Alfred Worden participou da missão Apollo 15 e foi o primeiro a concluir uma atividade extraveicular fora da órbita terrestre. Em entrevista à DW, ele relembra a viagem e critica a pesquisa espacial das últimas décadas.
O ex-astronauta americano Alfred Merril Worden pilotou o módulo de comando da missão Apollo 15, em 1971 – a nona do programa Apollo e a quarta a pousar na Lua. Worden foi o primeiro homem a concluir uma tarefa fora de um veículo espacial na travessia do vácuo entre a Lua e a Terra.
Em entrevista concedida à DW, ele destaca o fascínio de ir à Lua, que compara a uma visita à Disneylândia, e da alegria de tomar uma cerveja ao retornar à Terra. O astronauta também fala das dificuldades enfrentadas na viagem, feita com os colegas David Scott e James Irwin.
Lançando um olhar sobre o presente, o astronauta afirma que a Nasa se tornou muito burocrática e se diz decepcionado com o programa espacial dos últimos 30 anos.
DW: O que lhe vem à cabeça quando você vê a Lua?
Alfred Worden: Já faz mais de 43 anos que estive lá. São lembranças um tanto distantes, e é difícil recuperá-las. Mas quando a Lua está bem visível e especialmente quando estou na companhia de jovens, aí eu a uso como meio de despertar entusiasmo pela astronomia e pelo espaço. Eu não fico simplesmente olhando para ela e filosofando.
Você viveu os anos de ouro das viagens espaciais – A “Era Apollo”. Como era naquele tempo?
Todos que se envolveram no programa tinham apenas um objetivo: levar os astronautas à Lua e trazê-los de volta em segurança. Não havia nenhuma burocracia. Quando tínhamos um problema, nos sentávamos à mesa, discutíamos e decidíamos o que fazer. Primeiro, ouvíamos a opinião de todos e aí formávamos uma opinião. Assim, conseguíamos esclarecer várias questões técnicas rapidamente e chegar aos resultados corretos. Ninguém tentou se promover ou preservar o seu trabalho. Não tínhamos gestores que se acotovelavam por cargos mais altos. Todos deram o melhor para chegar à Lua.
Hoje, vemos exatamente o contrário. A Nasa se tornou muito burocrática, como qualquer outro órgão do governo. O lema é: “vou fazer de tudo para manter o meu emprego”. Mas isso não significa necessariamente que você está fazendo o que é necessário para atingir um objetivo.
O que aconteceu?
No final dos anos 1970, tivemos um grande retrocesso quando foi decidido construir um ônibus espacial – um grande erro, na minha opinião. Trata-se de uma máquina muito complexa. Podia fazer algumas coisas inusitadas e espetaculares, como decolar na vertical e pousar na horizontal. Mas, do ponto de vista técnico, lançamos uma máquina com 280 mil libras de peso para levar 25 mil libras ao espaço – à Estação Espacial Internacional (EEI).
Se tivéssemos mantido o foguete Saturno 5º como transportador espacial, poderíamos levar oito vezes mais para a órbita da Terra. O que eu acho interessante é que agora voltamos ao sistema Saturno 5º para programas futuros. A nave espacial Orion é uma cópia da Apollo, feita com fibra de carbono.
Estou decepcionado com o programa espacial dos últimos 30 anos. E tenho minhas ressalvas quanto à Estação Espacial Internacional. Do ponto de vista político, ela é algo bom, uniu muitos países. Mas tenho dúvidas sobre o retorno gerado pelos 100 bilhões de dólares. É muito dinheiro.
Por outro lado, se a estação espacial fosse usada para o que, na minha opinião, deveria ser usada, então, seria um investimento para o futuro. O benefício real é que você pode levar todo o tipo de combustível em porções menores e colocar em um grande tanque. E quando você quiser ir a Marte, você pega esse tanque e o acopla à sua nave espacial. Ao invés de tentar levar todo o combustível de uma vez a partir da Terra. Acho que há muito potencial, mas não estou seguro de que o estamos usando corretamente.
Deveríamos voltar à Lua?
Não, não vejo utilidade nisso. Por que deveríamos voltar à Lua? Para explorá-la mais? Ainda precisamos explorá-la? Acho que não. A Lua é um passo muito pequeno no caminho para o espaço.
Quais foram os seus grandes desafios no caminho para a Lua?
Do ponto de vista técnico, eu diria que o primeiro desafio foi a separação do módulo lunar do foguete Saturno 5º. Foi uma manobra muito delicada. Se isso não fosse realizado, teríamos de abortar o voo.
O próximo desafio foi a navegação, que também era bastante complicada. Tínhamos um sextante, daqueles que os antigos marinheiros usavam. Tínhamos que alinhar um pequeno sextante com as estrelas, determinar os ângulos e transportar tudo para o computador para calcular. Aí era preciso ver se tínhamos as mesmas informações que [a central de comando em] Houston. É necessária alta precisão. Você tem que manter a nave espacial parada, não pode se mover. Mas é muito fácil balançar uma nave espacial. Basta se virar para o lado.
Você não chegou a ver a Lua durante a aproximação?
Você não consegue vê-la. É preciso saber para onde se está voando. Você tem que ter a Lua na rota do vôo e chegar até ela.
Sozinho, numa pequena cápsula, na órbita da Lua, distante da Terra. Parece bem assustador…
Eu adorei! Eu não tinha que falar com Houston sempre, e essa era a melhor parte do voo. Curti muito o fato de não precisar falar com Houston. Porque podia ficar sozinho, isolado. Ninguém me incomodava. Podia me concentrar no que tinha de fazer. Não precisava de ninguém controlando os passos que eu dava.
Você chegou a fazer uma pesquisa mais sofisticada enquanto estava na órbita da Lua…
Era feita muita coisa com instrumentos que tínhamos a bordo. Retirar amostragens de diferentes regiões lunares para descobrir sua composição química. Fotografei um quarto da superfície lunar. Tem algo que chamamos de [efeito] “Gegenschein” [“brilho de oposição”]. São rochas que nunca estiveram vinculadas a um planeta. Elas orbitam em torno do Sol como um planeta.
Se você for para o cume de uma montanha no Chile, você veria o “Gegenschein”. Porque a atmosfera lá é muito fina. E quando você olha na hora certa, você pode realmente vê-lo como uma linha fraca. Com um telescópio, você viria uma linha tênue de luz no espaço. Eu registrei isso. Isso me fascinou.
Você foi o primeiro americano a completar com sucesso uma atividade extraveicular a uma grande distância da Terra.
Sim, para recuperar os cassetes de filme das duas grandes câmeras. Foi muito simples. Eu tinha treinado isso. Então, fizemos o desembarque, e peguei o primeiro rolo, depois, o segundo e olhei para o relógio. Eu só estava há 15 minutos lá fora! Fiquei lá por um tempo e olhei à minha volta. Mas você não pode ficar matando tempo. Era muito bonito. Olhei para a Lua, para a Terra e para tudo o que era possível em mais ou menos dez minutos. Então, voltei para dentro da nave.
Como é deixar a Lua quando você sabe que nunca mais vai voltar para lá?
Tínhamos consciência de que não voltaríamos. Mas tudo bem. Basta ver a Lua uma vez. Fora os geólogos, poucos se interessam por saber detalhes sobre a Lua. Mas é fantástico observá-la. É como visitar a Disneylândia. Se você for lá, vai dizer: “foi uma experiência maravilhosa, mas eu não preciso necessariamente voltar para lá”.
Falando em volta, o que te deixou mais feliz? O Chuveiro?
Hmmm (risos)… Um copo de vodka. Sim! Quando saí da nave, estava lá um sujeito em pé com um copo de vodka gelada. Mas ao invés de vodka, havia cerveja dentro.
Fonte: DW.DE / Plano Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário