4/10/2015, Eric Margolis Blog
Traduzido por Vila Vudu
Frankfurt, Alemanha – Será que alguém no governo Obama é tão lerdo de ideias a ponto de supor que a Rússia não se moveria para conter os esforços dos EUA para derrubar o aliado de Moscou na Síria?
A guerra síria começou há quase cinco anos, com forças de EUA, França, Grã-Bretanha e Arábia Saudita empenhados em derrubar o governo sírio apoiado pelos governos do Irã e da Rússia. Até aqui, o resultado é 250 mil mortos, 9,5 milhões de refugiados que inundam a Europa, e a Síria destruída.
Até aí, pouca novidade: o primeiro golpe da CIA para tentar derrubar governante sírio aconteceu em 1949, contra o general Husni Zaim.
Uma combinação de húbris imperial e ignorância levou Washington a crer que poderia derrubar qualquer governo que lhe parecesse desobediente ou não cooperativo. A Síria foi escolhida como o mais recente alvo de golpe para ‘mudança de regime’, porque o regime do presidente Assad – governo legítimo, eleito, reconhecido pela comunidade internacional e membro da ONU – é aliado próximo do Grande Satã, o Irã. Antes, até cooperara com Washington.
Depois de assistir à lenta destruição da Síria, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, moveu seu peão para o tabuleiro de xadrez sírio. Pela primeira vez desde 1991, Moscou enviou uma pequena unidade expedicionária de 50 aeronaves para a Síria, para amparar o regime do presidente Assad e para reafirmar que a Rússia defenderia seus interesses estratégicos de muito tempo, na Síria.
Pouco dos amadores que passam por estrategistas do governo Obama algum dia souberam que a Rússia, durante o século 19 carregava o título de justo protetor dos Cristãos do Oriente Médio. A Rússia assistiu à destruição de antigas comunidades cristãs no Iraque, depois que o protetor delas, presidente Saddam Hussein, foi derrubado. Moscou jurou que não permitiria que crime semelhante acontecesse novamente, dessa vez contra os cristãos sírios.
A Rússia está também claramente reafirmando um grau da influência que o país já teve no Oriente Médio. Em 1970, pilotos russos envolveram-se com aeronaves russas sobre o Canal de Suez, durante a “Guerra de Atrito”. O tempo de voo de Moscou a Damasco é praticamente o mesmo que de New York City a Miami. A Síria está no quintal da Rússia, não dos EUA.
Guerra muito efetiva de propaganda feita contra Síria e Rússia pela mídia-empresa norte-americana, francesa e britânica tanto demonizou o presidente Assad da Síria, que Washington terá dificuldades para negociar ou incluí-lo em qualquer acordo de paz. Os EUA cometeram o mesmo erro estúpido com os Talibã do Afeganistão, e até hoje pagam o preço.
O presidente Bashar Assad não é nenhum Grande Satã. É médico oftalmologista formado e treinado na Grã-Bretanha, forçado a assumir a liderança de sua família e o governo da Síria por causa de um acidente de carro que matou seu irmão mais velho. O regime Assad é carregado de funcionários corruptos e crueis, mas minha longa experiência regional ensina que a Síria absolutamente não é pior que aliados realmente brutais dos EUA, como Egito, Arábia Saudita, Marrocos ou Uzbequistão.
Há muito tempo o presidente Putin fala de construir um acordo negociado que ponha fim ao destrutivo conflito sírio, que rapidamente se vai tornando semelhante à terrível guerra civil no Líbano, de 1975 a 1990, a cujos horrores assisti em primeira mão.
Quem governe a Síria absolutamente não vale nem mais uma morte, ou mais um único refugiado. Infelizmente, a Síria parece já ter ultrapassado o ponto de recuperação. Os doidos que os EUA criamos agora comandam amplos territórios dentro do Iraque e da Síria. A Rússia já começa a falar em ir também para o Iraque.
Vlad Putin mantém o jogo firmemente sob controle. Não garanto nada quanto à Casa Branca de Obama e seus confusos conselheiros. Melhor fazer já um acordo com Assad, aliado natural dos EUA, e dar fim rápido a essa guerra ensandecida, antes que o senador John McCain e seus cruzados Republicanos realmente iniciem a 3ª Guerra Mundial.
Washington recusa à Rússia qualquer esfera de legítima influência na Síria, apesar de Moscou manter uma pequena base em Tartus, no litoral, há mais de 40 anos. Essa base logística russa está agora sendo expandida e guardada por força armada com dimensões de uma companhia reforçada.
Essa semana chegaram notícias de que uns poucos soldados da infantaria iraniana haviam entrado na Síria. O Líbano, representado pelos combatentes do Hezbollah, também está em ação na Síria.
Contra esses há um saco de forças irregulares e fanáticos religiosos pesadamente armados e treinados e armados pelas forças de inteligência dos EUA, da França e da Grã-Bretanha, com dinheiro de Washington e dos sauditas. Pessoalmente, acredito que também haja pequeno número de soldados das Forças Especiais dos EUA e da França, e dos SASbritânicos, que combatem ao lado das forças anti-Assad.
Israel e Turquia, na esperança de arrancarem algum lucro de um possível racha do território sírio, também auxiliam discretamente as forças anti-Assad que incluem a al-Qaeda e o coringa preferido de todos, chamado “Estado Islâmico”.
Ouvem-se rugidos de protesto saídos de Washington e de seus aliados, por causa da intervenção militar russa. De modo geral, os EUA odiamos quando alguém faz contra nós o que vivemos a fazer contra os outros. Os EUA têm mais de 800 bases em todo o mundo. Tropas francesas operam em muitos pontos da África. Esses países sempre empreenderam intervenções militares (sempre que se sentiram suficientemente fortes).
Washington acusa Moscou de imperialismo, mas há 10 mil soldados, frotas de aviões e 35 mil mercenários norte-americanos combatendo contra forças nacionalistas no Afeganistão. O Iraque permanece, como semi colônia dos EUA. A Rússia retirou todos os seus 350 mil soldados estacionados na Alemanha em 1991; as bases dos EUA lá continuam, cobrindo todo o território alemão e, mais recentemente, também o território romeno. *****
Oriente Mídia
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