O documentário de Laura Poitras “Citizenfour”, premiado com um Óscar, não tem tido a atenção que merece por parte do público no nosso país. O seu título é o nome de código de Edward Snowden, o ex agente da CIA que revelou ao mundo a existência e o funcionamento do monstruoso sistema de espionagem criado pela NSA, cujos tentáculos cobrem o mundo. Peça fundamental da estratégia imperialista de dominação planetária, o desmascaramento desta ameaça é uma tarefa de defesa da humanidade.
Contei as pessoas à saída da sala do pequeno cinema do Porto que acabara de exibir o documentário Citizenfour: eram apenas 19.
Porquê tão pouca gente?
Eu conhecia a resposta:
1. A esmagadora maioria dos portugueses (o panorama não difere muito noutros países) desconhece a perigosa ameaça que a estratégia de poder dos EUA representa para a humanidade.
2. É extremamente difícil conseguir que centenas de milhões de pessoas, manipuladas pela gigantesca máquina de desinformação mediática controlada por Washington, tomem consciência de que os valores da chamada “democracia americana” são hoje uma arma de propaganda e que nos EUA, neste início do seculo XXI, a Casa Branca, o Pentágono e a Agencia Nacional de Segurança – NSA com a cumplicidade do Congresso, montaram uma engrenagem diabólica, na prática incontrolável, para dominar o planeta, através, da espionagem.
Citizenfour é o nome de código de Edward Snowden no Documentário em que a cineasta e jornalista norte-americana Laura Poitras resume em linguagem fílmica a estória do jovem informático, ex agente da CIA, que revelou ao mundo a existência e o funcionamento do monstruoso sistema de espionagem criado pela NSA, cujos tentáculos cobriam o mundo.
O importante no filme não é a sua qualidade, mas o desmascaramento da ameaça à humanidade.
Snowden estava em Hong Kong quando, após cautelosos contactos por mails encriptados, aceitou encontrar-se naquela cidade com Laura Poitras e o jornalista americano Glenn Greenwald, colunista do diário britânico The Guardian. Sabendo que estava a ser vigiado, entregou a ambos os documentos secretos em seu poder. Quando Greenwald, com a sua anuência, começou a publicá-los em The Guardian, ficou transparente que o chamado sistema de vigilância da NSA, elogiado pelo presidente Obama, é, na realidade, uma poderosa máquina de espionagem de dimensão planetária. O escândalo adquiriu proporções mundiais quando o Washington Post e o semanário alemão Der Spiegel e a BBC decidiram também divulgar provas indesmentíveis das atividades ilegais da NSA, criminosas segundo o direito internacional. Até a chanceler Angela Merkel, entre muitos outros aliados dos EUA (incluindo Dilma Roussef e o próprio Cameron) era alvo da espionagem da NSA.
Obama sentiu a necessidade de intervir e pediu desculpas a Merkel, e ela, tão hipócrita como o americano, simulou acreditar na garantia de que não voltaria a ser espiada pela NSA.
O filme ilumina bem o cinismo do presidente dos EUA, mais perigoso para a humanidade do que Reagan e os Bush. Não somente atacou agressivamente Snowden, afirmando que não era “um patriota”, como deu luz verde à perseguição judicial iniciada ao ex funcionário da NSA. Para o incriminar acharam que o Patriot Act era insuficiente e foram desenterrar uma lei da época da Primeira Guerra Mundial, que visava desertores e terroristas. No Senado e na Camara dos Representantes chegaram a exigir-lhe a cabeça, e nos grandes media tornaram-se rotineiros os apelos para que fosse assassinado.
Em Hong Kong, Snowden apercebeu-se de que se permanecesse ali as suas probabilidades de sobreviver eram mínimas. Retiraram-lhe inclusive o passaporte americano.
O documentário de Laura Poitras descreve os esforços de Greenwald e outros amigos para o tirarem da China enquanto pedia asilo a muitos países. A ajuda de Sónia Bridi, uma jornalista do Wikileaks, de Julian Assange, foi decisiva para o meterem num avião da Aeroflot que o levou a Moscovo. O desfecho da estória é bem conhecido. Snowden permaneceu na área internacional do aeroporto internacional daquela cidade, até que finalmente o governo de Putin, resistindo às pressões de Washington, lhe concedeu asilo na Rússia. Ali se encontra ainda.
O escasso número de espectadores que o filme de Laura Potras, premiado com um Óscar, tem atraído em Portugal é esclarecedor da dificuldade, mencionada no início deste artigo, da desmontagem da máquina de desinformação do imperialismo. O sistema dos Cinco Olhos que transforma a mentira em verdade – no qual o Reino Unido, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia participam como cúmplices – tem aliás colaborado ativamente com a NSA.
Mas o diabolismo da espionagem mundial da Agencia de Segurança norte americana funciona também como incentivo à luta contra a engrenagem do sistema de poder que gradualmente está transformando os EUA num Estado totalitário com matizes neofascistas.
Não instalou campos de concentração, não construiu camaras de gás e fornos crematórios mas, sob uma enganadora fachada democrática, faz do seu sistema de espionagem o instrumento de um poder hegemónico, desencadeia guerras genocidas, saqueia os recursos naturais de dezenas de povos e semeia o terrorismo pelo mundo. Neste início do seculo XXI os seus atos e ideologia justificam o qualificativo de IV Reich.
Vila Nova de Gaia, 21 de Março de 2015
Autor: Miguel Urbano Rodrigues
Dinâmica Global
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