Ao que parece, os antigos responsáveis pela estratégia de políticas públicas de longo prazo imaginaram que um país com 204 milhões de habitantes – e mais de 80 milhões de consumidores – não precisaria pensar no mercado externo, pois seria capaz sozinho de manter indústria em escala. Mas não foi assim. Ainda que, nos últimos anos, milhões de brasileiros tenham entrado no mercado de consumo, é de se lembrar que já são 57,2 milhões aqueles que estão inadimplentes, segundo pesquisa da Serasa Experian. Isso significa que o Brasil sempre esteve longe de constituir um país autossuficiente. E, portanto, não podia (nem pode) fechar os olhos para o mundo.
Em outras palavras: é preciso exportar cada vez mais para que a indústria tenha escala de produção, pois só assim é possível baratear custos para que os produtos nacionais tenham condições de competir no mercado externo, gerando empregos internamente, além de promover a entrada de divisas.
Para tanto, é preciso também ampliar a importação, pois sempre haverá necessidade de fornecimento de insumos para a produção destinada ao mercado externo. Além disso, não se pode pensar apenas em exportar porque nenhum país tem interesse de importar de quem não lhe compra nada. Esse é um caminho de ida e volta.
Na verdade, restringir importações e exportações é seguir célere para um beco sem saída. Ou seja, sair da crise passa obrigatoriamente por ampliar tanto os números da exportação como os da importação. Isso significa que anunciar um saldo positivo na corrente de comércio como se fosse uma conquista não passa de engodo, pois foi obtido à custa da redução das importações e das exportações.
Portanto, adotar uma política econômica voltada para arrecadar e encher os cofres públicos, com a redução de incentivos fiscais como os do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários (Reintegra), que devolve tributos aos exportadores, segue em sentido contrário ao que deve ser feito para que haja maior oferta de emprego, mais gente comprando e melhor distribuição de renda, condenando o País a um atraso que poderá até comprometer as futuras gerações.
Autor: Mauro Lourenço Dias
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