A agência internacional de notícias Rossiya Segodnya pediu a vários analistas para comentarem a decisão russa e eventuais repercussões que possa causar no mercado europeu.
Natália Ulchenko, economista, chefe do Departamento de Turquia do Instituto de Estudos Orientais, diz:
“Quem perdeu é a Europa e não a Rússia. Como se sabe, a maior parte do gás que devia ser exportado para a Europa, será vendido à China. Com Pequim foram celebrados acordos de larga escala. A Rússia não vai perder o mercado em função dos preços atuais, mas a Europa está perdendo a sua segurança energética.
A mídia da Eslovênia já lamentou a perda de bilhões de dólares por causa do cancelamento do projeto South Stream. Receio que o prejuízo seja muito maior, já que a Europa terá de construir uma nova infraestrutura para garantir a sua segurança energética”.
Elena Yurishich, professora associada da Universidade de Zagreb:
“Para a Turquia, os resultados da visita de Putin são muito positivos. O país parece ter realizado os planos traçados, vistos antes como quase inviáveis. Agora, a Turquia se aproximou do estatuto de “pólo energético” através do qual será realizado o fornecimento de recursos para vários países europeus. Assim, se vai materializando uma grandiosa ambição da Turquia, privada de agentes energéticos, no sentido de vir a desempenhar um papel substancial no comércio desses recursos”.
O ex-ministro búlgaro da Energia, Rumen Ovcharov, considera que a Bulgária perdeu sua oportunidade e que Moscou não acreditará em lágrimas:
“É um fracasso. O aniversário do South Stream será assinalado no dia de sua morte. A Bulgária tem avançado com argumentos de ser a vítima de manipulações russa. Mas isso não é verdade. Especulações análogas surgiram em 1998, em torno da construção do Blue Stream. A Bulgária não acreditava que seria contornada. Mas o gás passou a ser fornecido à Turquia, não tendo a Bulgária ganho nada com o trânsito”.
Não acho que a Rússia vá perder muita coisa com a suspensão das obras. A Bulgária, sim, perderá. No início do projeto, convencemos os russos que somos parceiros realmente seguros. A Rússia foi então ao nosso encontro, tendo anuído em colocar a tubagem pelo fundo do mar, embora isso tivesse encarecido o projeto. Naquela altura era-lhe importante contar com apoio de um parceiro do sul da Europa, dado que a Turquia se posicionava como um “satélite” dos EUA. Hoje, a Turquia se tornou menos dependente da pressão de Washington. As suas prioridades são diferentes ”.
O perito independente polonês Andrzej Szczesniak declarou em entrevista à Rossiya Segodnya que a UE, por causa de interesses políticos, negligenciou deliberadamente os interesses de um número de países europeus.
"Na minha opinião, a situação em torno do South Stream foi formada deliberadamente para empurrar os países europeus a adotar um ou outro lado. O projeto não foi encerrado, é apenas uma maneira de exercer "pressão" sobre Bruxelas. Portanto, todas as declarações atuais do senhor Miller (o líder da Gazprom) não podem ser tomadas literalmente".
Stevica Dedjanski, economista sérvio e presidente do Centro de Desenvolvimento da Cooperação Internacional, comentou:
"Até certo ponto, a posição da Rússia é compreensível. Se você sugerir a alguém algo de que ele realmente precisa, neste caso trata-se do gás para a União Europeia, e em troca receber sabotagem de todas as maneiras possíveis, em certo momento, você fará uma inversão de marcha e se dirigirá a um lugar onde o projeto poderá ser implementado".
O professor de Direito Internacional da Academia da Força Aérea e da Universidade de Istambul, Mesut Hakkı Casın acha que Ocidente está agora em isolamento.
"O Ocidente pensa que nos vai isolar. De fato, é o próprio Ocidente que está agora em isolamento. Recentemente, recebemos Joe Biden, o Papa Francisco, ontem nos visitou Vladimir Putin e, em breve, chegará David Cameron... E quem está em isolamento? Qualquer um, mas certamente não a Turquia e a Rússia. E, no futuro, a cooperação russo-turca irá crescer. E as sanções do Ocidente não são um obstáculo".
Vojislav Vuletic, presidente da Assembleia da Associação de Gás da Sérvia, tem opinião semelhante.
"Não foram os russos que nos traíram, mas a Europa, ou melhor, a Comissão Europeia. A Rússia quer construir um gasoduto? Quer. A Europa achincalha com suas críticas constantes sem motivo? Achincalha. Em tais circunstâncias, na minha opinião, Putin e Miller deviam ter anunciado ainda antes o fechamento do projeto. Na verdade, a Europa se prejudica a si própria".
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