Estamos republicando, na íntegra, a Carta aberta do DefesaNet ao ministro da Fazenda Joaquim Levy.
Este excelente texto merece ser lido com muita atenção, pois oferece uma reflexão a respeito de um momento delicado para indústria de defesa de nosso país, com consequências para as gerações futuras.
Carta aberta do DefesaNet ao ministro da
Fazenda Joaquim Levy
Fazenda Joaquim Levy
Senhor ministro Joaquim Vieira Ferreira Levy,
Enviamos esta carta ao Engenheiro Naval,que na sua carreira tem assumido a postos relevantes nas áreas de finanças.
Como profissional ativo do setor financeiro, acostumou-se com este mundo frio dos números e foco nos resultados financeiros, políticas essas que o Ministério da Fazenda se pauta hoje para sanear o Estado brasileiro, atuando como nos antigos tempos do Fundo Monetário Internacional (FMI), pode estar lhe atrofiando o conceito de uma nação soberana.
É sobre isso que vamos tratar neste documento público, senhor Levy. A desestruturação, no primeiro momento, com as sucessivas “pedalas” feitas pelo governo no cumprimento do acordado com as empresas. Agora passa para o desmonte promovido por sua pasta nos setores de Defesa e Aeroespacial. Assemelha-se com a frieza e crueza com que um a um os projetos de defesa e tecnologia nos anos 80, foram solapados na indústria brasileira e que mergulhou os setores de tecnologia desse país em sua Idade Média, numa Era das Trevas!
A perda da empresa ELETROMETAL causou um dano irreparável na área de siderurgia e metalurgia até hoje não recomposto.
As políticas implantadas agora reproduzem o espectro daquele trágico momento. Ao Sistema Financeiro e Público proteções imensas em garantias.
Enquanto isso nossa indústria se despedaça e o que restará será entregue à ferocidade dos cães famintos: dos empréstimos, às taxas de mercado e ao calote. Essa tríade maldita, gêmea siamesa do mitológico Cérbero, que guardava as portas do inferno impedindo quem estava no local de sair.
Depois de uma comemorada PEC da Defesa, da Estratégia Nacional da Defesa (END), quando deslumbrou-se o ressurgimento com o vigor necessário da indústria de materiais de defesa, aeronáutica e espacial e um período de prosperidade, com rearranjos empresariais altamente produtivos e atrativos para parcerias internacionais, numa verdadeira ‘Renascença Florentina” que esse segmento não via desde os anos 80, quando teve início da aniquilação da emergente indústria de defesa e aeroespacial brasileira.
Ministro Levy, de todos os grandes países em extensão territorial somos o que mais carece de aporte contínuos de recursos e de uma vasta recuperação de nosso poder de dissuasão, seja qual for a situação. Veja pelos investimentos no BRICS em relação aos países de grandes fronteiras, como Rússia, China e Índia. Investíamos o equivalente a 1,5% do PIB contra 2,5% dos outros países. Apesar de pouco relacionados aos outros, havia investimentos, mesmo que fossem para cobrir um imenso abismo de décadas como setor à míngua. Agora voltamos para o cenário sem horizonte, numa situação terrível e paralisante para o setor.
Sua área de formação a indústria naval e agora também a do petróleo correm enormes riscos atuais e no seu futuro.
Quem gera empregos, alimenta as famílias que formam essa imensa nação, é a indústria, e quem alimentará os nossos filhos e netos no futuro é a indústria de tecnologia. Não gere instabilidade ministro, gere segurança, pois só assim o país poderá produzir e crescer!
Na semana que passou ocorreram grandes comemorações na sede da Lockheed Martin, empresa que produz as aeronaves de transporte Hercules C130. Viram, o seu futuro competidor próximo de jogar a toalha no ringue, antes mesmo de começar o primeiro assalto.
O próprio governo admite que deu o calote de 500 milhões de reais no projeto e a EMBRAER está com sérios problemas na continuidade deste projeto. O mais ambicioso na história da indústria da aeronáutica brasileira São mais de 1.000 engenheiros e 10.000 técnicos envolvidos no projeto KC-390.
Quanto aos helicópteros, senhor Ministro Levy, a empresa HELIBRAS luta para salvar empregos de engenharia, próximos da dilapidação dentro de monstruoso calote dado nos créditos da empresa pelo governo.
Quanto aos submarinos, pelo que levantamos são quase 2 Bilhões em calote.
Muitos cantos de sereia, belas e formosas, soam nos seus ouvidos neste momento. Porém, suas melodias sinalizam a dor e o descrédito das futuras gerações neste país de criar e evoluir.
Não podemos deixar o Brasil à mercê do folclore que num país pacifico não há necessidade de investir em defesa. Só uma defesa forte garante a paz, senhor ministro, inclusive a própria soberania. Que se faça o ajuste fiscal necessário, mas com prudência e visão estratégica, não um economicismo, que leve ao calote e a destruição de nosso poder de resistência em um mundo em profunda crise e ávido por recursos naturais, os quais temos de sobra.
E não destrua o futuro de nossos filhos e netos. Isso é de uma irresponsabilidade que beira ao crime de lesa pátria !
O Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) divulgou há um ano, os seus registros de WORLD MILITARY EXPENDITURE, 2013. DefesaNet apresentou os pontos relevantes do estudo do SIPRI. Ele foi analisado com a devida e cuidadosa atenção pois começa a mostrar definições importantes nas principais nações que investem em Defesa no Mundo.
O estudo compilou os dados de 172 países que mostraram um gasto mundial em Defesa de U$ 1,747 trilhão de Dólares, uma queda de 1,9 % comparado com 2012. (Link Matéria )
Os países do BRICS, com exceção da África do Sul, todos estão a frente do Brasil. Na América latina, Colômbia (+13%), Honduras (+22%) e Paraguai (+33%), vêm expandindo significativamente seus orçamentos militares. Segundo o SIPRI, os gastos militares na região registraram um crescimento real (descontada a inflação) de 2,2% em 2013 e de 61% nos últimos dez anos .
Definitivamente, ministro Levy, o calote na indústria e recessão não ajudará o Brasil a se recuperar e muito menos se posicionar com uma potência emergente. Estamos sim voltando aos tempos do garrote do FMI, agora internado nas entranhas de Brasília e do governo federal.
Definitivamente, ministro Levy, o calote na indústria e recessão não ajudará o Brasil a se recuperar e muito menos se posicionar com uma potência emergente. Estamos sim voltando aos tempos do garrote do FMI, agora internado nas entranhas de Brasília e do governo federal.
Não considere o silêncio disciplinado dos militares e obsequioso das entidades de classe como endosso à esta política.
O Campo de Pistóia ruge, pois não foi para isso, que lutaram e venceram há 70 anos.
DefesaNet
Brasília DF, 07 Maio 2015
Brasília DF, 07 Maio 2015
FONTE: DefesaNet – EDIÇÃO: Cavok
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