A notícia de que o governo de Buenos Aires examina a conveniência de alugar 12 jatos supersônicos de ataque Sukhoi Su-24, para reforçar a aviação de combate da sua Força Aérea durante a metade final dos anos de 2010 e o início da próxima década, ganhou ares de veracidade na tarde desta segunda-feira (29), quando o site IHS Jane’s 360 – pertencente ao prestigioso grupo britânico Jane’s (especializado em assuntos militares) – publicou um breve comentário do MoD (Ministério da Defesa do Reino Unido), a respeito do assunto:
“O Ministério da Defesa realiza avaliações regulares de potenciais ameaças militares para as Ilhas Falkland, para garantir que vamos manter um nível adequado de capacidade defensiva para enfrentar quaisquer ameaças. Nós continuamos a nos manter vigilantes e compromissados com a proteção dos ilhéus das Falklands”.
A novidade surge cinco meses e meio depois de uma visita do presidente russo Vladimir Putin a Buenos Aires, e apenas 30 dias após o anúncio da decisão do governo francês, de se recusar – pela segunda vez – a entregar a uma tripulação da Marinha russa, o porta-helicópteros da classe “Mistral” construído pela DCNS e um pool de empresas francesas sob encomenda de Moscou.
Os Estados Unidos e as potências ocidentais lideram um conjunto de sanções contra a administração Putin, em razão da anexação da Península da Crimeia, no primeiro semestre, e da forte suspeita de que elementos separatistas ucranianos apoiados por Moscou se utilizaram de um lançador de mísseis de fabricação russa para derrubar um jato de passageiros da Malaysian Airlines.
Diferente – Mas a “bomba” do Su-24 não representa um choque só para os kelpers (como são chamados os habitantes das Malvinas), ou para as autoridades incumbidas de defendê-los na distante Inglaterra.
Um representante da indústria militar israelense que acompanha o esforço dos argentinos para renovar a sua frota de caças, observou ao Poder Aéreo que o advento do jato Sukhoi gera um impacto de conseqüências perturbadoras para a própria Força Aérea Argentina (FAA).
Segundo esse raciocínio, os brigadeiros platinos precisarão abrir espaço em sua estrutura operacional para formar uma equipe de recebimento e manutenção de um bombardeiro bimotor, de dois tripulantes e superfície alar com geometria variável, mantido por meio de lubrificantes e ferramental desconhecidos pela logística argentina.
Uma aeronave que nada, absolutamente, tem a ver – por sua concepção, nível atual de modernidade, seus conceitos operacionais e exigências de conservação – com os modelos utilizados pela FAA até aqui.
E a verdade é que há muito o que aprender sobre o avião russo.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que ele não representa o tipo de aeronave que Buenos Aires vinha procurando desde 2013: um jato adequado à interdição, que assegure aos argentinos uma capacidade mínima de superioridade aérea. O Su-24 não foi projetado para cumprir essas funções.
Ele é o que os aviadores chamam, em seu jargão profissional, de avião-martelo, tipicamente concebido para o ataque (ou, para tarefas subsidiárias como o reconhecimento a grandes altitudes). Seus objetivos são, portanto, alvos no solo ou “targets” de superfície em zonas marítimas – motivo pelo qual transporta os mísseis Kh-31A, capazes de alcançar uma embarcação a distâncias entre 25 e 50 kms.
Há dúvidas, entretanto, quanto à capacidade de sobrevivência do Su-24 em um cenário de guerra aérea moderna – ou, em outras palavras, de potencial enfrentamento com os caças ocidentais de última geração, como o também bimotor Eurofighter Typhoon (que, não por acaso, guarnece os céus das Ilhas Malvinas).
Adequação – O Su-24 foi o primeiro jato de ataque diurno/noturno da extinta União Soviética a exibir aviônica digital, que integrava seu sistema de navegação ao controle dos armamentos.
No fim da década de 1980, com os sucessivos avanços da pesquisa de autodefesa dos aviões de combate, seus projetistas puderam, por exemplo, improvisar uma baia de guerra eletrônica, que sanava esse importante item de vulnerabilidade da aeronave.
A aparelhagem era formada, basicamente, por um sistema de alerta radar, ao qual foi adicionado, mais tarde, um receptor de alerta contra mísseis e um equipamento de guerra eletrônica ativa, por geração de interferências – sistema que exigiu a instalação de antenas junto às tomadas de ar da fuselagem e na cauda.
Segundo o site IHS Jane’s 360, essa capacidade do jato russo de aceitar modificações modulares, permitiu que os técnicos da Força Aérea Iraniana desenvolvessem o seu próprio pacote de armamentos para a aeronave.
Segundo o site IHS Jane’s 360, essa capacidade do jato russo de aceitar modificações modulares, permitiu que os técnicos da Força Aérea Iraniana desenvolvessem o seu próprio pacote de armamentos para a aeronave.
Em linhas gerais – simplistas –, o Su-24 é, contudo, um avião perfeitamente apto a manter sob vigilância – ou estresse – o atual dispositivo militar britânico das Malvinas: quatro caças Typhoon, uma bateria de mísseis antiaéreos Rapier, uma guarnição estimada em 1.200 militares e a presença (não permanente) de um navio de superfície da classe de uma fragata média ou pesada.
O Sukhoi oferecido aos argentinos tem um raio de ação de combate de 1.046 km, transportando três toneladas de bombas, o que lhe permitiria decolar do território argentino, sobrevoar o arquipélago malvinense por dez ou 15 minutos e retornar à base sem a necessidade de reabastecer no ar.
Essa perspectiva é ainda mais difícil de ser aceita pelos britânicos, quando se sabe que o primeiro dos dois novos porta-aviões britânicos classe “Queen Elizabeth” só estará pronto em 2020. E, segundo o articulista Gareth Jennings, do IHS Jane’s Defence Weekly, só poderá ser considerado plenamente operacional no ano de 2023.
Poder Aéreo
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