Em 1967, o coronel Gaddafi herdou uma das mais pobres nações africanas. Quando foi assassinado, a Líbia era a nação mais rica da África. Antes do início da campanha de bombardeio comandada pelos EUA contra o país, a Líbia tinha o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano, a mais baixa taxa de mortalidade infantil e a mais longa expectativa de vida de todo o continente africano.
20 de outubro marca o 4º aniversário do assassinato de Muammar Gaddafi. Foi quando os EUA acabaram de destruir uma das maiores nações de toda a África.
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Hoje, a Líbia é estado destruído. A intervenção militar por exércitos ocidentais sob comando dos EUA gerou o pior cenário imaginável: todas as embaixadas ocidentais foram abandonadas; a região sul do país tornou-se abrigo seguro para os terroristas do ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico; e a costa norte é hoje centro de tráfico de migrantes. Egito, Argélia e Tunísia fecharam suas fronteiras com a Líbia. E isso acontece num quadro dantesco de estupros, assassinatos e torturas generalizados, que completa a descrição de estado destruído até a medula.
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Hoje, a Líbia é estado destruído. A intervenção militar por exércitos ocidentais sob comando dos EUA gerou o pior cenário imaginável: todas as embaixadas ocidentais foram abandonadas; a região sul do país tornou-se abrigo seguro para os terroristas do ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico; e a costa norte é hoje centro de tráfico de migrantes. Egito, Argélia e Tunísia fecharam suas fronteiras com a Líbia. E isso acontece num quadro dantesco de estupros, assassinatos e torturas generalizados, que completa a descrição de estado destruído até a medula.
Hoje, na Líbia há dois governos que disputam o país, dois parlamentos, dois bandos que disputam o controle do banco central e da empresa de petróleo do país, nenhuma polícia ou exército funcionais, e os EUA agora temem que o ISIS comande campos de treinamento de terroristas em vastas áreas do país.
De um lado, no oeste do país, milícias aliadas de islamistas tomaram o controle da capital Tripoli e de outras cidades chaves, e impuseram ali seu próprio governo, depois de expulsarem um parlamento que havia sido eleito.
Do outro lado, no leste do país, o governo ‘legítimo’, dominado por políticos anti-islamistas e que vive exilado a 1.200 quilômetros de distância da capital, em Tobruk, já não governa coisa alguma. A democracia que governos ocidentais prometeram aos líbios para depois que o regime do coronel Gaddafi fosse ‘mudado’, se algum dia existiu, dela hoje não se veem nem vestígios.
Ao contrário do que ensina a mídia-empresa ocidental, a Líbia nunca foi alguma “ditadura militar de Gaddafi”; na verdade, a Líbia de Gaddafi foi um dos estados mais democráticos do mundo.
Sob o sistema de democracia direta de Gaddafi, único em todoo mundo, as instituições tradicionais do governo à ocidental haviam sido desmontadas e abolidas. O poder pertencia ao povo, que o exercia diretamente mediante comitês e congressos populares.
Muito diferente de país controlado por um único homem, a Líbia era nação altamente descentralizada e dividida em várias pequenas comunidades que, na essência, operavam como “miniestados autônomos” dentro de um estado. Esses estados autônomos controlavam seus próprios distritos e tomavam várias decisões, inclusive como alocar os lucros do petróleo e os fundos nacionais orçamentais. Dentro desses miniestados autônomos, os três principais corpos da democracia líbia eram os Comitês Locais, os Congressos Básicos do Povo e os Conselhos Revolucionários Executivos.
Os Congressos Básicos do Povo (CBP) ou Mu’tamar shaʿbi asāsi eram essencialmente o equivalente líbio, em funções, da Câmara dos Comuns no Reino Unido ou da Câmara de Representantes nos EUA. Mas os Congressos do Povo da Líbia não eram constituídos só de representantes eleitos que discutiam e propunham leis em nome do povo; o Congresso admitia a participação direta no processo, de todos os líbios. Estavam em operação em todo o país 800 Congressos Básicos do Povo, e todos os líbios podiam comparecer às reuniões e participar das discussões e tomar decisões em todas as grandes questões inclusive de orçamento, de educação, indústria e de economia em geral.
Em 2009, Gaddafi convidou o New York Times para que enviasse jornalistas que passariam duas semanas no país e observariam a operação da democracia direta líbia. Até o New York Times, que sempre foi crítico furioso do experimento democrático do coronel Gaddafi, reconheceu, pelo menos, que, pelo projeto político nacional
“[Na Líbia] todos estão envolvidos em todas as decisões (…) Dezenas de milhares de pessoas participam de reuniões de comitês locais para discutir e votar questões as mais variadas, de tratados internacionais à construção de escolas.”
A diferença fundamental entre os sistemas democráticos ocidentais e a democracia direta da Jamahiriya é que, na Líbia, todos os cidadãos tinham pleno direito de expressar diretamente a própria opinião – não em algum Parlamento de apenas umas poucas centenas de políticos ricos que, pressupostamente, representariam os pobres –, mas em centenas de comitês de cujas reuniões participavam dezenas de milhares de cidadãos. Longe de ser alguma ditadura militar, a Líbia governada pelo coronel Gaddafi foi a mais próspera democracia da África.
“[Na Líbia] todos estão envolvidos em todas as decisões (…) Dezenas de milhares de pessoas participam de reuniões de comitês locais para discutir e votar questões as mais variadas, de tratados internacionais à construção de escolas.”
A diferença fundamental entre os sistemas democráticos ocidentais e a democracia direta da Jamahiriya é que, na Líbia, todos os cidadãos tinham pleno direito de expressar diretamente a própria opinião – não em algum Parlamento de apenas umas poucas centenas de políticos ricos que, pressupostamente, representariam os pobres –, mas em centenas de comitês de cujas reuniões participavam dezenas de milhares de cidadãos. Longe de ser alguma ditadura militar, a Líbia governada pelo coronel Gaddafi foi a mais próspera democracia da África.
Inúmeras vezes, propostas do próprio coronel Gaddafi foram rejeitadas pelo voto popular nos Congressos, que aprovavam o exato oposto do que Gaddafi propusera; e o que foi aprovado foi convertido em lei.
Por exemplo: inúmeras vezes o coronel Gaddafi propôs a abolição da pena de morte, e queria implantar a educação doméstica, em vez das escolas tradicionais. Mas os Congressos do Povo sempre quiseram manter a pena de morte e as escolas tradicionais – e sempre prevaleceu a decisção dos Congressos do Povo. Assim também, em 2009, o coronel Gaddafi apresentou sua proposta para, essencialmente, abolir completamente o governo central e entregar toda a administração dos procedimentos de extração e comercialização do petróleo diretamente às famílias. Os Congressos do Povo também rejeitaram essa ideia.
Por mais de 40 anos, Gaddafi promoveu uma democracia econômica, e usou a riqueza nacionalizada do petróleo para manter programas de bem-estar social muito progressistas, e para todos os líbios. Sob governo de Gaddafi, os líbios gozaram não só de atendimento à saúde e educação universais gratuitos, mas também de eletricidade gratuita e empréstimos sem juros.
Hoje, graças à intervenção de EUA-OTAN, o setor de saúde já praticamente nem existe, depois que milhares de médicos e enfermeiros filipinos empregados do estado líbio fugiram do país; universidades públicas que havia em todo o país estão fechadas; e frequentemente falta energia elétrica na antes vibrante Trípoli.
Diferentes dos cidadãos ocidentais, os líbios não votavam a cada quatro anos para trocar o presidente, e eleger parlamentos que, por mais que se troquem os nomes, são invariavelmente povoados de gente rica que ganham um direito pressuposto democrático de defender os direitos dos pobres contra os seus próprios direitos de ricos. Líbios comuns tomavam suas próprias decisões de política exterior, política doméstica e política econômica, eles mesmos.
O bombardeio dos EUA em 2011 contra a Líbia, não destruiu apenas a infraestrutura da democracia líbia. Os EUA também trabalharam diretamente para promover Abdelhakim Belhadj, então líder de um grupo terrorista chamado ISIS, o mesmo grupo que, hoje, torna absolutamente impossível qualquer democracia na Líbia.
O fato de que os EUA têm longa e desgraçada história de apoiar grupos terroristas no Norte da África e no Oriente Médio só surpreenderia quem viva de ‘informar-se’ por noticiários de jornal e televisão e aplicadamente se dedique a não conhecer diretamente nenhum fato.
A primeira vez que a CIA aliou-se a islamistas extremistas foi ainda durante a Guerra Fria. Naquele momento, os EUA viam o mundo por uma equação não ‘simples’, mas caolha: de um lado, a União Soviética e o nacionalismo terceiro-mundista, que os EUA consideravam arma soviética; de outro lado, as nações ocidentais e o extremismo islamista, chamado “Islã Político”, que os EUA viam como seu aliado na luta contra a União Soviética.
Desde então, os EUA já usaram a Fraternidade Muçulmana no Egito contra a expansão soviética; o Islã Sarekat contra Sukarno na Indonésia; e o grupo terrorista Jamaat-e-Islami contra Zulfiqar Ali Bhutto no Paquistão. Hoje, não por acaso, aí está a Al-Qaeda-EUA.
Al Qaeda: ‘a base’ (de dados da CIA)
Não se pode esquecer que a CIA pariu Osama Bin Laden e amamentou seus terroristas durante todos os anos 1980s. O ex-secretário do Exterior da Grã-Bretanha Robin Cook contou à Câmara dos Comuns que a Al Qaeda é e sempre foi, sem nenhuma dúvida possível, criação das agências de inteligência ocidentais. Robin Cook explicou que a Al Qaeda – palavra árabe que significa, literalmente, “a base”, foi, na origem, a base de dados de milhares de extremistas islamistas que eram treinados pela CIA e pagos com dinheiro saudita para derrotar os russos no Afeganistão. Naquela época, o Islamic State of Iraq and Syria (ISIS) atendia por outro nome: Al Qaeda no Iraque.
O ISIS está em surto de metástase em velocidade alarmante, na Líbia, ainda sob a liderança de um Abdelhakim Belhadj. A rede Fox News admitiu recentemente que “Mr. Belhadj foi há algum tempo cortejado pelo governo Obama e membros do Congresso”, e que foi firme aliado dos EUA na campanha para derrubar Gaddafi. Em 2011, os EUA e o senador McCain elogiavam Belhadj como “heroico combatente da liberdade”, e Washington forneceu armas e apoio logístico ao grupo dele. Hoje, o senador McCain diz que a organização comandada por Belhadj, o ISIS, “é provavelmente a maior ameaça que há contra os EUA e tudo que defendemos”.
Enquanto Gaddafi viveu, o terrorismo islamista praticamente nem existia, e em 2009 o Departamento de Estado dos EUA dizia que a Líbia era “importante aliada na guerra ao terrorismo”.
Hoje, depois da intervenção dos EUA, a Líbia abriga o mais gigantesco arsenal de armas desviadas do planeta, e por suas fronteiras porosas transitam os atores não estatais mais pesadamente armados do mundo – tuaregues separatistas, jihadistas que expulsaram de Timbuktu o exército nacional do Mali e, cada dia mais, milícias do ISIS lideradas pelo antigo aliado dos EUA, Abdelhakim Belhadj.
Bem claramente, o sistema econômico e de democracia direta de Gaddafi foi dos mais profundos experimentos de democracia que os séculos 20-21 conheceram. A destruição da Líbia entrará para a história como uma das mais retumbates derrotas militares que EUA-OTAN sofreram, em todos os tempos.*****
* Garikai Chengu é aluno da Harvard University. Recebe e-mail em garikai.chengu@gmail.com
Garikai Chengu,* Global Research, Canadá
Naval Brasil
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