As partes chegaram a uma conclusão conjunta que neste momento é necessário alargar a cooperação na área da defesa. Entretanto, o general Shoigu referiu que em primeiro lugar é necessário se dedicar ao reforço de sua base jurídica. Isso foi realizado através da assinatura, no dia 20 de janeiro, do acordo de cooperação militar entre os dois países. O general Shoigu anunciou que durante as conversações tinha sido alcançado um acordo para que a cooperação bilateral “tenha um propósito mais prático”, favorecendo o aumento da capacidade militar dos exércitos da Rússia e do Irã.
O ministro russo informou que em Teerã foram discutidas medidas de interesse comum. Elas incluem o aumento de trocas de delegações e de visitas de navios de guerra a portos da Rússia e do Irã, a realização de conversações a nível de estados-maiores, a participação em exercícios na qualidade de observadores, a preparação de quadros militares, assim como o intercâmbio de experiências em operações de paz e na luta contra o terrorismo. Quais foram então as particularidades desta visita?
É natural que as conversações entre ministros da Defesa tenham um caráter estritamente confidencial e nem todos os temas possam ser revelados à mídia, mas das declarações oficiais de ambas as partes, assim como da história das relações entre os dois países na área militar, podemos tirar conclusões bastante concretas acerca do encontro realizado em Teerã.
A história da cooperação militar entre os dois países remonta aos anos 60-70 do século XX. Ainda 15 anos antes da revolução islâmica, o Irã já recebia a ajuda de centenas de especialistas militares soviéticos e mais de 500 oficiais iranianos receberam sua formação militar na URSS. A União Soviética fornecia ao Irã armamento e material militar para forças terrestres, engenharia militar e artilharia. Em Isfahan e em Xiraz foram construídas, com ajuda da URSS, fábricas para a reparação desse material, nas quais trabalhavam especialistas soviéticos. Nos arredores de Teerã, com a colaboração técnica da parte soviética, foi construído o enorme complexo industrial Babak. Ele dispunha de instalações e laboratórios modernos e de um polígono para testes de armamento e material militar.
Nos anos de 1990, o processo de desenvolvimento das relações técnico-militares sofreu uma desaceleração. Um novo acordo foi assinado apenas em 2001. De novo a República Islâmica do Irã começou a receber um fluxo de material militar que incluía helicópteros de combate, aviões Su-25 e sistemas antiaéreos Top-M1.
Infelizmente, o conflito diplomático internacional relacionado com o problema nuclear iraniano se refletiu negativamente na cooperação entre a Rússia e o Irã. Assim, o contrato de fornecimento de sistemas de mísseis antiaéreos S-300, no valor de mais de 800 milhões de dólares, foi cancelado pela parte russa, a qual devolveu ao Irã o adiantamento de 166,8 milhões de dólares. Em resposta, Teerã apresentou uma queixa na arbitragem de Genebra no valor de 4 bilhões de dólares. A questão da desistência dessa queixa continua em aberto.
Sem dúvida que para restabelecer completamente a cooperação militar é necessária a retirada da queixa da arbitragem de Genebra. É possível que essa questão tenha sido abordada pelo general Shoigu em Teerã.
Além da queixa pendente na arbitragem de Genebra, outro obstáculo ao desenvolvimento da cooperação militar é a questão nuclear iraniana ainda por resolver e que resultou na criação de um regime de sanções em torno do Irã. As sanções internacionais, aprovadas contra o Irã pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, limitam as possibilidades da Rússia para uma cooperação militar plena com o Irã. Assim, o levantamento das sanções (que deverá acabar acontecendo, apesar de toda a complexidade das negociações nucleares) permitirá desenvolver plenamente essa cooperação técnico-militar. Os especialistas consideram que o volume da cooperação russo-iraniana nesta área possa atingir os 11-13 bilhões de dólares.
Nesse contexto, a visita do ministro da Defesa da Rússia, general Shoigu, a Teerã pode ser analisada como uma “manobra de antecipação” destinada a criar uma plataforma para o rápido desenvolvimento, após o levantamento das sanções, das relações técnico-militares com o Irã.
Além disso, Shoigu expressou o interesse em troca de pontos de vista acerca da situação no Oriente Médio e na Ásia Central. O ministro da Defesa russo expressou seu elevado apreço pelos esforços iranianos no combate ao terrorismo internacional. Shoigu assinalou os passos importantes empreendidos pelo lado iraniano igualmente no combate ao narcotráfico proveniente do território do Afeganistão. No contexto de resolução desses problemas, o general Shoigu declarou que “um papel especial é atribuído à cooperação entre as estruturas de defesa da Rússia e do Irã”.
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