Apresentamos aqui uma versão resumida da entrevista.
– Quando foi negociada a unificação da Alemanha, o secretário de Estado dos EUA disse que a OTAN não se moveria para o leste da Alemanha nem por uma polegada. Essas conversas não se tornaram documentos, ninguém foi obrigado a fazer nada. Agora, quando as paixões estão em alta, chegar a um acordo semelhante sobre a Ucrânia é ainda mais impossível. A OTAN não vai parar até chegar às fronteiras da Rússia?
– A America está se intrometendo aqui. Olhando o que faz a América a Rússia também faz seus passos, às vezes desnecessários. Assim tudo isso cresce.
Os norte-americanos já estão em todo lado. Ora eles estão instalando defesa antimíssil em todas as cidades, por todas as fronteiras, ora estão abrindo bases militares.
Há dias dei uma entrevista à revista The Time. Eu disse-lhes: “Eu não vos entendo. Ainda Eisenhower vos advertiu sobre o que têm a temer. O perigo está no complexo militar-industrial. E a OTAN está se intrometendo em tudo, não lhe chega o espaço que lhe foi destacado. O que está acontecendo com vocês? A América agora não vive sem que o complexo militar-industrial se desenvolva, sem que o comércio de armas se expanda, sem que as despesas em guerra aumentem. Vocês não conseguem viver sem isso?”.
Responderam-me: “Não. Parece que não”.
Aí eu disse: “Então escute, então esta é uma sociedade doente. Ela deve ser tratada”.
– Para quê a OTAN continua seu movimento para leste, na sua opinião?
– Tal é a sua cultura política. E militar. John F. Kennedy, um homem que viveu a crise do Caribe, disse: “Escutem, vamos deixar de demonizar os russos. Eles são como nós. Eles querem criar seus filhos, viver em paz, alegrar-se, e assim por diante”.
Que outra coisa dizia John F. Kennedy? “Se você acha que o futuro do mundo é a Pax Americana, você está errado. Ou o mundo é para todos, ou não há mundo”. Absolutamente certo. Duro, grave, mas do jeito que realmente é.
E agora tudo começou com os americanos que de repente começaram a afirmar-se... A Guerra Fria acabou, nós acabamos com ela juntos, e isso é uma vitória comum para todos os povos. Os norte-americanos dizem: “Como assim? Nós vencemos, vencemos na Guerra Fria. Nós”.
Como queiram, desfrutem, se quiserem, por assim dizer. Mas daí segue que se os americanos venceram, eles concluem: “Nós não precisamos mudar nada. Nós vencemos, o mundo está aos nossos pés. Para quê mudar seja o que for? Nós estamos conduzindo a política certa”. E a coisa mais extrema – eles começaram a propôr criar uma nova... superpotência, um super-império. A América quer mandar no mundo inteiro.
Tantas forças que nós gastamos em nosso tempo, tantos recursos. Finalmente chegamos à paz, começamos a mover-nos... e tudo isso em vão?
É possível chegar a acordos se surge fé, confiança mútua. Havia confiança, e nós conseguíamos isso. E depois este império. Os norte-americanos se perderam. Qualquer tentativa de criar um mundo unilateral, unipolar são um absurdo, um disparate.
– Você é prêmio Nobel da Paz. E Obama Barack também é ganhador do prêmio Nobel da Paz. O que você pensa disso, que ele é um colega seu, um companheiro de clube, por assim dizer?
– Para ele isso era como que adiantado – isso também pode acontecer na política. Um dia eu estava dando uma palestra em St. Louis. Quando terminei, um jovem se levanta e pergunta: “Sr. presidente, o que pode nos aconselhar, aos norte-americanos ?” Eu disse: “De que se trata?” “Bem, você vê como as coisas estão ruins aqui. E cada vez piores na América”. Eu disse: “Ora bem, você sabe, isso é algo novo. Até agora, era a América que nos dava conselhos a todos. Embora ninguém a pedia, ela dava conselhos. Não, eu não vou vos dar conselhos. Vocês, norte-americanos, têm tudo o necessário para compreender e decidir por conta própria”.
Então se levanta outro e diz: “Eu quero apoiar o meu colega. Diga, por favor. Vocês já passaram por tudo isso. Nós também precisamos fazer algo”. Eu disse: “Bem, eu não vou vos dar nenhum calendário ou menu. Eu só acho que a América precisa de sua própriaperestroika”. Essas 10 ou 15 mil pessoas que estavam na plateia se levantaram e aplaudiram de pé.
– Você também disse numa entrevista que os Estados Unidos se comportam como um policial do mundo. E acreditam que só eles podem proteger o mundo. E quem é seu inimigo? Contra quem eles se estão defendendo?
– Eu acho que eles não têm ninguém de quem se defender, isso é rebuscado. Eles precisam de um inimigo para voltar à velha política de pressão, de comando. Eles não podem viver sem isso. Portanto, a América deve ser parada. Parada amigavelmente, como a um parceiro.
Acho que devemos ser realistas. Os Estados Unidos da América são um fenômeno que deve ser tomado em conta no mundo, e eles têm certos direitos de dizer palavras sérias e tomar certas decisões no interesse de todo o mundo, mas a liderança hoje só pode ser de parceria, coletiva.
As opiniões expressas são de responsabilidade do entrevistado
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