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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Paisagem estratégica do Oriente Médio: mudanças drásticas


11/10/2015, Dmitry MININ, Strategic Culture Foundation

Traduzido por Vila Vudu

“Uma estranha união de duas fontes da política externa dos EUA está na raiz da estratégia falhada dos EUA na Síria. Uma compreende o establishment de segurança dos EUA, incluindo os militares, as agências de inteligência e seus apoiadores no Congresso. A outra fonte emerge da ‘comunidade de direitos humanos’. Essa fusão peculiar já é evidente em muitas das guerras recentes dos EUA no Oriente Médio e na África. Os resultados têm sido consistentemente devastadores para os EUA.”
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Washington cavou a própria cova na SíriaApesar da diversidade de opiniões sobre a operação russa na Síria, praticamente todos concordam que aquela operação comprova o fracasso da política ocidental para a Síria. A ação russa terá efeito de longo alcance no Oriente Médio. Há quem preveja fracasso, mas avaliação imparcial mostra que aconteceu no momento exato para interferência ativa no já muito prolongado conflito sírio. A escolha do momento foi perfeito sucesso.As Forças Aeroespaciais Russas são capazes de mudar drasticamente o equilíbrio de forças naquela região. 

E intervenção efetivamente exclui a possibilidade de a guerra síria deslizar para conflito internacional de maior escala.É óbvio que quando os EUA provocaram crise aguda na Ucrânia – área onde a Rússia tem interesses vitalmente importantes – há praticamente dois anos, a operação tinha o objetivo de desviar para longe da Síria a atenção de Moscou, que sempre apoiou o presidente Assad. A Casa Branca, então, estava convencida de que o retumbante fracasso de sua estratégia para o Oriente Médio não era sua culpa – sempre há alguém a quem culpar. Tudo sugere que ainda permaneçam sob efeito desse abençoado delírio. No calor da crise ucraniana, os EUA tiveram relativa liberdade de ação. E enquanto isso, a situação na Síria piorou muito, inclusive com ampliação das atividades terroristas.Até que, sem que ninguém esperasse, o envolvimento da Rússia na crise da Ucrânia tornou sua posição ainda mais forte no Oriente Médio.


Uma das razões é a Península da Crimeia. É segredo conhecido de todos que se a península não tivesse sido convertida em parte integrante do território da Rússia, as atividades militares dos russos no Mediterrâneo Oriental ficariam seriamente limitadas. A Crimeia tem importância estratégica crucial, para o apoio logístico às Forças Aeroespaciais Russas. A península permite criar uma “bolha” que protege operações militares no Mar Negro e na porção oriental do Mediterrâneo. Especialistas em relações exteriores foram surpreendidos, eles também, com a rapidez com que a Rússia reforçou muito suas capacidades militares na Crimeia.

A evidência de que a península passava a ser parte da Rússia tornou irrelevantes os cenários de “apocalipse” previstos para a Síria. O Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa e Comandante do Comando Europeu dos EUA, general de quatro estrelas Philip Breedlove disse, que com a Crimeia integrada ao território russo “a Rússia desenvolveu muito forte capacidade de defesa com essa área de acesso negado [orig. anti-access area denial (A2/AD)] no Mar Negro”. “Essencialmente, o alcance de seus mísseis cruzadores [antinavios] cobre todo o Mar Negro, e seus mísseis de defesa cobrem 40-50% do Mar Negro,” observou o general. “Estamos um pouco preocupados quanto a uma segunda bolha A2/AD que possa ser criada no Mediterrâneo Oriental”, acrescentou Breedlove.Jeffrey Sachs, economista e especialista em política norte-americana, conselheiro especial do secretário-geral da ONU, entende que “a abordagem atual que os EUA criaram – guerra em dois fronts, contra o Estado Islâmico e o regime do presidente Bashar al-Assad – fracassou miseravelmente”.

Uma estranha união de duas fontes da política externa dos EUA está na raiz da estratégia falhada dos EUA na Síria. Uma compreende o establishment de segurança dos EUA, incluindo os militares, as agências de inteligência e seus apoiadores no Congresso. A outra fonte emerge da comunidade de direitos humanos. Essa fusão peculiar já é evidente em muitas das guerras recentes dos EUA no Oriente Médio e na África. Os resultados têm sido consistentemente devastadores.

O problema, como os militantes dos direitos humanos já deveriam ter aprendido há muito tempo, é que o modelo de mudança de regime inventado no establishment de segurança dos EUA não funciona. Com preocupante frequência leva ao caos, à anarquia, à guerra civil, a crises humanitárias cada dia mais terríveis, exatamente como aconteceu no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e, agora, na Síria. Jeffrey Sachs escreve que “Se os EUA desejam melhores resultados, têm de parar de agir sozinhos. Os EUA nada podem impor unilateralmente, e insistir em tentar só faz pôr outros países poderosos, inclusive China e Rússia, contra os EUA. Como os EUA, a Rússia também tem forte interesse na estabilidade na Síria e em derrotar o chamado ‘Estado Islâmico'; mas a Rússia não tem interesse algum em deixar que os EUA implantem regimes que só os EUA elejam, mais ninguém, na Síria ou em qualquer outro ponto na região.”

EUA e aliados lançaram a operação contra o chamado ‘Estado Islâmico’ (EI) há um ano. Os resultados são espantosos. Depois de 7 mil ataques, o esforço foi-se pelo ralo. O resultado é praticamente o oposto do esperado. Desde que a coalizão anti-EI foi formada, o grupo só avançou e obteve novos territórios, tomou as províncias de Al Anbar e Ramadi no Iraque, as cidades sírias de Deir ez-Zor e Palmyra (a cidade esteve em todos os jornais e televisões há bem pouco tempo), além de outros territórios. Os militares não são os únicos culpados. A maior responsabilidade pesa sobre os políticos.

Os EUA não bombardearam o EI em áreas próximas à linha em que lutam com forças do governo, onde os alvos poderiam ser facilmente identificados por reconhecimento aéreo, porque supuseram que isso ajudaria Assad. Em vez disso, atacaram territórios controlados pelo EI e áreas urbanas onde os militantes misturam-se com civis. Disso resultou número significativo de civis mortos. Na maioria das vezes, a aviação dos EUA atacou infraestrutura do Estado sírio, estradas, pontes etc., empurrando a Síria de volta à Idade da Pedra. É evidente que as forças do governo sírio, equipadas com carros pesados, precisam muito mais de estradas que as formações do EI, mais leves e de alta mobilidade.

A operação lançada pelas Forças Aeroespaciais Russas deu aos militares norte-americanos uma espécie de ímpeto para revisar a situação. O comando começou a considerar um cenário que visaria a estabelecer controle sobre a parte oriental da Síria, incluindo Al-Raqqah, capital do ‘Estado Islâmico’, “para manter-se um passo à frente dos russos”, preparando no Eufrates uma versão invertida do encontro no Rio Elbe (25/4/1945). Mas as chances são zero.

Os EUA excluem a opção de coturnos em solo, sobretudo durante a campanha pré-eleitoral. Há quem defenda o uso de unidades de infantaria de forças locais para lançar uma ofensiva, por exemplo, formações dos curdos sírios. Se pelo menos a Casa Branca conseguisse ver as coisas como são, por um minuto, que fosse, sem o filtro que a sua própria propaganda impõe a todos os fatos e circunstâncias!

Se acontecesse, perceberiam que os curdos jamais deixarão o território que controlam hoje. A única “infantaria” capaz de dar combate ao “Estado Islâmico” em todos os fronts na Síria é o exército regular do Estado sírio. Ninguém estranhou quando Washington deixou sem resposta as várias solicitações do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, para que partilhassem a informação sobre posições do ‘Exército Sírio Livre’.

Os EUA caminharam diretamente para dentro de uma armadilha estratégica. Não importa o que façam, as coisas só podem piorar. Emprestar seu apoio à Rússia nessa luta contra o terrorismo seria atitude de bom senso e a melhor solução para todos. Mas Washington rejeita essa via, porque entende que ameaçaria sua credibilidade no Oriente Médio e fortaleceria a posição de Moscou na região. Cabeças quentes nos EUA e na Arábia Saudita exigem que se unam e armem todos e quaisquer grupos da oposição síria.

Mas para lutarem a favor do quê? A favor do EI, grupo que chocou o mundo com imagens de assassinatos em massa, extermínio de cristãos e destruição de sítios históricos? Nem as mentes mais ousadas da propaganda norte-americana conseguirão jamais mostrar tal aliado sob luz favorável.

Reagindo aos eventos na Síria e à ativa intervenção russa, a Casa Branca ainda tem de levar em conta a opinião pública. Segundo pesquisas, os norte-americanos dificilmente aceitariam que seu país apoiasse ‘oficialmente’ o terrorismo internacional. E esse, precisamente, seria o significado de qualquer tentativa, pelos EUA, para obstruir a ação militar dos russos.

Nesse sentido vale a pena anotar a posição de Donald Trump nome atualmente mais cotado para ser o candidato dos Republicanos à presidência. Dia 29 de setembro, Trump disse ao programa “Today”, da rede NBC: “Concordo com o grupo que diz ‘se a Rússia quer ir e lutar contra o ISIS, deixem que vá’. É o oposto de dizer ‘estamos com ciúmes, não queremos que vocês façam isso.'”

Perguntado sobre sua atitude em relação ao governo sírio, Trump disse em entrevista à rede CNN dia 6 de outubro, que não entende muito bem quem assumiria o lugar de Assad: “Eu, com certeza, gostaria de poder prever como a coisa aconteceria. Gostaria de saber melhor quem são essas pessoas às quais tanto queremos entregar bilhões de dólares. Não temos nenhuma ideia. OK, Assad não é bom sujeito, mas há piores. Quem sabe esses que nós estamos pagando não são ainda piores? Ninguém sabe. Ninguém tem nem ideia.”

Emma Ashford do Cato Institute escreve em artigo na revista Newsweek: “Funcionários dos EUA devem evitar grande intervenção na Síria, onde uma reação emocional irrefletida às ações da Rússia pode ser desastrosa.” Seria tolice aumentar o apoio a grupos extremistas, só porque a Rússia os vê como alvos – o inimigo do meu inimigo nem sempre é meu amigo. A autora oferece solução simples: não ficar no caminho e não atrapalhar os russos.

Talvez essa seja a melhor coisa que os EUA podem fazer, nas atuais circunstâncias. Sem dúvida, Washington não deixará passar nenhuma oportunidade para ‘declarar’ que os pilotos russos não têm treinamento profissional, que os ataques são “indiscriminados” e/ou disparados contra alvos errados… O modo correto de reagir a isso já foi definido. Prioridade total à máxima acuidade e transparência. É mais difícil distorcer alguma coisa, quando os eventos são divulgados em tempo real.

A Crimeia ofereceu experiência valiosa. A reincorporação da Crimeia marcou um ponto de virada no que tenha a ver com a influência da península no pensamento estratégico russo.
A atitude de atores internacionais e a correlação de forças em geral criam condições favoráveis para operação militar russa dentro do conflito sírio.

Nos EUA, o presidente Obama deixou claro que a situação na Síria não escalará para uma chamada guerra “indireta” entre EUA e Rússia. Confronto entre Rússia e União Europeia está fora de questão.

No caso da União Europeia, qualquer movimento para pressionar a Rússia só facilitará os avanços do Estado Islâmico e criará milhões de refugiados, não centenas de milhares como se veem hoje. Vários estados europeus estão em vésperas de eleições. Difícil acreditar que os governos se interessem por oferecer mais guerras aos seus eleitores. Há quem tente culpar a Rússia pela crise dos migrantes na Europa, embora, evidentemente, essa crise seja o preço a pagar pela nenhuma estratégia europeia coerente para o Oriente Médio e sua adesão à política corriqueira de sempre seguir o que os EUA ordenem.

Pequim mostrou claramente seu apoio às ações da Rússia. A China é principal consumidora do óleo e do gás do Oriente Médio. Fontes israelenses correram a noticiar que a Força Aérea e a Marinha chinesas estavam indo juntar-se à operação russa. Noticiou-se que a China enviará jatos de combate J-15 Flying Shark para a Síria e helicópteros Z-18F antissubmarinos, além de helicópteros leves Z-18J. Segundo aqueles relatos, o porta-aviões chinês Liaoning-CV-16 (ex-Varyag) estaria ancorado no porto sírio de Tartus, acompanhado de um míssil cruzador teleguiado. A força aérea chinesa está pronta a prover alguma proteção ao trânsito nas rotas aéreas nos espaços iraniano e iraquiano. Até agora, essa informação não foi confirmada.

Vale mencionar que os veículos de mídia sediados em Hong Kong também noticiaram os mesmos planos, citando suas próprias fontes militares em Pequim. Que há algo no ar, há.

A posição de Telavive é criticamente importante para o sucesso da operação russa. Israel é o único estado regional com potencial militar para complicar as coisas. E está bem próximo do campo de combate na Síria.

Até recentemente, Israel adotara posição ambivalente. Nem apoiava nem fazia oposição a Assad. Estrategistas israelenses calculavam que o melhor resultado para Israel seria uma Síria fragmentada. Para eles, o Estado Islâmico seria movimento de guerrilha que não implicava qualquer ameaça às Forças de Defesa de Israel (Tsahal, o exército de Israel). Parece que Moscou usou com sucesso seus contatos com Telavive, inclusive no mais alto nível, para convencer os israelenses que o Estado Islâmico, sim, usa tecnologia de ponta e é capaz de expandir seu controle para além das fronteiras de um único Estado.

O primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu declarou essa posição sem meias palavras: “Não queremos voltar aos dias quando, vocês sabem, Rússia e Israel estavam em campos opostos. Creio que já alteramos esse relacionamento. E isso, no geral, é bom.” Recusou-se a comentar potenciais consequências da operação russa na Síria. Segundo ele, não sabe se degenerará em escalada nas tensões. Só o tempo dirá.

Importante é notar que o vice-comandante do Exército de Israel Maj.-Gen. Yair Golan reuniu-se com seu contraparte russo, Cor.-Gen. Nikolai Bogdanovski, no quartel-general em Telavive dia 6 de outubro, para iniciarem conversações sobre segurança regional e a presença militar da Rússia na Síria.

A Turquia está preocupada com o novo desdobramento na Síria. Já condenou mostrou e teve reação excessiva e destemperada quando uma aeronave russa entrou acidentalmente em espaço aéreo turco, por alguns minutos. Há muitas razões pelas quais Erdogan não possa fazer muito mais, ainda que queira. Haverá eleições parlamentares dia 1º de novembro, um duro teste para o seu Partido Justiça e Desenvolvimento. Nas eleições passadas, seu partido perdeu a maioria parlamentar e não conseguiu formar governo de coalizão. Dessa vez, as pesquisas não preveem grande sucesso para o partido de Erdogan. Nessas circunstâncias, seria suicídio envolver-se em nova aventura na Síria. Os eleitores turcos percebem perfeitamente o peso do problema dos refugiados. Não há dúvidas de que absolutamente não desejam ver aumentar o fluxo de pessoas em busca de asilo. E projetos econômicos de grande escala e o comércio com a Rússia são importantes para a economia turca.

Os EUA estão frustrados com as forças que apoiaram até aqui e a Turquia está muito preocupada com a intenção de Washington de reorientar seus esforços e passar a apoiar os curdos sírios. O Partido da Unidade Democrática Curda, principal força política, é afiliado do Partido (radical) dos Trabalhadores do Curdistão. Do ponto de vista da Turquia, um sucesso eleitoral do Partido da Unidade Democrática Curda é muito pior do que a possibilidade de Bashar Assad permanecer na chefia do governo. O primeiro-ministro turco Ahmet Dovutoglu afirmou que “Mantemos abertos todos os canais de comunicação com a Rússia. Não me parece que os russos tomem qualquer medida que possa nos preocupar”. Admitiu que a Rússia avisou a Turquia sobre o início da operação militar na Síria. O primeiro-ministro não quis dar detalhes.

A Jordânia não se manifestou sobre planos para obstruir a Rússia. Com a Turquia, a Jordânia também muito fez para agravar a crise síria. A Jordânia hospeda o quartel-general operacional da coalizão dos EUA contra o Estado Islâmico. A oposição que opera no sul da Síria recebe reforços da Jordânia. Mas recentemente, suas atividades tornaram-se significativamente menos intensas. Imediatamente depois dos primeiros ataques das Forças Aeroespaciais Russas, 700 militantes no sul entregaram-se ao governo, mais de 3 mil deixaram os combates e cruzaram de volta a fronteira jordaniana. A Jordânia pode vir a ser a próxima vítima do Estado Islâmico. E está interessada em todos os tipos de cooperação para dizimar o grupo.

Em Beirute, a maioria da população festejou as notícias sobre o início da operação militar russa, com não menos entusiasmo do que se viu em Damasco. O Líbano não conseguiu eliminar de seu território as atividades de grupos armados. Com a ajuda dos russos, o Líbano deseja rearmar-se e, afinal, resolver essa questão. Assim, se se examina o problema com perspectiva mais ampla, vê-se que não só o Hezbollah, mas também o exército libanês regular pode vir a envolver-se diretamente nas ações na Síria.

Falando ao Grupo de Apoio ao Líbano na Assembleia Geral da ONU em New York, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, observou que a Rússia “recentemente assinou acordos complementares para fornecimento de equipamento especializado ao Líbano.”

A coalizão de Rússia-Síria-Irã-Iraque começa a tomar medidas práticas. Por exemplo, dia 7 de outubro, a Rússia disparou mísseis cruzadores, de navios localizados no Mar Cáspio, contra posições do Estado Islâmico. Os mísseis sobrevoaram territórios do Irã e do Iraque, como uma manifestação ‘pública’ de que todos os parceiros da coalização cultivam alto nível de confiança mútua.

É muito improvável que alguma tentativa para separar o Iraque, da coalizão antiterroristas, venha a produzir resultados, por mais que o país ainda dependa muito dos EUA. O mais provável é que amplie a distância que separa Bagdá e Washington. O Iraque sente-se frustrado com tudo que os EUA fizeram em anos recentes, inclusive a (nenhuma) luta contra o Estado Islâmico. O primeiro-ministro do Iraque Haidar Al-Abadi reagiu, recentemente, contra críticas ao acordo para intercâmbio de informações de inteligência assinado entre Iraque, Irã, Síria e Rússia dia 28 de setembro. Disse que, para ele, o Estado Islâmico não poderia ser derrotado sem esse acordo.

A Arábia Saudita é o único ator regional que permanece firme no desígnio de opor-se a atividades dos russos na Síria. Nas atuais circunstâncias, seus recursos são limitados. A principal arma dos sauditas é o petróleo, que já usaram em diferentes situações para servir a interesses de outros países. Essa arma, agora, perdeu efetividade. O exército saudita está atolado no sul do país combatendo, até agora sem grande sucesso, contra insurgentes iemenitas fracamente armados. Nenhuma cooperação declarada é possível entre o Reino Saudita e o Estado Islâmico.

Para Al Baghdadi, que se diz descendente do Profeta Maomé, os reis sauditas não passam de usurpadores sem estirpe. O seu mais caro sonho é ser o libertador de Mecca e Medina. Já quis até destruir a Pedra Negra, no canto oriental da Kaaba, antiga construção de pedra localizada no centro da Grande Mesquita em Mecca. Acredita que venerar um monumento é superstição pagã.

Há quem diga que, apesar da retórica hostil dos sauditas, a emergência da Rússia no Oriente Médio serve bem, em certa medida, aos interesses da Arábia Saudita. Reduz a dependência da Síria, em relação ao Irã xiita, detalhe que assusta muito mais Riad, que a presença militar dos russos.

Qualquer sugestão de que o padrão da intervenção russa no Afeganistão possa repetir-se na Síria brota sempre de comparação superficial. É ideia sem nenhum fundamento. Nenhum dos principais atores profundamente envolvidos nas atividades para obstruir a operação soviética naquele caso têm hoje qualquer interesse em envolver-se seriamente no atual conflito sírio. Alguns deles, China e Irã em particular, aliam-se hoje à Rússia. A operação da recém criada coalizão bloqueará todas as vias pelas quais chegam suprimentos ao Estado Islâmico. Resultado disso, as gangues que constituem o grupo não terão como manter-se por muito tempo.

Como a experiência comprova, à vezes a janela de oportunidade só abre por tempo muito breve. A arte do pensamento estratégico pressupõe a capacidade para ver quando a história está oferecendo uma oportunidade, e colhê-la rapidamente.

Na Síria, Moscou trabalhou com cálculos absolutamente precisos, para estimar o momento de agir. Há quem preveja retumbante fracasso. Analistas mais perspicazes no ocidente pensam de outro modo. E se os russos estiverem corretos? E o que acontecerá se o mundo inteiro se aperceber de como a Rússia e sua coalizão conseguem eliminar a ameaça terrorista que pesa hoje contra a Síria e contra todo o Oriente Médio? OK. Nesse caso, o ocidente passará à posição de devedor, depois de a Rússia cumprir com sucesso missão na qual o ocidente fracassou espetacularmente. *****

Oriente Mídia

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