hagel da Defesa enviou à Casa Branca, é que ele está exigindo estratégia mais clara e mais produtiva, dos EUA, para a Síria. A carta não é, como a Agência Reuters argumenta, pedido para que se envie mais ajuda aos insurgentes. O que Hagel faz é pedir que se reduzam as animosidades contra o governo sírio e que se construa melhor cooperação entre EUA e Assad, para enfrentar o Estado Islâmico.

Essa é também a essência do estudo da RAND Corporation citado acima, que foi encomendado e pago pela casa de Hagel.

Se minha leitura está correta, o melhor que a Casa Branca tem a fazer é seguir o que Hagel planejou.

Redecastorphoto

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