Por Sergio Santana
Origens
Em 27 de setembro de 1965, o Ministério da Defesa da então Alemanha Ocidental autorizou o desenvolvimento de uma versão de artilharia antiaérea do Tanque Principal de Batalha Leopard, cuja produção seriada começara 18 dias antes. Devendo substituir o veículo norte-americano M42 – armado com dois canhões Bofors M-2A1, de 40 mm, introduzido na Arma Terrestre germânica em 1953 – a nova viatura deveria ter canhões de 30 mm guiados por sistema digital de controle de fogo, a fim de engajar alvos aéreos em manobras evasivas; peso de combate de 45.500 kg e máxima compatibilidade com os componentes originais do Leopard.
Dois consórcios – um formado pela Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche e outro pela Oerlikon-Contraves/Siemens-Albis – responderam à concorrência, com o primeiro propondo o conceito de “grupo de batalha” (composto por viaturas equipadas separadamente com dispositivos de vigilância/identificação e outras com radar de controle de fogo/canhões, ambos os tipos sendo liderados por um veículo de comando) enquanto que o outro sugeriu que todos esses itens fossem reunidos em um só veículo autônomo, armado com canhões de 35 mm, calibre rejeitado em 1962, por não ser padrão daquele Exército. As duas propostas foram analisadas entre 1966 e 1970, o desenvolvimento da primeira – também conhecida como “Matador” – sendo oficialmente interrompido em junho daquele ano, enquanto que o conceito rival foi aperfeiçoado: inicialmente recebeu o radar de vigilância Siemens MPDR 12 acoplado a um identificador de contatos aliados/hostis.
As modificações incorporadas aos protótipos “5 PFZ-A” durante o desenvolvimento foram tão amplas que resultaram na “segunda geração” deles, designada “5 PFZ-B”: radar de vigilância com capacidades aperfeiçoadas de supressão de interferências e de discriminação de alcance; radar Doppler de rastreio de alvos; habitáculo soldado da torreta usando placas de blindagem espaçadas nas seções frontal, traseira e superior; instalação de geradores auxiliares para os canhões antiaéreos, localizados no paiol de munições do Leopard original, isolado do chassis por paredes blindadas com painel de acesso e extintor de incêndio próprios; nova localização das baterias; proteção ao longo da lateral superior esquerda do chassis, cobrindo a saída do motor auxiliar e absorvedores de choque nas porções 2 e 6 do braço de suspensão. Tais protótipos foram testados entre 1971 e 1974, servindo de base para 12 exemplares de pré-série, com mais modificações: aumento do casco em 80 mm; reposicionamento da torreta em 20 mm; instalação de 12 absorvedores de choque e lagartas mais compridas.
Finalmente, em cinco de fevereiro de 1973 o Departamento de Munições do Ministério da Defesa alemão anunciou que o 5PFZ Tipo B seria encomendado e produzido para o Exército. A Krauss-Maffei AG (atual Krauss Maffei Wegman) seria a contratante principal, tendo como subcontratadas a Oerlikon-Contraves e Siemens AG. Além dos 20 exemplares de produção piloto, o contrato assinado em maio daquele ano cobria 122 outros da série B1, logo trocados por 195 outros do tipo B2 (com radar aperfeiçoado) e 225 B2L, com medidor de distância a laser, para alvos a até 5.100m. Ainda em 1973 o sistema foi designado oficialmente de “Gepard” (Guepardo, o animal terrestre mais veloz) e todos os exemplares foram entregues entre dezembro de 1976 e outubro de 1980. Além da Alemanha, a Bélgica e a Holanda também adquiriram os Gepard, tendo operado 54 e 95 unidades, respectivamente, os veículos possuindo características próprias. Mas como os modelos oferecidos ao EB são alemães, os Gepard das outras nações não serão detalhados no presente artigo.
Funcionamento e características técnicas do Gepard
O Gepard consiste de um radar de vigilância (Siemens MPDR, com alcance entre 75 e 15.750m e antenas de identificação aliado/hostil, transmissor/receptor, console monitor e suprimento de energia); sistema de controle de disparo (composto principalmente por radar de busca e rastreio, com alcance entre 300 e 15.000m, computador e navegador terrestre) e canhões duplos de 35 mm, tudo manejado por comandante, artilheiro e motorista. A operação do Gepard inicia quando a antena extensível do radar MPDR detecta um alvo, exibido para a tripulação em um monitor de 15 cm de diâmetro com dados de alcance e azimute, ao mesmo tempo em que é definido como aliado ou hostil.
A transferência do radar de vigilância para o de rastreio prossegue automática ou manualmente. Quando equipamento auxiliar está instalado, dados oriundos de outras fontes de vigilância aérea militar podem ser recebidos, exibidos e geograficamente correlacionados, o que no caso brasileiro possibilitaria que os Gepard atuassem sob o comando do COMDABRA com seus demais sistemas de aquisição de alvos, a exemplo dos radares SABER e aeronaves E/R-99. O radar de rastreio adquire e rastreia um determinado alvo aéreo, com seu azimute, elevação e alcance, exibido em uma tela de 10 cm. Durante essa operação continua a operar normalmente. A ampla área de aquisição do radar de rastreio permite que alvos sejam detectados em um ângulo de 200 graus, sem que a torre precise movimentar-se. São necessários entre 0.4 e 10 segundos para a aquisição e o rastreio do alvo.
A seleção de um segundo alvo é possível pelo pré-posicionamento do marcador de alvos naquele objetivo. O comandante e o artilheiro possuem periscópios individuais giroestabilizados, para a localização/rastreio de alvos aéreos/terrestres e observação do terreno. Computadores calculam o ângulo dos canhões (entre -5 e +85 graus), considerando fatores meteorológicos, a velocidade inicial do projétil e a inclinação do veículo, além de determinarem a duração das rajadas, de acordo com o alcance do alvo.
Os canhões KDA L/R04, pesando 562kg cada, medem 3.15 m, possuem cadência conjunta de 1.100 disparos/minuto, com os projéteis tendo velocidade inicial de 1.175m/segundo e alcance de 4 km. O projétil pesa 550 gramas, podendo ser dos tipos Alto Explosivo Incendiário (HEI), Perfurante de Blindagem Incendiário (API), além de traçante. Cada arma leva 320 munições antiaéreas (armazenadas no interior da torreta) e 20 projéteis perfurantes, estocados ao lado dos canhões. A troca entre os tipos de munição é efetuada no interior da torreta e o remuniciamento exige cerca de 20 minutos. Oito lançadores de granadas fumígenas completam o armamento.
O Gepard pesa 47.5 toneladas, mede 7.68m de comprimento, 3.27m de largura e 3.29m de altura, (com a antena do radar de busca rebatida), possui velocidade máxima de 65 km/h e 550 km de alcance. O veículo possui dois motores: um MTU 838 Cam 500, multicombustível, de 10 cilindros, gerando 830 HP e outro auxiliar Daimler Benz OM 314, a diesel, gerando 90 HP para o acionamento dos canhões, complementado por dois geradores de 20 kVA cada. A sua blindagem tem apenas uma camada, com 70mm de espessura á frente, variando entre 20 e 30mm nas partes traseira e lateral.
Os Gepard oferecidos ao Exército Brasileiro.
A partir de 1988, 206 dos Gepard alemães foram equipados com telêmetro a laser (em uma atualização do já mencionado B2L) e entre 1997 e 2000 147 deles foram submetidos a uma extensão de vida útil, a NDV, composta de novo computador digital, conexão com o sistema de defesa aérea e gerenciamento de batalha através de rádios SEM 93 e modificações para disparar munições do tipo HVFAPDS/FAPDS (Perfurante de Blindagem, Estabilizada por Aleta e Calço Descartável, de Alta Velocidade), com até 1.400m/segundo de velocidade inicial, o que elevou o alcance e teto operacional dos canhões para 5000m e 3.500m respectivamente.
O carro assim modificado foi designado Gepard 1A2, sendo previsto que permaneceria operacional até 2025. Mas recentemente o Exército alemão alterou a sua doutrina de emprego de veículos antiaéreos, passando a defesa antiaérea para a Força Aérea, do mesmo modo que a Holanda e a Bélgica haviam feito, e pôs os Gepard à venda.
Ao mesmo tempo, a Diretoria de Material do EB emitiu uma solicitação de informação (ou RFI) para estruturar a sua capacidade de defesa antiaérea, o que resultou na já referida “O Sol é o CZA III”. Os resultados dos testes dão conta de que o Gepard atingiu muitos dos alvos aéreos utilizados. Foram oferecidos 36 Gepard1A2, mais simuladores, treinamento, sobressalentes e ferramental, no valor inicial estimado em R$ 50 milhões.
Mais recentemente, dentro do programa de modernização da defesa antiaérea, o governo brasileiro negociou com o seu par russo a aquisição de três baterias de veículos Pantsir S1 (SA-22 Greyhound) e uma quantidade indeterminada de mísseis 9K-338 Igla-S (SA-24 Grinch), dos quais o EB e a FAB (Força Aérea Brasileira) já operam algumas dezenas.
Nota do autor: Essa Matéria foi Originalmente publicada na Revista Forças Armadas em Revista numero 31. O Autor também gostaria de agradecer a Sergio Santana por ter autorizado tal publicação.
Plano Brasil
Lembra um veículo antigo do tempo da segunda guerra mundial.
ResponderExcluirPobre de nós, brasileiros. Um país tão rico, que é pilhado por políticos ligados ao partido da presidente e de sua base aliada, e que só adquire, na maioria das vezes, antiguidades para as Forças Armadas.
Lembra um veículo antigo do tempo da segunda guerra mundial.
ResponderExcluirPobre de nós, brasileiros. Um país tão rico, que é pilhado por políticos ligados ao partido da presidente e de sua base aliada, e que só adquire, na maioria das vezes, antiguidades para as Forças Armadas.