Negociações de paz para a Ucrânia, Minsk-2015 |
A maratona de 16 horas de conversas durante uma noite inteira e até na manhã seguinte em Minsk sobre a solução do conflito na Ucrânia pelos líderes dos países envolvidos no chamado “formato Normandia” – Alemanha, França, Rússia e Ucrânia – terminou em acordo. Os 13 principais pontos do novo acordo fazem avançar os 12 pontos do acordo de Minsk de setembro passado. Mas há “adicionalidade”, até aqui: criou-se um cronograma para que os lados em guerra e outros protagonistas cumpram o que o tratado determina.
Os termos do tratado anterior confirmam que a Rússia negociou de uma posição de força – bem diferente do que a venenosa propaganda jornalística ocidental nos quis fazer crer. A “adicionalidade” relacionada ao futuro das regiões do leste, a ser decidido ao final do ano é, sem dúvida, grande avanço e significativa vitória para a Rússia, uma vez que a inclusão da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ficará virtualmente descartada para sempre, se a reforma constitucional for adiante. Esse era o item central crucial do que os russos queriam obter.
Contudo, continuará a ser o ponto mais difícil de negociar, porque o lobby nacionalista em Kiev, fortemente representando no atual formato, resistirá muito contra qualquer concessão relacionada a devolver poderes às regiões do leste. O presidente Petro Poroshenko ver-se-á colhido entre a cruz e a caldeirinha nessa questão; ele, que já está sob fogo do campo nacionalista que faz e acontece em Kiev. Mais uma vez, se Washington quiser fazer desandar todo o processo de paz, nem precisará procurar muito para encontrar o caminho mais curto.
Vladimir Putin chega a Minsk em 11/2/2015 |
Não surpreendentemente, portanto, a Rússia condicionou o fechamento da fronteira da Ucrânia com a Rússia à reforma constitucional que deverá vir. O que significa dizer que, com todas as fichas já jogadas, Moscou garantiu que é “tudo ou nada”.
Em segundo lugar, o cessar-fogo só passa a ser vigente no sábado, e daqui até lá é perfeitamente concebível que as partes em guerra farão esforços para obter ganhos táticos em campo. Debaltseve, sobretudo, é problema, porque Kiev sequer reconheceu que vários milhares de soldados seus estão naquela cidade que está cercada por forças da resistência armada anti-Kiev.
De fato, o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, em seus comentários, tocou indiretamente na questão de Debaltseve. Pode-se supor que a resistência anti-Kiev permita – sob pressão dos russos – que as tropas ucranianas sitiadas sejam evacuadas em segurança.
Mas no geral, embora não faltem previsões cataclísmicas de que o recente acordo dará em nada (como aconteceu ao acordo de setembro 2014), há boas probabilidades de que esse acordo germano-franco-russo mantenha-se e os combates parem – no mínimo, em termos imediatos. Os separatistas estão com as melhores cartas e quererão consolidar seus ganhos; e as forças pró-Kiev, que apanharam até perder a noção das coisas, também quererão tentar alguma recuperação.
Como já disse acima, a questão é se Kiev está disposta a conceder a autonomia das regiões do leste. A cinética do conflito na Ucrânia dependerá, afinal, da questão da reforma constitucional.
Não há dúvidas de que Putin sai-se muito bem, com a comprovação de que, como as autoridades russas sempre disseram, Moscou nunca teve ambições territoriais. Por outro lado, comprova-se que a Rússia quer preservar a integridade territorial da Ucrânia e está disposta a contribuir para essa meta – desde que, evidentemente, seja preservado o interesse legítimo que a Rússia tem numa Ucrânia que se entende igualmente bem com a Rússia e com o ocidente. A líder alemã e o líder francês parecem tem compreendido muito bem esse ponto.
Mas e quanto ao parceiro deles, do outro lado do Atlântico? O presidente Barack Obama está quase no mesmo bote que Poroshenko. O acordo para a Ucrânia será reduzido a cacos pelos críticos neoconservadores, que querem que os EUA partam logo para mais guerra, se for necessário, para deter “a agressão” russa. Já começam a aparecer pela imprensa-empresa norte-americana alguns “comentários” muito duros. O lobby ucraniano é muito influente também na política canadense.
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