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domingo, 8 de novembro de 2015

A Alemanha tenta safar-se do conflito sírio

Thierry Meyssan

A Alemanha tenta deixar o papel que lhe atribuíram durante o conflito sírio. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, procura organizar uma reunião cimeira entre grandes potências para negociar a paz. Mas, este projeto será muito difícil de concretizar, quer porque a Alemanha tem uma pesada responsabilidade na guerra, como porque a França persiste em querer destruir a República Árabe Síria.

 | BERLIM (ALEMANHA) 
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Angela Merkel tenta mudar de política no conflito sírio.
Assim que os Estados Unidos partiram para o ataque à Síria, em 2003, eles solicitaram a acção da Alemanha e Israel, antes de confiar a operação ao Reino Unido e à França. Na altura, os serviços secretos alemães participaram ao lado da Mossad no assassinato de Rafik Hariri, providenciando para tal uma arma que eles eram os únicos a possuir [1]. A ideia era provocar uma reação popular anti-síria, depois fazer desembarcar os “Marines” (fuzileiros navais -ndT) para expulsar o «ocupante», de acordo com o plano do Comité Americano para um Líbano Livre e do Fórum do Médio-Oriente, de Daniel Pipes, exposto em Acabar com a ocupação síria do Líbano : o papel dos Estados Unidos(Ending Syria’s Occupation of Lebanon : The U.S. Role) [2]. No entanto a operação falhou porque a Síria, sublinhando que estava militarmente presente no Líbano a pedido da comunidade internacional (Acordos de Taef [3]), evacuou as tropas do país assim que a opinião popular o exigiu nas ruas.

A Alemanha jogou ainda um papel decisivo, junto com Israel, quando o embaixador dos EUA, Jeffrey Feltman, organizou a Comissão Internacional de Inquérito encarregada por Ban Ki-moon de descobrir a verdade. Berlim indicou o antigo procurador (promotor-br) Detlev Mehlis, o qual já havia prestado inacreditáveis serviços à CIA atribuindo um assassinato da Mossad, em Berlim, a Muammar al-Gaddafi, e o antigo comissário de polícia Gerhard Lehmann –-e agente do BND— o qual, aliás, posteriormente foi apanhado envolvido nos crimes cometidos pela CIA nas prisões secretas [4]. Mas, mais uma vez a operação falhou já que, depois de ter acusado os presidentes Emile Lahoud e Bashar el-Assad de terem comanditado o assassínio de Rafik Hariri, a Comissão Mehlis afundou-se no escândalo das falsas testemunhas [5].

A Alemanha envolveu-se também na guerra atual, desta vez ao lado do Reino Unido e da França, ao confiar a presidência da reunião do «Grupo de Trabalho sobre a recuperação económica e o desenvolvimento» dos «Amigos da Síria» a um diplomata de alto nível, Clemens von Goetze. Em junho de 2012, ele dividiu, numa reunião no Abu Dhabi, as riquezas da Síria entre os Estados que concordassem sabotar a Conferência de Genebra. Antes mesmo de terem derrubado a República Árabe da Síria os aliados repartiramm, entre si, as concessões de exploração do seu gaz. O Ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, criou um secretariado permanente, dotado de um orçamento de 600.000 euros, para gerir a pilhagem dos hidrocarbonetos que ele confiou a Gunnar Wälzholz, o qual já tinha actuado de forma idêntica contra o Afeganistão [6].
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Em janeiro de 2015, uma marcha pela tolerância juntava em Berlim responsáveis políticos alemães e líderes muçulmanos como reacção ao atentado contra o “Charlie Hebdo” em Paris. A Srª Merkel desfilou de braços enlaçados com Aiman Mazyek, secretário-geral do Conselho central dos muçulmanos. Muito embora pretenda ter rompido com os Irmãos Muçulmanos, e mantenha um discurso de abertura, o Sr. Mazyek protege no seio da sua organização, a Milli Gorus (a organização supremacista de Recep Tayyip Erdoğan), e os Irmãos Muçulmanos (a matriz das organizações jiadistas, presidida por Mahmoud Ezzat, antigo braço direito de Sayyed Qutob).
Quando a França sabotou a Conferência de Genebra, a Alemanha, uma vez mais, ajudou a concretizar o plano –-concebido já em 2007 por John Negroponte, na altura director da Inteligência Nacional dos E.U.— de guerra de tipo nicaraguense. Tratava-se de multiplicar os grupos terroristas para «sangrar» o país. Ela colocou à disposição a coordenação internacional da Irmandade Muçulmana, sempre presente no seu território, em Aix-la-Chapelle (Aachen -ndT), desde a Guerra Fria. É, actualmente, a partir de lá que a retirada da Ahrar al-Sham, da al-Qaida, do Daesh e de outros é conduzida.

Ora, hoje em dia, o governo Merkel constata a eficácia dos bombardeamentos russos, as hesitações norte-americanas, e a alteração do equilíbrio estratégico internacional. Procura, portanto, retirar-se deste combate perdido e fazer a paz com a Síria. Esta reviravolta corresponderia, obviamente, a uma aproximação muito aguardada –-e tão temida por Washington— entre Berlim e Moscovo.

Esta evolução pode ser apresentada à opinião pública aproveitando a crise dos migrantes. Preparada com um ano de antecedência, a pedido do Patrão da indústria pesada, Ulrich Grillo, e executada pelo Presidente Recep Tayyip Erdoğan, pelo Alto-comissário para os Refugiados, António Guterres, e pelo especulador George Soros, centenas de milhares de pessoas atravessaram os Balcãs para ir trabalhar por tostões na Alemanha [7]. Contudo, a operação foi interrompida com o início da intervenção militar russa, já que os cidadãos Alemães temem que os jiadistas, fugindo dos bombardeios, se misturem com migrantes e refugiados. Desde logo, a população alemã levanta-se contra os estrangeiros porque o Patronato aproveitou a oportunidade para abolir o salário mínimo em vários Estados federais. De repente, a «crise dos refugiados» fornece um possível álibi para uma mudança de política face à Síria.

Seja como for, a reconciliação entre a Alemanha e a Síria vai ser difícil de negociar. O ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo chefe da Inteligência, Frank-Walter Steinmeier, espera poder organizar uma reunião de Tipo 5+1 (como o formato de Viena para o Irão) para resolver o conflito sírio. Mas, a Rússia puxa-o a ser mais ambicioso e a reunir em torno da mesa o Presidente Putin, a Chancelerina Merkel, o Presidente Hollande e o Presidente el-Assad (o formato Normandia, tal como para a Ucrânia).

Thierry MeyssanIntelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Tradução Alva


Oriente Mídia

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